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segunda-feira, dezembro 15, 2025

Masabumi Hosono: O Único Japonês no Titanic que Sobreviveu e Foi Julgado por Isso


 

Masabumi Hosono (1870-1939) é lembrado hoje como um dos sobreviventes mais injustamente julgados do naufrágio do RMS Titanic, ocorrido na noite de 14 para 15 de abril de 1912. Funcionário do Ministério dos Transportes do governo japonês, ele era o único passageiro japonês a bordo do navio.

Após uma missão de dois anos na Rússia, onde estudou o sistema ferroviário estatal, Hosono embarcara no Titanic em Southampton, como passageiro de segunda classe, ansioso para retornar à família em Tóquio.

Na noite da tragédia, acordado por um comissário, Hosono tentou acessar o convés dos botes salva-vidas, mas foi barrado por tripulantes que, confundindo-o com um passageiro de terceira classe devido à sua aparência estrangeira, o mandaram para os decks inferiores.

Apesar disso, ele conseguiu subir novamente e testemunhou o caos: sinalizadores iluminando o céu, gritos de pânico e botes sendo lançados. Em sua carta à esposa, escrita em papel timbrado do Titanic e completada no navio de resgate Carpathia, Hosono descreveu o dilema interno:

"Eu me afundei em pensamentos desolados de que não veria mais minha amada esposa e filhos, pois não havia alternativa senão compartilhar o destino do Titanic".

Ele se preparou para morrer com dignidade, decidindo "não deixar nada de vergonhoso como súdito japonês". No entanto, ao ver o bote salva-vidas número 10 (um dos últimos a ser baixado) com vagas disponíveis, ouviu um oficial gritar "Espaço para mais dois!".

Um homem saltou primeiro, e Hosono, impulsionado pelo instinto de sobrevivência, o seguiu: "O exemplo do primeiro homem me levou a aproveitar essa última chance".

Resgatado pelo Carpathia, Hosono sobreviveu, mas sua história tomou um rumo trágico ao retornar ao Japão. Influenciada pelo ideal ocidental de "mulheres e crianças primeiro" - popularizado no Japão pelo livro Self-Help do escocês Samuel Smiles -, a sociedade da era Meiji via a sobrevivência de um homem adulto como covardia, especialmente quando tantas mulheres e crianças pereceram.

A imprensa japonesa o rotulou de covarde, ele foi demitido do cargo público (embora posteriormente recontratado em regime parcial), e sofreu ostracismo social conhecido como mura hachibu. Seu caso foi citado em livros escolares como exemplo de comportamento vergonhoso, e até um professor de ética o denunciou publicamente como imoral.

O estigma persistiu por décadas: em 1954, quando outro navio japonês afundou, Hosono foi novamente vilipendiado pela mídia. Ele morreu em 1939, aos 68 anos, carregando o peso de se sentir uma desgraça para a família e o país. Somente na década de 1990, com o renovado interesse pelo Titanic impulsionado pelo filme de James Cameron (1997), a família Hosono divulgou publicamente sua carta detalhada.

O documento revelou um homem atormentado pelo dilema entre dever patriótico e amor familiar, ajudando a remar o bote e sofrendo com os gritos dos afogando. Seu neto, o músico Haruomi Hosono (membro da banda Yellow Magic Orchestra), declarou aliviado:

"A honra foi restaurada aos Hosono". Hoje, a história de Masabumi é vista como um exemplo de injustiça cultural, destacando como valores importados do Ocidente colidiram com expectativas sociais, punindo um sobrevivente por simplesmente escolher viver.

Sua carta permanece como um dos relatos mais humanos e comoventes da tragédia, escrita parcialmente no próprio papel do navio condenado.

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