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quinta-feira, novembro 20, 2025

A Infidelidade da Mulher


 

A infidelidade de uma mulher não começa na cama, mas na transformação silenciosa de sua postura diante do mundo - e, sobretudo, diante de si mesma. É um processo quase invisível no início, que se esconde nas entrelinhas dos gestos, nas pausas que duram mais do que deveriam, nas pequenas rupturas do cotidiano em que o que não é dito pesa mais do que qualquer palavra.

Muitas vezes, tudo começa nos silêncios prolongados entre duas pessoas que já não se escutam; nas conversas que se tornam monólogos; nos olhares que se desviam para horizontes onde o outro já não tem lugar. São rachas delicadas, quase imperceptíveis, que se acumulam até fazerem parte da paisagem da relação.

Quando uma mulher passa a proteger o telefone como se ele guardasse segredos de Estado, a apagar mensagens com pressa ou a alterar seus hábitos sem explicação convincente, dificilmente é apenas por vaidade ou privacidade.

Esses gestos revelam o nascimento de um mundo interior que se fecha, de um jardim secreto que ela passa a cultivar em silêncio - um espaço íntimo onde antes havia partilha e agora há reserva. Esse jardim, porém, não brota do nada. Ele é irrigado pelas ausências repetidas, pelas promessas esquecidas, pelas palavras duras ditas sem perceber, pela indiferença que se instala sorrateira.

Nasce do cansaço de se sentir invisível, do peso de uma rotina que sufoca o encanto, do desejo de ser vista novamente - não como alguém previsível, mas como um mistério ainda capaz de despertar curiosidade.

E nem sempre esse processo envolve a presença imediata de outra pessoa. Muitas vezes, a infidelidade é menos sobre um novo alguém e mais sobre reencontrar uma versão de si mesma que ficou perdida no tempo, soterrada por obrigações, expectativas, culpas e silêncios.

É o desejo de revisitar a mulher que ela foi um dia - livre, desejada, vibrante - e que agora parece apenas uma sombra distante. A infidelidade, então, deixa de ser apenas um ato físico para se tornar uma fuga emocional.

É uma tentativa, muitas vezes inconsciente, de preencher um vazio interno, de sentir novamente algo que rompa a monotonia, que desbloqueie o brilho que o tempo ou a convivência desgastada levaram. Ela busca algo que a faça respirar de novo - mesmo que seja um suspiro breve.

Os sinais estão nos detalhes: no tom de voz que muda ao atender uma chamada; na risada que parece ter um destinatário oculto; na súbita preocupação com a aparência; no distanciamento mascarado de cansaço; nas desculpas frequentes; nos compromissos inesperados.

São pequenas rachaduras na superfície de uma convivência que, por fora, ainda parece sólida, mas que, por dentro, já começa a se despedaçar. Contudo, seria simplista apontar o dedo apenas para quem trai. A infidelidade é, muitas vezes, um espelho invertido do relacionamento.

Ela reflete falhas, silêncios e desencontros que se acumularam lentamente até se tornarem insuportáveis. É o sintoma de algo que já não funciona, de um vínculo que se tornou frágil, de uma cumplicidade que se perdeu sem que ninguém percebesse.

Antes de condenar, talvez seja necessário olhar para trás e perguntar: Em que momento deixamos de nos enxergar? Quando o toque virou hábito mecânico? Quando as conversas passaram a ser apenas sobre o trivial? Quando o “nós” se transformou em uma lembrança distante do que um dia fomos?

Porque, no fim, a infidelidade fala menos sobre o outro - e muito mais sobre aquilo que deixamos de ser juntos. É a consequência de negligências mútuas, de feridas abafadas, de sonhos que deixaram de ser compartilhados.

E, às vezes, compreender isso é o primeiro passo não para perdoar, mas para entender que toda traição começa muito antes do ato. Começa no instante em que o amor deixa de ser cultivado, quando a intimidade deixa de ser priorizada e quando dois corpos continuam próximos, mas dois corações deixam de pulsar no mesmo compasso.

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