Súplica Serena
Eu te
suplico desculpas… por te amar de imediato, sem defesa, sem cálculo, sem
licença.
Mesmo
sabendo que o meu amor é apenas uma antiga canção esquecida na tua lembrança -
uma melodia que outrora embalou tua alma, mas que hoje talvez ecoe apenas como
sombra.
Perdoa-me
por me lançar inteiro ao abismo dos teus gestos, por ter lido poesia no
silêncio das tuas reticências.
Ainda
trago, nos lábios, o gosto das palavras que calei quando sorvi da tua boca o
aroma inesperado do teu riso. Na penumbra dos teus maneios, construí refúgios
invisíveis, onde cada passo teu era bênção, e cada ausência, um lamento mudo.
Recordo
as noites escuras que passei tranquilo, sossegado - não porque o mundo dormia,
mas porque tua gentileza me acalmava. Era uma paz inquieta, vinda do teu
caminhar sutil, sempre escapando pelas frestas do tempo, como se não pudesses -
ou não quisesses - permanecer.
Trago
comigo o mel dos que amam com coerência, mas sangram em silêncio. Uma tristeza
mórbida e profunda habita o que restou de mim, mas não te peço piedade.
Quero
apenas que saibas: a imensa afeição que te dou não trará o excesso do choro nem
as febres da alucinação.
Não. Minha
entrega é branda. É abrigo. É um entornar de afagos sobre a tua pele cansada. Ofereço-te
a paz que tantos procuram e poucos sabem receber.
Uma
doçura serena, de expressão capaz de comover o cansaço dos teus dias.
Um amor que não grita, que não exige, que não fere - apenas te pede que
repouses. Imensamente sossegada.
Permite,
então, que os dedos calorosos da noite encontrem teu corpo sem pressa. Que o
mundo se dissolva em sombra e que, sem desgraça, teus olhos tranquilos
contemplem o arrebol matinal - aquele instante mágico em que o céu não sabe se
permanece noite ou se já se entrega ao dia.
E se
nesse instante meu nome te cruzar a alma... Que seja como brisa, como oração. Como
quem agradece, em silêncio, por ter sido amado - mesmo sem saber.
Francisco Silva Sousa - Foto: Pixabay
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