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domingo, setembro 08, 2024

Roque Santeiro


 

Roque Santeiro é uma icônica telenovela brasileira, considerada uma das maiores produções da Rede Globo e um marco na teledramaturgia nacional. A trama foi baseada na peça O Berço do Herói, escrita por Dias Gomes em 1965, que, por sua vez, já havia inspirado uma primeira versão da novela em 1975, censurada pelo regime militar antes de sua estreia.

A versão definitiva, exibida entre 24 de junho de 1985 e 22 de fevereiro de 1986, no horário das 20 horas, contou com 209 capítulos e conquistou o público com sua mistura de crítica social, humor, sátira política e elementos de realismo fantástico.

O roteiro da telenovela foi assinado por Dias Gomes e Aguinaldo Silva, com a colaboração de Marcílio Moraes e Joaquim Assis. Dias Gomes escreveu os capítulos iniciais (1 a 51) e do 162 até o final, enquanto Aguinaldo Silva foi responsável pelos capítulos 52 a 161, sempre respeitando a essência da obra original de Gomes.

A direção ficou a cargo de Gonzaga Blota, Paulo Ubiratan, Marcos Paulo e Jayme Monjardim, com direção geral de Paulo Ubiratan e gerência de produção de Carlos Henrique de Cerqueira Leite.

A combinação de um texto afiado, direção competente e produção caprichada resultou em uma novela que marcou época.

O elenco de Roque Santeiro era estelar, reunindo alguns dos maiores nomes da televisão brasileira. José Wilker brilhou no papel-título, interpretando o mítico Roque Santeiro, um homem comum transformado em lenda após ser dado como morto.

Ao seu lado, Regina Duarte deu vida à viúva Porcina, uma figura carismática e ambígua, enquanto Lima Duarte encarnou o inesquecível Sinhozinho Malta, um fazendeiro poderoso e carismático.

Outros destaques incluíram Yoná Magalhães, Ary Fontoura, Waldyr Sant’anna, Regina Dourado, Eloísa Mafalda, Armando Bógus, Lucinha Lins, Fábio Jr., Lídia Brondi, Cláudio Cavalcante, Rui Rezende, Cássia Kis, Ewerton de Castro, Patrícia Pillar, Paulo Gracindo, Wanda Kosmo, Arnaud Rodrigues, Maurício do Valle, Luiz Armando Queiroz e Lilian Lemmertz, todos em atuações memoráveis que enriqueceram a trama.

A história se passa na fictícia cidade de Asa Branca, onde a suposta morte de Roque Santeiro, um jovem que teria morrido defendendo a população, cria um mito alimentado por interesses políticos, religiosos e econômicos.

A novela aborda temas como falsos milagres, corrupção, luta pelo poder, traição, injustiça social e fanatismo religioso, tudo embalado por um humor ácido e inteligente.

A crítica à sociedade brasileira, com suas contradições e desigualdades, é feita de forma brilhante, misturando elementos de comédia e drama.

Personagens como a viúva Porcina, com seu passado inventado, e Sinhozinho Malta, com sua mistura de charme e autoritarismo, tornaram-se ícones culturais, enquanto bordões como “Tô certo ou tô errado?” entraram para o imaginário popular.

Na minha opinião, Roque Santeiro é a melhor telenovela já produzida pela Rede Globo. Sua capacidade de entreter enquanto provoca reflexões sobre a sociedade brasileira é incomparável.

A trama soube equilibrar humor, crítica social e emoção, criando uma narrativa envolvente que conquistou milhões de telespectadores. Em 2016, a revista Veja elegeu Roque Santeiro como a terceira melhor telenovela brasileira de todos os tempos, ficando atrás apenas de Avenida Brasil (2012) e Vale Tudo (1988), o que reforça sua relevância e qualidade.

Um episódio pessoal marcante ocorreu durante a exibição da novela. Na época, eu estava em Juazeiro do Norte, no Ceará, a trabalho. Em um dia triste, José Wilker, que era natural da cidade, retornou para se despedir de sua avó, que havia falecido.

A presença do ator, que vivia o auge da fama como Roque Santeiro, causou grande comoção. As proximidades da residência da família de Wilker ficaram lotadas, e a cidade parecia pulsar de forma diferente.

Era como se, por um dia, a popularidade de José Wilker tivesse ofuscado até mesmo a figura de Padre Cícero, o lendário “Padim Ciço”, tão reverenciado na região.

A passagem de Wilker por Juazeiro do Norte reforçou o impacto cultural da novela, que parecia transcender a televisão e se entrelaçar com a vida real.

Além disso, Roque Santeiro também foi um fenômeno de audiência, alcançando picos de mais de 60 pontos no Ibope, números impressionantes para a época.

A novela inspirou debates, análises acadêmicas e até releituras em outras mídias, como minisséries e adaptações teatrais. Sua trilha sonora, com músicas como “Dona” de Roupa Nova, tornou-se um clássico, evocando nostalgia até hoje.

O sucesso da trama também abriu portas para outras produções que exploraram o realismo fantástico e a crítica social, consolidando o gênero na teledramaturgia brasileira.

Em resumo, Roque Santeiro não foi apenas uma novela, mas um fenômeno cultural que capturou o espírito de uma época, misturando humor, crítica e emoção de forma magistral.

Sua relevância perdura, e a obra continua sendo referência para produtores, roteiristas e amantes da televisão brasileira.

1 Comentários:

Anônimo disse...

Saudade desta novela