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segunda-feira, setembro 09, 2024

Valentina Vassilyeva


 

Valentina Vassilyeva: A Mulher com Mais Filhos da História

Valentina Vassilyeva é reconhecida como a mulher que teria dado à luz o maior número de filhos registrado na história. Primeira esposa de Feodor Vassilyev, um camponês de Shuya, na Rússia, Valentina viveu entre 1707 e 1782.

Durante sua vida, ela teria tido 27 gestações, resultando em um total impressionante de 69 filhos: 16 pares de gêmeos, 7 conjuntos de trigêmeos e 4 conjuntos de quadrigêmeos.

Estima-se que suas gestações duravam, em média, 37 semanas para gêmeos, 32 semanas para trigêmeos e 30 semanas para quadrigêmeos. Surpreendentemente, apenas dois de seus 69 filhos não sobreviveram à infância, o que, se verdadeiro, seria um feito notável para a medicina e as condições de vida do século XVIII.

Feodor Vassilyev, seu marido, também é uma figura central nessa história extraordinária. Além dos 69 filhos com Valentina, ele teria tido mais 18 filhos com sua segunda esposa (6 pares de gêmeos e 2 conjuntos de trigêmeos), totalizando 87 filhos.

Esses números, registrados no Livro Guinness de Recordes Mundiais, colocam Feodor como o pai com o maior número de filhos na história documentada.

No entanto, a falta de registros precisos, como nomes, datas de nascimento ou morte dos filhos, alimenta o ceticismo sobre a veracidade desses relatos.

Contexto Histórico e Social

A história de Valentina e Feodor Vassilyev ocorre em um período em que a Rússia do século XVIII era predominantemente rural, com famílias numerosas sendo comuns, especialmente entre camponeses.

A fertilidade era vista como uma bênção, e grandes famílias eram valorizadas tanto por questões econômicas - mais mãos para trabalhar na terra - quanto culturais.

Contudo, as condições de saúde e saneamento da época tornavam a sobrevivência de tantas crianças, especialmente de partos múltiplos, extremamente improvável.

A medicina obstétrica era rudimentar, e a mortalidade infantil era alta, o que torna o caso de Valentina ainda mais extraordinário, mas também mais difícil de ser aceito sem questionamentos.

A história foi registrada pela primeira vez em 1783, na The Gentleman’s Magazine (Vol. 53, p. 753, Londres), que relatou a informação com base no depoimento de um comerciante inglês em São Petersburgo.

Segundo o relato, a história era confiável, e Feodor teria sido apresentado à Imperatriz russa, possivelmente Catarina, a Grande, como uma curiosidade. Outras fontes, como o comentário de Ivan Nikitich Boltin sobre a história russa e o livro Panorama de São Petersburgo (1834), de Alexander Pavlovich Bashutskiy, corroboram os números, mas sem fornecer evidências concretas, como certidões de nascimento ou registros paroquiais.

Ceticismo e Tentativas de Verificação

Apesar da inclusão no Livro Guinness de Recordes Mundiais, a história de Valentina e Feodor é cercada de dúvidas. Um artigo de 1933, publicado por Julia Bell na revista Biometrika, cita um livro de 1790, Statistische Schilderung von Rußland, de BFJ Hermann, que menciona o caso com ressalvas.

Bell também destaca que a revista The Lancet, em 1878, relatou que a Academia Francesa de Ciências tentou verificar os fatos, contatando a Academia Imperial de São Petersburgo.

No entanto, a resposta recebida foi evasiva, sugerindo que membros da família Vassilyev ainda viviam em Moscou e haviam recebido favores do governo russo, o que desestimulou investigações mais aprofundadas.

Marie M. Clay, em seu livro Quadruplets and Higher Multiple Births (1989), lamenta a falta de investigação rigorosa, afirmando que a ausência de registros detalhados comprometeu a possibilidade de confirmar a história.

A improbabilidade biológica também alimenta o ceticismo: 27 gestações em cerca de 40 anos, muitas delas de partos múltiplos, exigiria uma saúde física excepcional de Valentina, além de condições de vida que minimizassem os riscos de mortalidade materna e infantil, algo raro para a época.

Reflexões sobre o Legado e o Contexto Atual

A história de Valentina Vassilyeva, verdadeira ou não, fascina por sua grandiosidade e pelo que revela sobre a curiosidade humana por recordes extremos.

No século XVIII, relatos como esse podiam servir como propaganda ou curiosidade cultural, talvez até para destacar a força de uma nação rural como a Rússia.

Hoje, a narrativa ressoa em discussões sobre fertilidade, saúde materna e os limites do corpo humano. Avanços médicos modernos, como a fertilização in vitro, tornaram partos múltiplos mais comuns, mas ainda assim, a escala do caso de Valentina permanece quase inconcebível.

Além disso, a história levanta questões sobre a documentação histórica e a confiabilidade de relatos antigos. Em um mundo atual, onde a verificação de fatos é facilitada por registros digitais e bancos de dados, casos como o de Valentina seriam mais facilmente confirmados ou refutados.

A ausência de tais recursos no século XVIII deixa a história envoltos em mistério, como uma lenda que mistura fato e exagero.

Conclusão

Valentina e Feodor Vassilyev permanecem figuras lendárias, imortalizadas por números que desafiam a imaginação. Seja como um feito histórico ou uma história amplificada pelo boca a boca, o caso reflete a fascinação humana por superar limites.

A falta de evidências concretas não diminui o impacto cultural dessa narrativa, que continua a inspirar debates sobre fertilidade, família e a confiabilidade dos registros históricos.

Talvez o verdadeiro legado de Valentina seja nos lembrar da resiliência humana - ou da nossa capacidade de criar histórias que transcendem o tempo.

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