A Higiene na Europa Medieval vs. o Mundo Islâmico
Impressionante: tomar banho na Europa
medieval era frequentemente visto como suspeito ou até herético pela Igreja
Católica, que associava a nudez e o prazer corporal ao pecado e à vaidade. Essa
visão contribuiu para uma cultura de extrema sujeira, contrastando drasticamente
com o mundo islâmico, onde a higiene era um pilar da fé e da vida cotidiana.
Um exemplo famoso é o da Rainha Isabel I de
Castela (conhecida como Isabel, a Católica, reinou de 1474 a 1504), que liderou
a Reconquista e a expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica, culminando na
queda de Granada em 1492 - não na "fronteira de Gibraltar", mas em
toda a Andaluzia.
Há lendas populares (não totalmente
comprovadas por fontes primárias) de que ela tomou banho apenas duas vezes na
vida: ao nascer e antes do casamento. O que é fato histórico é que, após a
conquista de Granada, os Reis Católicos ordenaram a destruição ou conversão
forçada de centenas de hammams (casas de banho públicas) muçulmanos em cidades
como Sevilha, Córdoba e Málaga.
Esses banhos, herança da era islâmica
(Al-Andalus), foram demolidos por serem associados à cultura "infiel"
e por promoverem a nudez mista, considerada imoral pela Inquisição.
Outro caso emblemático é o do Rei Filipe II
da Espanha (1556–1598), filho de Isabel, que emitiu éditos restringindo banhos
públicos em várias regiões do império, temendo que eles facilitassem a
propagação de doenças ou servissem de locais para conspirações e imoralidade.
Sua neta, a Infanta Isabel Clara Eugenia,
governadora dos Países Baixos Espanhóis, fez um voto famoso durante o Cerco de
Ostende (1601–1604), que durou três anos e foi um dos mais sangrentos da Guerra
dos Oitenta Anos contra os rebeldes holandeses.
Ela jurou não trocar de camisa (não roupa
íntima específica) até a cidade cair - e cumpriu, resultando em uma peça de
roupa notoriamente suja e fedorenta, apelidada de "a camisa de
Ostende".
Ela não morreu por falta de banho (viveu até
1633), mas o episódio ilustra o orgulho em suportar a imundície como sinal de
devoção. Reis, rainhas e nobres europeus exalavam um odor insuportável,
mascarado por camadas de perfumes fortes, pós e roupas pesadas.
Imagine a população comum: sem esgotos
adequados, ruas cheias de dejetos humanos e animais, e banhos raros por medo de
"enfraquecer o corpo" ou atrair demônios. Essa falta de higiene foi
um fator crucial em surtos epidêmicos, como a Peste Negra (1347–1351), que
matou cerca de um terço da população europeia - até 25 milhões de pessoas.
Cidades como Paris (com cerca de 200 mil
habitantes) e Londres perderam metade de seus moradores; corpos eram empilhados
em valas comuns, e o fedor de decomposição se misturava ao da vida cotidiana.
Acréscimo sobre acontecimentos históricos:
Durante a Peste Negra, médicos usavam máscaras com ervas para combater o
"mau ar" (miasma), mas ignoravam a transmissão por pulgas de ratos -
agravada pela sujeira urbana. Em 1665, a Grande Peste de Londres matou cerca de
100 mil pessoas (20% da cidade), com quarentenas ineficazes e fogueiras para
"purificar" o ar.
Enquanto isso, cidades islâmicas como Cairo e
Bagdá, com populações acima de 500 mil, sofreram menos proporcionalmente em
epidemias semelhantes graças a quarentenas rigorosas, hospitais (bimaristans) e
redes de esgotos.
Não há registro de "ultrapassar a marca
do milhão de mortos" em uma única cidade islâmica durante a Peste Negra (o
total global foi de 75–200 milhões), mas o contraste é claro: a higiene reduzia
mortalidade.
Os famosos perfumes franceses, que tornaram
Paris sinônimo de fragrâncias no século XVII (pense em Grasse, a capital do
perfume), surgiram precisamente para combater odores corporais.
Luís XIV (o Rei Sol, 1638–1715) banhava-se
raríssimas vezes - sua corte em Versalhes usava perfumes como "água de
Colônia" para disfarçar. Esse hábito persiste culturalmente: estudos
modernos mostram que franceses tomam banho com menos frequência que média
europeia (cerca de 5–6 vezes por semana vs. 7+ em países nórdicos), priorizando
desodorantes e eaux de toilette.
Como disse o historiador francês Fernand
Braudel - provavelmente uma referência distorcida a ele ou a outros como Lucien
Febvre): "Os europeus devem aos árabes grande parte do bem-estar em sua
sociedade".
De fato, os muçulmanos preservaram e
expandiram o conhecimento romano e grego sobre higiene. O Alcorão e os hadiths
enfatizam a ablução (wudu) cinco vezes ao dia para orações, e banhos completos
(ghusl) em ocasiões específicas.
Viajantes como Ibn Battuta (século XIV)
descreviam hammams em Damasco com água corrente, vapor e massagens. Muçulmanos
vestiam roupas de algodão, seda ou linho brilhantes e limpas, frequentemente
decoradas com pedras preciosas como esmeraldas, rubis e corais - um luxo em
Al-Andalus.
Córdoba, no auge do Califado Omíada (século
X), tinha cerca de 300 hammams públicos, além de 70 bibliotecas e ruas
pavimentadas com esgotos. Em contraste, igrejas cristãs medievais pregavam que
banhos excessivos eram pecado, associando-os à luxúria pagã.
O termo inglês "bathroom" não
deriva de "Muhammad Bath" (um mito urbano sem base histórica). Vem do
latim "balneum" (banho), via francês antigo. No entanto, os árabes
introduziram sabão duro (de Aleppo, com azeite e louro) na Europa via Cruzadas,
e palavras como "hammam" influenciaram "steam bath".
Hoje, a UNESCO reconhece hammams marroquinos como patrimônio, e a higiene islâmica inspirou modernos sistemas de saneamento. Em resumo, enquanto a Europa medieval afundava na sujeira por dogmas religiosos, o Islâmico elevava a limpeza a virtude divina - uma lição que salvou vidas e moldou o progresso.









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