Propaganda

segunda-feira, setembro 09, 2024

Mauricio do Valle - Grandes Papéis no Cinema e na TV




Maurício do Valle, nascido no Rio de Janeiro em 1º de março de 1928 e falecido na mesma cidade em 7 de outubro de 1994, foi um dos atores brasileiros mais versáteis e marcantes de sua geração.

Com uma carreira que abrangeu cinema, teatro e televisão, ele deixou um legado inesquecível, especialmente por sua presença carismática e pela capacidade de transitar entre papéis dramáticos, cômicos e até mesmo vilanescos.

Início no Cinema e na Televisão

A trajetória de Maurício do Valle no mundo artístico começou de forma quase casual, no início da década de 1950, quando respondeu a um anúncio de jornal que buscava extras para o filme Tudo Azul (1951), dirigido por Moacyr Fenelon.

Essa oportunidade abriu as portas do cinema, onde ele rapidamente se destacou pela expressividade e pelo porte físico imponente, características que o tornaram uma figura recorrente nas telas brasileiras.

Na televisão, seu primeiro papel de destaque veio no final dos anos 1950, em um teleteatro da TV Tupi, onde contracenou com Fernanda Montenegro na adaptação de A Dama das Camélias.

No papel do galã Armand Duval, Maurício demonstrou sua versatilidade, conquistando o público com uma atuação sensível e marcante. Esse trabalho inicial na TV foi apenas o começo de uma carreira prolífica no meio.

Consagração no Cinema com Glauber Rocha

Maurício do Valle alcançou reconhecimento internacional ao interpretar o icônico Antônio das Mortes, o caçador de cangaceiros, nos filmes Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969), ambos dirigidos por Glauber Rocha.

Essas obras-primas do Cinema Novo brasileiro destacaram seu tipo rústico, com gestos dramáticos e uma presença magnética que capturava a essência do sertão brasileiro.

O personagem Antônio das Mortes se tornou um marco na história do cinema nacional, simbolizando a complexidade de um Brasil dividido entre tradição e modernidade.

A crítica elogiou sua interpretação, que misturava força bruta e uma inesperada profundidade emocional. Apesar de ser reconhecido por papéis de homens durões, Maurício do Valle se descrevia como um "grande romântico".

Essa dualidade entre sua imagem pública e sua personalidade introspectiva adicionava camadas aos personagens que interpretava, tornando suas atuações ainda mais ricas.

Carreira na Televisão: Novelas e Minisséries

Na televisão, Maurício consolidou sua carreira com papéis memoráveis em novelas e minisséries. Um de seus primeiros grandes sucessos foi na novela Meu Pedacinho de Chão (1971), escrita por Benedito Ruy Barbosa, com quem ele desenvolveria uma parceria duradoura.

Outros trabalhos com o autor incluíram Cabocla (1979) e Pé de Vento (1980), exibida pela Rede Bandeirantes. Sua habilidade em dar vida a personagens rurais e autênticos o tornou uma escolha natural para produções que exploravam o universo do interior brasileiro.

Além disso, Maurício participou de clássicos da TV brasileira, como O Tempo e o Vento (1967) na TV Excelsior, A Última Testemunha (1968) na TV Record, Jerônimo (1972) na TV Tupi e Rosa Baiana (1981) na Rede Bandeirantes.

Na Rede Globo, ele brilhou como o Gigante no infantil Sítio do Pica-Pau Amarelo, encantando gerações de espectadores, e como o Delegado Feijó na icônica novela Roque Santeiro (1985), de Dias Gomes, onde sua atuação trouxe humor e autoridade ao personagem.

Também participou de seriados como Carga Pesada e de episódios do programa interativo Você Decide, além de especiais como Alice e O Segredo da Arte da Palavra.

Na Rede Manchete, Maurício do Valle marcou presença em produções de grande impacto, como as minisséries A Rainha da Vida (1987) e Escrava Anastácia (1990), além das novelas Kananga do Japão (1989), Pantanal (1990) e A História de Ana Raio e Zé Trovão (1990), onde interpretou o carismático Cabeção.

Esta última novela foi reprisada pelo SBT em 2010, permitindo que novas gerações descobrissem seu talento.

Presença nos Trapalhões e Outros Trabalhos

Maurício também se destacou como coadjuvante em produções cômicas, especialmente no programa Os Trapalhões, onde frequentemente interpretava vilões com um toque de humor exagerado.

Nos filmes do grupo, como Os Trapalhões e o Mágico de Oróz (1984), ele viveu o Coronel Ferreira, um antagonista que se tornou memorável pela química com os humoristas.

Sua participação no Chico Anysio Show na década de 1980 reforçou sua versatilidade, mostrando que ele podia transitar com facilidade entre o drama e a comédia.

Premiações e Reconhecimento no Cinema

Nas décadas de 1960 e 1970, Maurício do Valle viveu o auge de sua carreira no cinema, participando de dezenas de filmes e se tornando um dos atores mais prolíficos da época.

Sua presença constante nas telas lhe rendeu diversos prêmios, especialmente por papéis em produções do Cinema Novo e em filmes populares que exploravam temáticas regionais e históricas.

Trabalhos como O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte, e A Grande Feira (1961), de Roberto Pires, consolidaram sua reputação como um ator de peso, capaz de roubar a cena mesmo em papéis coadjuvantes.

Últimos Anos e Legado

O último trabalho de Maurício do Valle em novelas foi uma participação especial em Deus nos Acuda (1992), da Rede Globo, onde interpretou um delegado de polícia contracenando com a inesquecível Dona Armênia, vivida por Aracy Balabanian.

Mesmo com a saúde fragilizada, ele ainda participou de um episódio de Você Decide e do especial O Segredo da Arte da Palavra em 1994, demonstrando sua dedicação à arte até o fim.

Maurício faleceu em 7 de outubro de 1994, aos 66 anos, vítima de complicações decorrentes de diabetes e problemas cardíacos. Três meses antes de sua morte, ele passou por uma amputação de uma perna devido a problemas vasculares, e, na madrugada do dia de seu falecimento, teve a outra perna amputada.

Segundo seu irmão, o também ator Sérgio Valle, essas cirurgias abalaram profundamente Maurício, que "perdeu a vontade de viver". Ele foi sepultado no Cemitério do Catumbi, no Rio de Janeiro, deixando para trás uma carreira brilhante e um vazio no cenário artístico brasileiro.

Legado e Memória

Maurício do Valle foi muito mais do que um ator de papéis marcantes; ele foi um símbolo da riqueza cultural do Brasil, transitando entre o cinema de vanguarda, a televisão popular e o humor escrachado dos Trapalhões.

Sua habilidade de dar vida a personagens tão diversos - do introspectivo Antônio das Mortes ao cômico Cabeção - reflete a amplitude de seu talento.

Até hoje, suas atuações continuam a inspirar atores e diretores, e sua presença em reprises e retrospectivas mantém viva a memória de um dos grandes nomes da dramaturgia brasileira.

0 Comentários: