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sábado, fevereiro 08, 2025

Os Crimes dos Papas - Maurice Lachatre


 

"Os Crimes dos Papas" é uma obra polêmica do autor Maurice Lachatre que se propõe a revelar os aspectos mais sombrios e controversos da história da Igreja Católica, especialmente no que diz respeito aos papas e seus supostos desvios de conduta.

O livro aborda, de forma sensacionalista, uma série de episódios que inclui orgias, crimes e comportamentos que contrastavam fortemente com a imagem tradicional de moralidade e santidade associada aos líderes da Igreja.

Principais Temas Abordados

Escândalos e Orgias: O autor reúne relatos e interpretações de diversos episódios históricos que, segundo a narrativa apresentada, evidenciariam uma faceta de excessos e imoralidade dentro do ambiente papal.

A obra sugere que, por trás da fachada de autoridade espiritual e de reverência, ocorreram práticas de promiscuidade e luxúria que chocariam os padrões éticos e religiosos esperados de seus ocupantes.

Crimes e Corrupção: Além dos escândalos de cunho sexual, o livro também destaca casos de corrupção, intrigas políticas e abusos de poder, crimes por alguns pais.

Essa abordagem visa questionar a integridade da instituição e denunciar possíveis conexões entre o poder e interesses políticos ou financeiros, contribuindo para uma narrativa de impunidade e manipulação dos bastidores do poder eclesiástico.

A Lenda da Mulher Papa – A Suposta “Papa Joana”: Um dos tópicos mais controversos da obra é a história de uma mulher que teria sido eleita papa disfarçada de homem.

Essa narrativa remete à lendária figura de “Papisa Joana”, uma personagem que, segundo alguns relatos medievais, teria ascendido ao papado após esconder sua verdadeira identidade.

Controvérsia Histórica: Embora a lenda de Papisa Joana tenha circulado em vários relatos e crônicas medievais, a maioria dos historiadores contemporâneos considera essa história como uma mistura de mito, lenda e, possivelmente, uma construção ficcional utilizada para criticar a instituição papal.

Uso na Obra: No livro, essa narrativa é apresentada como parte de um conjunto de provas que buscavam evidenciar a existência de uma cultura de segredos e dissimulações dentro do Vaticano, reforçando a ideia de que a aparência de santidade poderia esconder realidades bem diferentes.

Abordagem e Recepção Crítica

A obra se destaca pelo seu tom provocativo e pelo uso de uma narrativa que mistura relatos históricos, documentos antigos (muitas vezes interpretados de forma controversa) e elementos da tradição popular.

Essa combinação visa criar um quadro chocante e instigante, que desafia a visão consensual da história da Igreja e de seus líderes. No entanto, é fundamental destacar que muitas das descrições em "Os Crimes dos Papas" são objeto de debates intensos entre historiadores e especialistas.

Falta de Consenso: Muitos dos episódios relatados, especialmente os que envolvem orgias e crimes de alta magnitude, não contam com o consenso da comunidade acadêmica, tendo críticas quanto à seletividade e à interpretação dos documentos históricos.

Crítica: Assim, embora o livro seja instigante e possa servir como ponto de partida para reflexões sobre a complexa relação entre poder e moralidade na história do Vaticano, ele deve ser lido com cautela e senso crítico, levando em conta que algumas das narrativas podem pertencer mais ao campo da lenda e da especulação do que a fatos comprovados.

Considerações Finais

“Os Crimes dos Papas” se inserem em um gênero literário que busca revelar os bastidores e os segredos de instituições poderosas, propondo uma visão alternativa e muitas vezes chocante da história papal.

Ao abordar temas como orgias, crimes e até mesmo a lenda de uma mulher que teria chegado ao papado disfarçada de homem, o livro convida o leitor a repensar as narrativas oficiais e a reflexão sobre a dualidade entre a imagem de santidade e os supostos excessos e corrupções que marcaram certos momentos da história da Igreja.

Entretanto, dada a natureza controversa das fontes e das interpretações utilizadas, é importante que o leitor se aproxime da obra com uma postura crítica, saiba de que muitas das observações permanecem no campo da especulação e são amplamente contestadas por estudiosos e historiadores.

sexta-feira, fevereiro 07, 2025

Penico de Madame


Bourdaloue: O Penico Feminino do Século XVIII 


O bourdaloue é um penico feminino, tradicionalmente confeccionado em faiança, porcelana e, por vezes, até em prata. Surgido no século XVIII, seu desenvolvimento atendeu às necessidades fisiológicas das damas, que, pela razão dos volumosos vestidos compostos por várias camadas de tecido, enfrentaram dificuldades para utilizar os penicos tradicionais.

Diferentemente dos modelos convencionais, o bourdaloue apresenta um formato mais compacto e anatômico, exigindo apenas uma pequena abertura das pernas para seu uso.

Essa característica permitia que uma mulher utilizasse o dispositivo com descrição e sem necessidade de ajuda, o que era especialmente vantajoso em ambientes públicos ou durante viagens – na Inglaterra, por exemplo, esses penicos eram conhecidos como "penicos de carruagem".

O design do bourdaloue costumava ser retangular ou oval alongado, e em alguns modelos a parte dianteira era elevada, possibilitando que uma mulher urinasse de pé ou agachada com menor risco de erros. Além de garantir maior privacidade, essa configuração contribuiu para reduzir a quantidade de roupa que necessitava de lavagem.

Quanto à origem do nome, uma lenda popular atribuída ao padre católico francês Louis Bourdaloue (1632–1704), cujos sermões longos foram levados as damas da aristocracia a usarem esses penicos discretamente sob suas vestes, evitando a necessidade de interrupção da audiência. Contudo, é provável que essa história seja apenas parte do folclore que envolve o objeto.

Os bourdaloue, amplamente utilizados até meados do século XX – principalmente em áreas rurais –, foram gradualmente substituídos pelo uso crescente de banheiros fornecidos com particulares. Mesmo assim, em alguns países, como a China, onde a população rural é expressiva, tais dispositivos ainda podem ser encontrados.

Uso Moderno

Atualmente, os penicos são empregados quase exclusivamente no treinamento de crianças pequenas, que ainda encontram dificuldades para usar sanitários adaptados ao tamanho de adultos.

Esses modelos, geralmente fabricados em plástico e disponíveis em núcleos vibrantes, auxiliam no processo de aprendizagem.

No Brasil, além do uso infantil, ainda há aplicação de dois tipos específicos de penicos em ambiente hospitalar para pacientes que não podem se levantar do leito: o "papagaio", destinado aos homens, e a "comadre", utilizado pelas mulheres.


quinta-feira, fevereiro 06, 2025

A civilização egípcia


 

A civilização egípcia, uma das mais fascinantes da Antiguidade, surgiu há cerca de 5.000 anos às margens do rio Nilo, no nordeste da África.

Esse rio, essencial para a sobrevivência e o desenvolvimento dos egípcios, proporcionava uma fonte constante de água e fertilidade para a terra, permitindo a prática da agricultura mesmo em um ambiente predominantemente desértico.

O ciclo natural do Nilo era fundamental para a economia e a organização social do Egito Antigo. As cheias anuais traziam sedimentos ricos, tornando o solo fértil e ideal para o cultivo de alimentos como trigo, cevada e diversos vegetais.

Graças a essa abundância, os egípcios puderam não apenas sustentar sua população, mas também criar excedentes agrícolas, o que possibilitou o desenvolvimento do comércio e a consolidação de um governo centralizado.

Além da agricultura, o Nilo influenciava a religião, a cultura e a vida cotidiana dos egípcios. Eles acreditavam que as cheias eram um presente dos deuses, especialmente do deus Hapi, associado à fertilidade do rio.

Essa relação com a natureza refletia-se em suas crenças, rituais e até mesmo na construção de templos e monumentos em homenagem às divindades. Com uma história que se estendeu por cerca de 3.000 anos, o Egito Antigo deixou um legado impressionante, incluindo monumentos grandiosos, como as pirâmides de Gizé, templos imponentes e uma rica tradição artística e literária.

A influência dessa civilização ainda pode ser sentida nos dias de hoje, sendo um dos capítulos mais marcantes da história da humanidade.

quarta-feira, fevereiro 05, 2025

A Banalização da violência


 

A Banalização da violência - O gradual processo de insensibilização decorrente da banalização da violência é preocupante. Chegamos ao ponto de que o bandido e mais valorizado que o policial.

Por sinal, não existe mais bandido e sim “suspeito”, como dizem as manchetes da mídia comprada e doutrinada: “policial reagi a assalto e mata suspeito”.

Na maioria das vezes na audiência de custódia o bandido sai primeiro que o policial que fica dando esclarecimentos sobre as mentiras que o “suspeito” falou.

Quando um bandido mata um policial não existe nenhuma comoção, mas quando é o contrário é uma confusão generalizada. E para complicar a vida do policial, ele agora tem câmeras acoplada ao fardamento.

Como diz Cristopher Lasch, os meios de comunicação em massa facilitam "a aceitação do inaceitável". Eles terminam por amortecer o impacto emocional dos acontecimentos, neutralizando a crítica e os comentários.

A violência ganha cada vez mais ares de normalidade e naturalidade, além de estar alcançando uma crescente "aceitabilidade" social. Nesse governo comunista que tanto o presidente como seus ministros entram em comunidade dominadas por traficante sem nenhum problema, já nos diz a que veio.

A inevitabilidade tem gerado atitudes do tipo: "deixa rolar"; "não tem jeito mesmo"; "super normal"; "deixa assim para ver como é que fica". Quanto ao cidadão que não pode ter uma arma para sua defesa, salve-se como puder ou morra.

Dessa forma, podemos constatar que a saturação de programas violentos provoca perda de sensibilidade, "brutalizando" as pessoas a longo prazo. É o caso da Rede Globo com suas Telenovelas e filmes.

A psicanalista Raquel Soiler alerta que as crianças podem estar sofrendo de "televisiosis". O principal distúrbio desse mal seria uma síndrome de neurose, cujos sintomas são a mania de perseguição, a fobia e a desordem mental.

Cada vez mais é intransferível a responsabilidade dos pais sobre o que seus filhos assistem diariamente na TV.

Nossas escolas hoje são alvo de criminosos a procura de manchetes e certos da impunidade matam inocentes crianças e professores. Não é mais seguro seu filho no ambiente de ensino.

terça-feira, fevereiro 04, 2025

O Estreito de Gibraltar



O Estreito de Gibraltar é um canal natural que conecta o mar Mediterrâneo ao oceano Atlântico, situando-se entre o extremo sul da Espanha e o Marrocos, no noroeste da África.

Esta passagem estratégica desempenha um papel fundamental tanto na geopolítica quanto na ecologia marinha, sendo um dos pontos mais movimentados do tráfego marítimo mundial.

Com uma extensão de 58 quilômetros, o estreito se estreita em sua parte mais angosta, alcançando apenas 13 quilômetros de largura entre a Ponta Marroquina, na Espanha, e a Ponta Cires, no Marrocos.

Suas dimensões variam ao longo de sua extensão, sendo que o extremo oeste tem aproximadamente 43 quilômetros de largura, entre os cabos de Trafalgar, ao norte, e Espartel, ao sul.

No extremo leste, a largura se reduz para 23 quilômetros, situando-se entre as chamadas Colunas de Hércules, que correspondem ao rochedo de Gibraltar, ao norte, e um dos dois picos ao sul: o Monte Hacho, que pertence à Espanha e está localizado próximo à cidade autônoma de Ceuta, ou o Monte Muça, em território marroquino.

O Estreito de Gibraltar também é uma importante feição geológica, sendo parte de uma grande fossa tectônica. Sua profundidade média é de 365 metros, inserida no contexto do arco formado pela cordilheira do Atlas, no norte da África, e pelo alto planalto da Espanha.

Essa profundidade e a interação entre as massas de água do Atlântico e do Mediterrâneo criam correntes marinhas complexas, influenciando a biodiversidade da região.

Histórica e culturalmente, o Estreito de Gibraltar tem sido um ponto de interação entre civilizações ao longo dos séculos. Ele serviu como rota para fenícios, romanos, árabes e europeus, desempenhando um papel crucial na expansão comercial e na disseminação de culturas entre a Europa e a África.

Hoje, além de ser uma via essencial para o comércio global, a região também enfrenta desafios relacionados à imigração, segurança e preservação ambiental.

Dessa forma, o Estreito de Gibraltar permanece como um dos locais mais significativos do mundo, tanto em termos geográficos quanto históricos, conectando continentes, culturas e ecossistemas de maneira única.



 

segunda-feira, fevereiro 03, 2025

Poço de Jacó


 

Poço de Jacó: O mais radical e igualmente mortal local de mergulho do mundo.

Para aqueles que são movidos a fortes emoções e adoram sentir a adrenalina pulsar enquanto estão em meio a uma aventura radical, aqui vai uma dica simplesmente imperdível: visite o Poço de Jacó.

Localizado em Wimberley, no Texas (EUA), o Poço de Jacó é, sem dúvida, um dos lugares mais perigosos do mundo para mergulhadores. Seu nome tem origem em uma referência bíblica, e sua fama não se deve apenas à sua beleza, mas também às histórias sombrias que o cercam.

Até hoje, pelo menos oito mergulhadores perderam a vida explorando suas profundezas traiçoeiras. No entanto, para muitos aventureiros, esse histórico parece apenas aumentar o fascínio pelo local.

Visto da superfície, o Poço de Jacó parece inofensivo, com apenas quatro metros de largura e águas aparentemente tranquilas. No entanto, essa aparência engana: abaixo da superfície esconde-se um labirinto de câmaras subaquáticas que representam desafios extremos e fatais para aqueles que ousam explorá-las.

As Quatro Câmaras Mortais

O poço possui quatro câmaras que se estendem a vários metros abaixo da superfície, cada uma com desafios próprios:

Primeira Câmara: A primeira câmara é uma queda em linha reta de aproximadamente 30 metros de profundidade. Ela recebe luz solar suficiente para manter algas e alguma vida selvagem, tornando-se a parte mais acessível do poço.

Segunda Câmara: Muito mais profunda que a primeira, essa câmara atinge cerca de 80 metros. Aqui está um dos maiores perigos do Poço de Jacó: uma falsa saída que, na verdade, é uma armadilha mortal para mergulhadores inexperientes e até mesmo os mais experientes.

Terceira Câmara: Para acessar essa câmara, é preciso passar por uma pequena abertura na segunda câmara. A profundidade aumenta, assim como o perigo. A entrada para a quarta câmara é ainda mais apertada e claustrofóbica.

Quarta Câmara - "A Caverna Virgem": Considerada a mais perigosa de todas, essa câmara tem uma passagem extremamente estreita e quase inacessível. No fundo, há uma pequena fenda que parece não ter fim. Tão traiçoeira que até mergulhadores profissionais que tentaram explorá-la não conseguiram sair com vida.

Tragédias e Mistérios

A última vítima conhecida do Poço de Jacó foi Wayne Madeira Russell, um carteiro de Austin e mergulhador experiente. Infelizmente, mesmo com sua experiência, ele estava completamente despreparado para os desafios extremos do local.

Apesar dos riscos, o poço continua a atrair muitos mergulhadores e entusiastas do mundo aquático. Para os cientistas, ele é um objeto de estudo fascinante, especialmente por sua formação geológica e ecossistema subaquático.

David Baker, um fazendeiro local, descreveu o Poço de Jacó de forma poética: "O Poço de Jacó é a essência da vida, criado pela água ao longo de milhares de anos. Mas também é um grande mistério, envolto em mitologia. Alguns se assustam com isso, enquanto outros são irresistivelmente atraídos pelo desconhecido."

Seja para admirá-lo da superfície ou para se aventurar em suas profundezas, o Poço de Jacó continua a ser um dos locais de mergulho mais fascinantes e letais do mundo.

domingo, fevereiro 02, 2025

Pense nisso!



Muitos nascem e morrem no mesmo dia. Alguns, na mesma semana, no mesmo mês, no mesmo ano. Poucos vivem um século. Outros nascem e morrem dentro do mesmo século.

Há aqueles que nasceram em um século e avançaram para o seguinte. Mas o que dizer dos que atravessaram não apenas um século, mas também um milênio?

Albert Einstein, Friedrich Nietzsche, William Shakespeare, Michelangelo… Uma infinidade de grandes nomes - filósofos, cientistas, pintores, escritores - não tiveram esse privilégio.

Amigos, nós tivemos. Para muitos, isso pode parecer insignificante, mas eu considero algo extraordinário.

Que ser humano, nascido neste milênio, poderia dizer que fez o que fizemos? Impossível!

Alguns que atravessaram essa transição já se foram, mas tiveram o privilégio de vivenciar duas viradas. Nós ainda estamos aqui, firmes e fortes.

Hoje, estou no ano 25 de um novo século e de outro milênio! Não sonho com a virada de mais um milênio, mas por que não sonhar com a virada de mais um século?

Morreria com apenas 145 anos. Ainda jovem.

 Francisco Silva Sousa

sábado, fevereiro 01, 2025

Jesus Voltando


Jesus Voltando - Quando o século XV dava lugar ao XVI, Jesus voltou. Reapareceu na Espanha, nas ruas de Sevilha.

Nenhuma fanfarra saudou seu advento, nem coros de anjos, nem espetáculos sobrenaturais, nem extravagantes fenômenos meteorológicos.

Ao contrário, ele chegou "de mansinho" e "sem ser visto". No entanto, vários passantes o reconheceram, sentiram uma irresistível atração para ele, cercaram-no, amontoaram-se à sua volta, seguiram-no.

“Jesus andou com toda modéstia entre eles, um suave sorriso de inefável misericórdia” nos lábios, estendeu-lhes as mãos, concedeu-lhes sua bênção; e um velho na multidão, cego de infância, milagrosamente recuperou o dom da visão.

A multidão chorou e beijou o chão a seus pés, enquanto crianças jogavam flores à sua frente, cantavam e erguiam as vozes em hosanas.

Nos degraus da catedral, um préstito em prantos conduzia para dentro um caixãozinho aberto.

Em seu interior, quase escondida pelas flores, jazia uma criança de sete anos, filha única de um cidadão importante.

Exortada pela multidão, a mãe enlutada voltou-se para o recém-chegado e implorou-lhe que trouxesse de volta à vida a menina morta.

O cortejo fúnebre parou, e o caixão foi deposto aos pés dele nos degraus da catedral.

 - Levanta-te, donzela! Ele ordenou em voz baixa, e a menina logo se pôs sentada, olhando em volta e sorrindo, os olhos arregalados de espanto, ainda a segurar o buquê de rosas brancas que fora colocado em suas mãos.

 Esse milagre foi testemunhado pelo cardeal e Grande Inquisidor da cidade, quando passava com seu séquito de guarda-costas “um velho”, de quase noventa anos, alto e empertigado de estatura, com uma cara enrugada e olhos muito fundos, nos quais, no entanto, ardia ainda um brilho de luz.

Tal era o terror que ele inspirava que a multidão, apesar das circunstâncias extraordinárias, caiu em deferente silêncio e abriu-se para dar-lhe passagem.

Tampouco alguém ousou interferir quando, por ordem do velho prelado, o recém-chegado foi sumariamente preso pelos guarda-costas e levado para a prisão.

Esta é a abertura da Parábola do Grande Inquisidor, de Feodor Dostoievski, uma narrativa mais ou menos independente, de vinte e cinco páginas, embutida nas oitocentas e tantas de Os Irmãos Karamazov, romance publicado pela primeira vez em fascículos numa revista de Moscou em 1879 e 1880.

O verdadeiro significado da parábola está no que vem depois do dramático prelúdio. Pois o leitor espera, claro, que o Grande Inquisidor fique devidamente horrorizado ao saber da verdadeira identidade do seu prisioneiro. Não é isso, porém, que acontece.

Quando ele visita Jesus na cela, está claro que sabe muitíssimo bem quem é o prisioneiro; mas esse conhecimento não o detém.

Durante o prolongado debate filosófico que se segue, o velho permanece inflexível em sua posição. Nas escrituras, Jesus é tentado pelo demônio no deserto com a perspectiva de poder, autoridade.

Desde que Os Irmãos Karamazov foi publicado e traduzido, o Grande Inquisidor de Dostoievski gravou-se em nossa consciência como a imagem e a encarnação definitivas da Inquisição.

Podemos compreender o agônico dilema do velho prelado. Podemos admirar a complexidade de seu caráter.

Podemos até mesmo respeitá-lo pelo martírio pessoal que está disposto a aceitar, sua autocondenação à perdição, em nome de uma instituição que considera maior que ele próprio.

Também podemos respeitar seu realismo secular e a compreensão brutalmente cínica por trás dele, a sabedoria mundana que reconhece o mecanismo e a dinâmica do poder mundano.

Alguns de nós bem podem se perguntar se - estando na posição dele e com suas responsabilidades não seriam impelidos a agir como ele.

Mas apesar de toda tolerância, da compreensão, talvez da simpatia e perdão que consigamos angariar para esse homem, não podemos escapar à consciência de que ele é, por qualquer padrão moral honesto, intrinsecamente mau e que a instituição que representa é culpada de uma monstruosa hipocrisia.

Até onde é exato, representativo, o retrato pintado por Dostoievski? Em que medida a figura na parábola reflete com justeza a instituição histórica real?

E se a Inquisição, personificada pelo velho prelado de Dostoievski, pode de fato ser equiparada ao demônio, em que medida pode essa equiparação ser estendida à Igreja como um todo?

Para a maioria das pessoas hoje, qualquer menção à Inquisição sugere a Inquisição da Espanha. Ao buscar uma instituição que refletisse a Igreja Católica como um todo, também Dostoievski invocou a Inquisição na Espanha.

Mas a Inquisição, como existiu na Espanha e em Portugal, foi única desses países e tinha de prestar contas, na verdade, pelo menos tanto à Coroa quanto à Igreja.

Isso não pretende sugerir que a Inquisição não existiu e atuou em outras partes. Existiu e atuou, sim.

Mas a Inquisição papal ou romana como foi conhecida a princípio informalmente, depois oficialmente diferiu daquela da Península Ibérica.

Ao contrário de suas correspondentes ibéricas, a papal ou romana não tinha de prestar contas a nenhum potentado secular.

Atuando por toda a maior parte do resto da Europa, só tinha aliança com a Igreja. Criada no início do século treze, pré-datou a Inquisição espanhola em cerca de 250 anos.

Também durou mais que as correspondentes ibéricas. Enquanto a Inquisição na Espanha e Portugal se achava extinta na terceira década do século dezenove, a papal ou romana sobreviveu.

Existe e continua ativamente em função até mesmo hoje. Mas o faz sob um nome novo, menos emotivo e estigmatizado.

Com seu atual título desinfetado de Congregação para a Doutrina da Fé, ainda desempenha um papel de destaque na vida de milhões de católicos por todo o globo.

Seria um erro, porém, identificar a Inquisição com a Igreja como um todo. Não são a mesma instituição. Por mais importante que a Inquisição tenha sido, e continue a ser no mundo do catolicismo romano, permanece apenas como um aspecto da Igreja.

Houve e ainda há muitos outros aspectos, que nem todos merecem o mesmo opróbrio. Este livro é sobre a Inquisição em suas várias formas, como existiu no passado e existe hoje. Se ela surge sob uma luz dúbia, essa luz não precisa necessariamente estender-se à Igreja em geral.

Em sua origem, a Inquisição foi produto de um mundo brutal, insensível e ignorante. Assim, o que não surpreende, foi ela própria brutal, insensível e ignorante. E não o foi mais do que inúmeras outras instituições da época, espirituais e temporais.

Tanto quanto essas outras instituições fazem parte de nossa herança coletiva. Não podemos, portanto, simplesmente repudiá-la e descartá-la. Devemos enfrentá-la, reconhecê-la, tentar compreendê-la em todos os seus excessos e preconceitos, e depois integrá-la numa nova totalidade.

Meramente lavar as mãos em relação a ela equivale a negar alguma coisa em nós mesmos, em nossa evolução e desenvolvimento como civilização uma forma, na verdade, de automutilação.

Não podemos ter a presunção de emitir julgamento sobre o passado segundo critérios do que é politicamente correto em nosso tempo. Se tentarmos fazer isso, descobriremos que todo o passado é culpado. Então ficaremos apenas com o presente como base para nossas hierarquias de valor; e quaisquer que sejam os valores que abracemos, poucos de nós serão tolos o bastante para louvar o presente como algum tipo de ideal último.

Muitos dos piores excessos do passado foram causados por indivíduos que agiam com o que, segundo o conhecimento e moral da época, julgavam as melhores e mais dignas das intenções.

Seria precipitado imaginar como infalíveis nossas próprias intenções dignas. Seria precipitado imaginar essas intenções incapazes de produzir consequências desastrosas como aquelas pelas quais condenamos nossos antecessores.

A Inquisição às vezes cínica e venal, às vezes maniacamente fanática em suas intenções supostamente louváveis na verdade pode ter sido tão brutal quanto a época que a gerou.

Deve-se repetir, no entanto, que não pode ser equiparada à Igreja como um todo.

E mesmo durante seus períodos de mais raivosa ferocidade, a Inquisição foi obrigada a lutar com outras faces, mais humanas, da Igreja com as ordens monásticas mais esclarecidas, com ordens de frades como a dos franciscanos, com milhares de padres, abades, bispos e prelados individuais de categoria superior, que tentavam sinceramente praticar as virtudes tradicionalmente associadas ao cristianismo.

E não se deve esquecer a energia criativa que a Igreja inspirou na música, pintura, escultura e arquitetura que representa um contraponto para as fogueiras e câmaras de tortura da Inquisição.

No último terço do século dezenove, a Igreja foi obrigada a abrir mão dos últimos vestígios de seu antigo poder secular e político. Para compensar essa perda, buscou consolidar seu poder espiritual e psicológico, exercer um controle mais rigoroso sobre os corações e mentes dos fiéis.

Em consequência disso, o papado se tornou cada vez mais centralizado; e a Inquisição se tornou cada vez mais a voz definitiva do papado. É nessa condição que “re-rotulada de Congregação para a Doutrina da Fé funciona hoje”.

Mas mesmo agora, a Inquisição não impõe de todo a sua vontade. Na verdade, sua posição é cada vez mais assediada, à medida que católicos em todo o mundo adquirem o conhecimento, a sofisticação e a coragem de questionar a autoridade de seus pronunciamentos inflexíveis.

Certamente que houve e, pode-se bem dizer, ainda há Inquisidores dos quais a parábola de Dostoievski oferece um retrato preciso. Em alguns lugares e épocas, esses indivíduos podem de fato ter sido representantes da Inquisição como instituição. Isso, porém, não faz deles necessariamente uma acusação à doutrina cristã que em seu zelo buscaram propagar.

Quanto à própria Inquisição, os leitores deste livro bem podem constatar que foi uma instituição ao mesmo tempo melhor e pior que a descrita na parábola de Dostoievski.

Michael Baigent e Richard Leigh – A Inquisição