Matt da Silva conta que tinha 13 anos quando
começou a frequentar uma igreja evangélica. Apesar da pouca idade, já era
fascinado pelas histórias contadas nos cultos de domingo.
A professora da Escola Bíblica tinha um
talento especial para transformar narrativas antigas em aventuras emocionantes:
Davi e Golias, Moisés abrindo o Mar Vermelho, Sansão derrubando o templo. Mas
nenhuma delas o intrigava tanto quanto a história de Jonas e a baleia.
A princípio, ele
aceitava tudo como verdade absoluta - afinal, todos ali acreditavam sem
pestanejar. Mas um dia, tomado por uma curiosidade que não cabia no peito, ele decidi
procurar o pastor. Queria entender como aquilo era possível não apenas pela fé,
mas pela lógica.
Aproximou-se com
timidez e perguntou:
- Pastor, eu não
entendo como Jonas conseguiu ficar três dias dentro da barriga de uma baleia. A
professora da escola disse que os sucos gástricos teriam desintegrado ele.
O pastor,
sentado em sua poltrona, ergueu-se devagar. Seu rosto carregava um misto de
irritação e superioridade, como se minha dúvida fosse uma afronta pessoal. Com
um tom impaciente - talvez até impiedoso - respondeu:
- Meu filho, se
na Bíblia estivesse escrito que a baleia ficou na barriga de Jonas durante dois
meses, eu acreditaria!
A frase caiu
sobre ele como um trovão. Naquele instante, algo dentro de mim se deslocou. Ele
esperava uma explicação, uma parábola, um ensinamento mais profundo. Mas recebeu
apenas a celebração da crença cega, da suspensão total do raciocínio. Foi ali,
naquela sala abafada, que ele compreendeu que muitas respostas religiosas
dependiam não da busca pela verdade, mas da renúncia a qualquer questionamento.
A partir desse
momento, ele passou a observar tudo de outra forma: os sermões inflamados, os
fiéis repetindo palavras sem compreendê-las, a insistência em aceitar tudo sem
reflexão. Percebeu que, para muitos, a fé não era um caminho de iluminação, mas
um roteiro já pronto, no qual pensar demais era quase um pecado.
E assim, aos 13
anos, Matt percebeu que certas narrativas - por mais belas ou simbólicas que
sejam - eram usadas como conversa para boi dormir. Não para inspirar reflexão,
mas para silenciar perguntas.









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