“Dizem que o tempo faz o
homem amadurecer. Eu não acredito nisso. O tempo torna o homem mais medroso, e
o medo torna-o conciliador, e, ao ser conciliador, procura aparecer perante os
outros de forma que o acreditem maduro.
E como o medo vem a
necessidade de afeto, de algum calor humano para se proteger do frio do
universo. Quando falo de medo, não me refiro simplesmente, nem em particular,
ao medo pessoal: o medo da morte, da decrepitude, da penúria ou qualquer outra
tristeza puramente mundana.
Penso num medo mais
metafísico, um medo que penetra na alma através da experiência dos piores
homens a que a vida nos submete: a traição dos amigos, a morte daqueles que
amam, a descoberta da crueldade que se agasalha no comum das pessoas. (Bertrand
Russel)”
O texto de Bertrand Russell
traz uma reflexão profunda sobre o papel do tempo no desenvolvimento humano,
desafiando a noção comum de que o tempo, por si só, conduz ao amadurecimento.
Para o autor, o que o tempo
realmente faz é alimentar o medo, um sentimento que molda o comportamento
humano de forma significativa. Esse medo não é meramente o temor pessoal de
infortúnios ou do fim da vida, mas um medo existencial mais profundo, que surge
das experiências dolorosas e universais da traição, da perda e da percepção da
crueldade existente à condição
Russell argumenta que, com
o tempo, o homem se torna mais conciliador, não por sabedoria, mas por
necessidade de segurança e conforto emocional. Esse comportamento de
conciliação e busca por aprovação dos outros é confundido com maturidade, mas,
na visão do autor, é uma resposta ao medo que se instala com o passar dos anos.
Essa perspectiva oferece um
contraste poderoso à ideia de que o envelhecimento traz necessariamente um
crescimento interior específico, indicando, ao contrário, que ele pode levar a
uma maior vulnerabilidade emocional
Outro ponto central da
reflexão de Russell é o conceito de um medo "metafísico" - um medo
que transcende preocupações práticas e toca a essência do ser humano.
As experiências mais devastadoras
da vida, como a traição e a perda de entes queridos, têm o poder de mudar a
percepção do mundo e das pessoas, revelando uma face cruel e desumana que pode
minar o individuo.
Em suma, o texto questiona
a associação automática entre tempo e maturidade, destacando o papel do medo
como um fator determinante nas transformações da vida adulta.
A mensagem de Russell provoca uma reflexão sobre como lidamos com a passagem do tempo e os efeitos das experiências dolorosas, lembrando-nos de que o verdadeiro amadurecimento talvez não dependa do tempo, mas da maneira como enfrentamos os medos mais profundos e as verdades mais difíceis da vida.
0 Comentários:
Postar um comentário