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sexta-feira, novembro 21, 2025

Os Nômades tuaregues


 

Os Tuaregues: História, Cultura e Identidade

Os tuaregues são um povo berbere composto por pastores seminômades, agricultores e comerciantes. Durante séculos, controlaram algumas das mais importantes rotas de caravanas no deserto do Saara, ligando o norte da África às regiões subsaarianas.

Majoritariamente muçulmanos, são hoje os principais habitantes da vasta região saariana, distribuindo-se pelo sul da Argélia, norte do Mali, Níger, sudoeste da Líbia, partes do Chade e, em menor número, em Burkina Faso e no leste da Nigéria. Na prática, podem ser encontrados em praticamente todo o Saara.

Falam línguas berberes - sobretudo o tamaxeque e suas variantes - e preservam um dos sistemas de escrita mais antigos da região: o tifinague, ainda utilizado em inscrições, tatuagens, arte e, mais recentemente, em ensino formal. Estima-se que a população tuaregue atual varie entre 1 e 1,5 milhão de pessoas.

Origem do Nome

A palavra árabe “tuaregue” deriva de Targa, o nome berbere da região da Fazânia, no sul da Líbia. Originalmente, o termo designava os habitantes daquela área. Depois, foi incorporado às línguas europeias durante o período colonial.

Targa significa “canal de drenagem”, e por extensão, “terra arável” ou “jardim”, fazendo referência à região fértil de Wadi al-Hayat. Nos registros árabes, o termo aparece como Bilad al-Khayr, a “boa terra”.

Adalberto Alves, em seu Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa, aponta outra possibilidade: a origem viria de wâriq, “salteadores”, referência aos antigos ataques contra caravanas que se recusavam a pagar tributos.

Há ainda a versão folclórica que relaciona “tuaregue” a tawariq, “abandonados por Deus”, interpretação pejorativa usada por muçulmanos mais ortodoxos que desaprovavam elementos animistas presentes nos costumes tuaregues.

Outra autodesignação moderna é Kel Tamasheq, “os que falam tamaxeque”. Na etnografia do início do século XX, são chamados de Kel Tagelmust - “o povo do véu” ou “homens azuis”.

Origens e Expansão

O principal elo entre os diferentes grupos tuaregues não é a linhagem genética, mas a língua tamaxeque. Pesquisas genéticas e arqueológicas sugerem ligação antiga com populações berberes do Marrocos, Argélia e até com grupos do Egito, refletida em tradições culturais, no uso de amuletos e na própria escrita ancestral.

Originalmente, habitavam áreas próximas à costa mediterrânea. A domesticação do dromedário por povos asiáticos permitiu a expansão berbere rumo ao Saara profundo. Os tuaregues tornaram-se então especialistas em navegação do deserto, estabelecendo reinos, confederações tribais e pontos de controle de rotas de sal, ouro, escravos e tecidos.

A presença do tipo sanguíneo A em regiões do Chade, Nigéria e Camarões é frequentemente citada como um eco dessa antiga mobilidade.

Costumes, Vestimentas e Estrutura Social

Apesar de seguirem a linhagem materna - heranças e títulos passam pela ascendência feminina - os tuaregues não são uma sociedade matriarcal. As mulheres têm grande prestígio social, podem possuir bens e têm autonomia incomum em sociedades muçulmanas tradicionais.

Já os homens são conhecidos pelo tagelmust, o famoso véu azul-índigo que cobre cabeça, rosto e pescoço, deixando apenas os olhos à mostra.
Eles acreditam que o véu protege contra maus espíritos, mas ele também reduz os efeitos do sol, da areia e das tempestades do Saara. O pigmento índigo impregnava a pele, originando a célebre alcunha “homens azuis”.

A hierarquização social tradicional é complexa:

Imajeren - a casta nobre, antiga aristocracia guerreira. São os portadores da espada Takoba, de lâmina larga e punho em forma de cruz estilizada.

Ineselmen - responsáveis pela religião; seguem o Islã sunita da escola Maliki, misturado a crenças pré-islâmicas como os espíritos Kel Asuf.

Imrad - “povo das cabras”, maioria da população, pastores e aliados dos nobres.

Iklan - escravos e descendentes de escravos. A escravidão foi formalmente proibida no período colonial francês, mas seus ecos sociais persistem.

As comunidades mantêm o hábito de oferecer chá de menta a viajantes e turistas, parte de sua etiqueta de hospitalidade (tegehelt).

História Recente

No passado, os tuaregues cobravam pedágios altos de caravanas e puniam com violência os que tentavam atravessar seu território sem autorização. A partir do século XIX, com a expansão colonial europeia, muitos grupos se revoltaram, resultando em massacres e perdas populacionais significativas.

No século XX, conflitos com governos do Mali e do Níger marcaram movimentos por autonomia e preservação cultural. As secas severas dos anos 1970 e 1980 devastaram seus rebanhos e intensificaram tensões políticas.

Atividades Contemporâneas

Atualmente, muitos tuaregues se dedicam ao pastoreio, ao comércio, ao artesanato de prata e couro, e à música. Uma das mais famosas expressões modernas dessa cultura é a banda Tinariwen, internacionalmente reconhecida pelo estilo desert blues.


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