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domingo, janeiro 05, 2025

O Homem Maduro


 

“Dizem que o tempo faz o homem amadurecer. Eu não acredito nisso. O tempo torna o homem mais medroso, e o medo torna-o conciliador, e, ao ser conciliador, procura aparecer perante os outros de forma que o acreditem maduro.

E como o medo vem a necessidade de afeto, de algum calor humano para se proteger do frio do universo. Quando falo de medo, não me refiro simplesmente, nem em particular, ao medo pessoal: o medo da morte, da decrepitude, da penúria ou qualquer outra tristeza puramente mundana.

Penso num medo mais metafísico, um medo que penetra na alma através da experiência dos piores homens a que a vida nos submete: a traição dos amigos, a morte daqueles que amam, a descoberta da crueldade que se agasalha no comum das pessoas. (Bertrand Russel)”

O texto de Bertrand Russell traz uma reflexão profunda sobre o papel do tempo no desenvolvimento humano, desafiando a noção comum de que o tempo, por si só, conduz ao amadurecimento.

Para o autor, o que o tempo realmente faz é alimentar o medo, um sentimento que molda o comportamento humano de forma significativa. Esse medo não é meramente o temor pessoal de infortúnios ou do fim da vida, mas um medo existencial mais profundo, que surge das experiências dolorosas e universais da traição, da perda e da percepção da crueldade existente à condição

Russell argumenta que, com o tempo, o homem se torna mais conciliador, não por sabedoria, mas por necessidade de segurança e conforto emocional. Esse comportamento de conciliação e busca por aprovação dos outros é confundido com maturidade, mas, na visão do autor, é uma resposta ao medo que se instala com o passar dos anos.

Essa perspectiva oferece um contraste poderoso à ideia de que o envelhecimento traz necessariamente um crescimento interior específico, indicando, ao contrário, que ele pode levar a uma maior vulnerabilidade emocional

Outro ponto central da reflexão de Russell é o conceito de um medo "metafísico" - um medo que transcende preocupações práticas e toca a essência do ser humano.

As experiências mais devastadoras da vida, como a traição e a perda de entes queridos, têm o poder de mudar a percepção do mundo e das pessoas, revelando uma face cruel e desumana que pode minar o individuo.

Em suma, o texto questiona a associação automática entre tempo e maturidade, destacando o papel do medo como um fator determinante nas transformações da vida adulta.

A mensagem de Russell provoca uma reflexão sobre como lidamos com a passagem do tempo e os efeitos das experiências dolorosas, lembrando-nos de que o verdadeiro amadurecimento talvez não dependa do tempo, mas da maneira como enfrentamos os medos mais profundos e as verdades mais difíceis da vida.

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