Valentina Vassilyeva: A Mulher com Mais Filhos da História
Valentina
Vassilyeva é reconhecida como a mulher que teria dado à luz o maior número de
filhos registrado na história. Primeira esposa de Feodor Vassilyev, um camponês
de Shuya, na Rússia, Valentina viveu entre 1707 e 1782.
Durante
sua vida, ela teria tido 27 gestações, resultando em um total impressionante de
69 filhos: 16 pares de gêmeos, 7 conjuntos de trigêmeos e 4 conjuntos de
quadrigêmeos.
Estima-se
que suas gestações duravam, em média, 37 semanas para gêmeos, 32 semanas para
trigêmeos e 30 semanas para quadrigêmeos. Surpreendentemente, apenas dois de
seus 69 filhos não sobreviveram à infância, o que, se verdadeiro, seria um
feito notável para a medicina e as condições de vida do século XVIII.
Feodor
Vassilyev, seu marido, também é uma figura central nessa história
extraordinária. Além dos 69 filhos com Valentina, ele teria tido mais 18 filhos
com sua segunda esposa (6 pares de gêmeos e 2 conjuntos de trigêmeos),
totalizando 87 filhos.
Esses
números, registrados no Livro Guinness de Recordes Mundiais, colocam Feodor
como o pai com o maior número de filhos na história documentada.
No entanto,
a falta de registros precisos, como nomes, datas de nascimento ou morte dos
filhos, alimenta o ceticismo sobre a veracidade desses relatos.
Contexto Histórico e Social
A
história de Valentina e Feodor Vassilyev ocorre em um período em que a Rússia
do século XVIII era predominantemente rural, com famílias numerosas sendo
comuns, especialmente entre camponeses.
A
fertilidade era vista como uma bênção, e grandes famílias eram valorizadas
tanto por questões econômicas - mais mãos para trabalhar na terra - quanto
culturais.
Contudo,
as condições de saúde e saneamento da época tornavam a sobrevivência de tantas
crianças, especialmente de partos múltiplos, extremamente improvável.
A
medicina obstétrica era rudimentar, e a mortalidade infantil era alta, o que
torna o caso de Valentina ainda mais extraordinário, mas também mais difícil de
ser aceito sem questionamentos.
A
história foi registrada pela primeira vez em 1783, na The Gentleman’s Magazine
(Vol. 53, p. 753, Londres), que relatou a informação com base no depoimento de
um comerciante inglês em São Petersburgo.
Segundo
o relato, a história era confiável, e Feodor teria sido apresentado à
Imperatriz russa, possivelmente Catarina, a Grande, como uma curiosidade.
Outras fontes, como o comentário de Ivan Nikitich Boltin sobre a história russa
e o livro Panorama de São Petersburgo (1834), de Alexander Pavlovich
Bashutskiy, corroboram os números, mas sem fornecer evidências concretas, como
certidões de nascimento ou registros paroquiais.
Ceticismo e Tentativas de Verificação
Apesar
da inclusão no Livro Guinness de Recordes Mundiais, a história de Valentina e
Feodor é cercada de dúvidas. Um artigo de 1933, publicado por Julia Bell na
revista Biometrika, cita um livro de 1790, Statistische Schilderung von
Rußland, de BFJ Hermann, que menciona o caso com ressalvas.
Bell
também destaca que a revista The Lancet, em 1878, relatou que a Academia
Francesa de Ciências tentou verificar os fatos, contatando a Academia Imperial
de São Petersburgo.
No
entanto, a resposta recebida foi evasiva, sugerindo que membros da família
Vassilyev ainda viviam em Moscou e haviam recebido favores do governo russo, o
que desestimulou investigações mais aprofundadas.
Marie
M. Clay, em seu livro Quadruplets and Higher Multiple Births (1989), lamenta a falta
de investigação rigorosa, afirmando que a ausência de registros detalhados
comprometeu a possibilidade de confirmar a história.
A
improbabilidade biológica também alimenta o ceticismo: 27 gestações em cerca de
40 anos, muitas delas de partos múltiplos, exigiria uma saúde física
excepcional de Valentina, além de condições de vida que minimizassem os riscos
de mortalidade materna e infantil, algo raro para a época.
Reflexões sobre o Legado e o Contexto Atual
A
história de Valentina Vassilyeva, verdadeira ou não, fascina por sua
grandiosidade e pelo que revela sobre a curiosidade humana por recordes
extremos.
No
século XVIII, relatos como esse podiam servir como propaganda ou curiosidade
cultural, talvez até para destacar a força de uma nação rural como a Rússia.
Hoje, a
narrativa ressoa em discussões sobre fertilidade, saúde materna e os limites do
corpo humano. Avanços médicos modernos, como a fertilização in vitro, tornaram
partos múltiplos mais comuns, mas ainda assim, a escala do caso de Valentina
permanece quase inconcebível.
Além
disso, a história levanta questões sobre a documentação histórica e a
confiabilidade de relatos antigos. Em um mundo atual, onde a verificação de
fatos é facilitada por registros digitais e bancos de dados, casos como o de
Valentina seriam mais facilmente confirmados ou refutados.
A
ausência de tais recursos no século XVIII deixa a história envoltos em
mistério, como uma lenda que mistura fato e exagero.
Conclusão
Valentina
e Feodor Vassilyev permanecem figuras lendárias, imortalizadas por números que
desafiam a imaginação. Seja como um feito histórico ou uma história amplificada
pelo boca a boca, o caso reflete a fascinação humana por superar limites.
A falta
de evidências concretas não diminui o impacto cultural dessa narrativa, que
continua a inspirar debates sobre fertilidade, família e a confiabilidade dos
registros históricos.
Talvez
o verdadeiro legado de Valentina seja nos lembrar da resiliência humana - ou da
nossa capacidade de criar histórias que transcendem o tempo.









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