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sábado, novembro 22, 2025

‎É proibido raciocinar




Matt da Silva conta que tinha 13 anos quando começou a frequentar uma igreja evangélica. Apesar da pouca idade, já era fascinado pelas histórias contadas nos cultos de domingo.

A professora da Escola Bíblica tinha um talento especial para transformar narrativas antigas em aventuras emocionantes: Davi e Golias, Moisés abrindo o Mar Vermelho, Sansão derrubando o templo. Mas nenhuma delas o intrigava tanto quanto a história de Jonas e a baleia.

A princípio, ele aceitava tudo como verdade absoluta - afinal, todos ali acreditavam sem pestanejar. Mas um dia, tomado por uma curiosidade que não cabia no peito, ele decidi procurar o pastor. Queria entender como aquilo era possível não apenas pela fé, mas pela lógica.

Aproximou-se com timidez e perguntou:

- Pastor, eu não entendo como Jonas conseguiu ficar três dias dentro da barriga de uma baleia. A professora da escola disse que os sucos gástricos teriam desintegrado ele.

O pastor, sentado em sua poltrona, ergueu-se devagar. Seu rosto carregava um misto de irritação e superioridade, como se minha dúvida fosse uma afronta pessoal. Com um tom impaciente - talvez até impiedoso - respondeu:

- Meu filho, se na Bíblia estivesse escrito que a baleia ficou na barriga de Jonas durante dois meses, eu acreditaria!

A frase caiu sobre ele como um trovão. Naquele instante, algo dentro de mim se deslocou. Ele esperava uma explicação, uma parábola, um ensinamento mais profundo. Mas recebeu apenas a celebração da crença cega, da suspensão total do raciocínio. Foi ali, naquela sala abafada, que ele compreendeu que muitas respostas religiosas dependiam não da busca pela verdade, mas da renúncia a qualquer questionamento.

A partir desse momento, ele passou a observar tudo de outra forma: os sermões inflamados, os fiéis repetindo palavras sem compreendê-las, a insistência em aceitar tudo sem reflexão. Percebeu que, para muitos, a fé não era um caminho de iluminação, mas um roteiro já pronto, no qual pensar demais era quase um pecado.

E assim, aos 13 anos, Matt percebeu que certas narrativas - por mais belas ou simbólicas que sejam - eram usadas como conversa para boi dormir. Não para inspirar reflexão, mas para silenciar perguntas.

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