Wilhelm "Wilm" Adalbert Hosenfeld nasceu em
2 de maio de 1895, em Mackenzell, uma pequena vila na Alemanha. Antes de se
tornar conhecido por suas ações durante a Segunda Guerra Mundial, Hosenfeld era
um dedicado professor e diretor de uma escola rural.
Católico fervoroso, ele nutria valores humanitários
que contrastavam com a ideologia nazista, apesar de sua filiação ao Partido
Nazista, que era praticamente obrigatória para manter sua posição profissional
na época.
Durante a guerra, serviu como oficial do exército
alemão (Wehrmacht), alcançando a patente de Hauptmann (equivalente a capitão). Estacionado
em Varsóvia, na Polônia ocupada pelos nazistas, Hosenfeld testemunhou de perto
as atrocidades cometidas contra a população polonesa, especialmente os judeus.
Como oficial responsável por um ginásio de esportes na
cidade, ele usou sua posição para proteger e ajudar diversas pessoas
perseguidas pelo regime de Hitler. Hosenfeld empregava judeus e poloneses em
tarefas administrativas no ginásio, garantindo-lhes documentos falsos e
proteção contra a deportação para campos de concentração.
Suas ações eram extremamente arriscadas, já que
qualquer ajuda aos judeus era considerada traição e punida com a morte pelo
regime nazista. Entre os muitos que ele ajudou, destaca-se o caso do renomado
pianista polonês-judeu Władysław Szpilman, cuja história foi imortalizada no
filme O Pianista (2002), dirigido por Roman Polanski.
Em 1944, durante os últimos meses da ocupação alemã em
Varsóvia, Hosenfeld encontrou Szpilman escondido em um prédio em ruínas. Em vez
de denunciá-lo, ele lhe forneceu comida, cobertores e palavras de
encorajamento, permitindo que Szpilman sobrevivesse até a libertação da cidade
pelas forças soviéticas.
Hosenfeld mantinha um diário onde registrava suas
reflexões sobre a guerra e as atrocidades cometidas pelos nazistas. Ele enviava
essas anotações para sua família na Alemanha por meio do correio militar, um
ato que, se descoberto, poderia tê-lo levado à execução.
Sua última entrada no diário, datada de 11 de agosto
de 1944, revela sua angústia diante da brutalidade da ocupação e sua crítica à
propaganda nazista, que afirmava que os alemães desconheciam os horrores do
Holocausto.
Hosenfeld deixou claro que muitos sabiam da verdade,
mas escolhiam ignorá-la ou justificá-la. Quando as tropas soviéticas libertaram
Varsóvia em janeiro de 1945, Hosenfeld foi capturado pelo Exército Vermelho.
Levado para um campo de prisioneiros na União
Soviética, ele foi interrogado e torturado, pois os oficiais soviéticos
acreditavam que suas histórias sobre salvar judeus e poloneses eram mentiras
inventadas para escapar da punição.
Apesar dos esforços de sobreviventes, como Szpilman,
que tentaram interceder por sua libertação, Hosenfeld permaneceu preso. Ele
sofreu um derrame em cativeiro, o que agravou sua saúde, e faleceu em 13 de
agosto de 1952, em um campo de prisioneiros próximo a Stalingrado (atual
Volgogrado).
Reconhecimento póstumo
Por muitos anos, as ações heroicas de Hosenfeld
permaneceram pouco conhecidas. No entanto, graças aos esforços de Szpilman e
outros sobreviventes, sua história veio à tona.
Em junho de 2009, o Yad Vashem, o memorial oficial de
Israel para as vítimas do Holocausto, reconheceu Hosenfeld postumamente como um
dos Justos entre as Nações, uma honraria concedida a não-judeus que arriscaram
suas vidas para salvar judeus durante o Holocausto. Esse reconhecimento
destacou sua coragem e humanidade em um dos períodos mais sombrios da história.
Contexto histórico e legado
As ações de Hosenfeld ocorreram em um contexto de
extrema violência. A ocupação nazista da Polônia foi marcada pela criação do
Gueto de Varsóvia, onde centenas de milhares de judeus foram confinados em
condições desumanas antes de serem deportados para campos de extermínio como
Treblinka.
A Revolta do Gueto de Varsóvia (1943) e a posterior
Revolta de Varsóvia (1944) intensificaram a repressão nazista, tornando ainda
mais perigoso qualquer ato de resistência ou solidariedade.
Hosenfeld não apenas salvou vidas, mas também desafiou
a narrativa nazista ao documentar as atrocidades em seu diário. Seus escritos
oferecem um testemunho valioso sobre a culpa coletiva e a responsabilidade
moral, mostrando que, mesmo em meio ao horror, era possível escolher a
humanidade.
Sua história, amplificada pelo livro de memórias de
Szpilman e pelo filme O Pianista, serve como um lembrete do impacto que
indivíduos podem ter ao se oporem à injustiça, mesmo sob risco de morte.
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