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quarta-feira, novembro 19, 2025

Wilhelm Canaris: O Espião que Desafiou Hitler


 

Wilhelm Canaris: O Espião que Desafiou Hitler Dentro do Próprio Regime Nazista

O almirante Wilhelm Franz Canaris (1887-1945), chefe da Abwehr - o serviço de inteligência militar da Alemanha nazista -, ocupava um dos cargos mais altos e estratégicos do Terceiro Reich.

Nascido em Aplerbeck, na Westfália, Canaris teve uma carreira militar precoce e brilhante: serviu na Marinha Imperial durante a Primeira Guerra Mundial, participando de ações de submarinos e inteligência, e escapou dramaticamente de um campo de prisioneiros no Chile em 1915.

Sua ascensão no regime nazista começou cedo; ele apoiou Hitler desde os anos 1920, ajudando a suprimir opositores comunistas e contribuindo para a remilitarização da Alemanha.

Da Lealdade Inicial à Repulsa Profunda

Inicialmente, Canaris foi um fiel apoiador de Hitler. Ao assumir o comando da Abwehr em 1º de janeiro de 1935, demonstrou grande competência, reorganizando o serviço em uma das redes de espionagem mais eficientes da Europa.

Sob sua liderança, a Abwehr expandiu operações em todo o continente, infiltrando agentes na Espanha durante a Guerra Civil (1936-1939), onde Canaris pessoalmente coordenou apoio logístico aos nacionalistas de Franco, e coletando inteligência crucial para a Blitzkrieg inicial.

Contudo, tudo mudou após a invasão da Polônia em 1º de setembro de 1939. Canaris acompanhou as tropas alemãs e testemunhou pessoalmente a brutalidade: massacres de civis em vilarejos como Bydgoszcz, execuções sumárias por Einsatzgruppen (unidades móveis de extermínio) e a destruição sistemática de cidades.

Relatos históricos, como os de seu biógrafo Richard Bassett em Hitler's Spy Chief (2005), descrevem como ele viu corpos de mulheres e crianças alvejados à queima-roupa.

Chocado com essa "guerra de aniquilação" - termo usado pelo próprio Hitler em ordens secretas -, seu entusiasmo pelo regime transformou-se em repulsa moral. Ele confidenciou a aliados: "Isso não é guerra; é assassinato em massa."

A Sabotagem Discreta e os Contatos com os Aliados

Discretamente, Canaris passou a sabotar ordens nazistas. Usando sua posição, ele retardava relatórios de inteligência para atrasar invasões, como na planejada Operação Leão-Marinho contra a Grã-Bretanha em 1940, exagerando a força da RAF para desencorajar Hitler.

Protegeu judeus e opositores: em 1941, ajudou a evacuar centenas de judeus da Alemanha via Abwehr, disfarçando-os como agentes. Seus protestos contra atrocidades - como o massacre de Babi Yar na Ucrânia (1941), onde 33 mil judeus foram fuzilados - chamaram atenção.

Ele enviou memorandos furiosos a generais como Wilhelm Keitel, chefe do OKW, denunciando as SS como "bandidos". Logo, foi rotulado "politicamente não confiável" por Himmler e Heydrich, que o vigiavam de perto.

Ainda assim, Canaris arriscou missões secretas para contatar os Aliados. Em 1940, via neutra Espanha, enviou emissários a Londres para sondar termos de paz condicional à deposição de Hitler.

Em 1943, durante viagens à Espanha e à Turquia, encontrou agentes britânicos e americanos, incluindo o embaixador britânico em Madri, Samuel Hoare. Stewart Menzies, chefe do MI6, descreveu-o em memorandos desclassificados como “um homem de consciência, disposto a arriscar tudo para encurtar a guerra”.

Canaris propôs um golpe interno para derrubar o Führer, mas os Aliados, temendo uma repetição do "golpe da faca nas costas" de 1918, hesitaram.

A Conspiração do 20 de Julho e o Fim Trágico

Canaris foi um pilar da resistência alemã, ligando-se ao Kreisau Circle e a figuras como Hans von Dohnányi (seu subordinado na Abwehr) e Claus von Stauffenberg.

Ele forneceu inteligência vital para o atentado de 20 de julho de 1944, quando uma bomba explodiu na Wolfsschanze, quase matando Hitler. Embora não diretamente envolvido na explosão, documentos da Abwehr - incluindo diários codificados descobertos pela Gestapo - o incriminaram.

Demiti-lo em fevereiro de 1944 por "incompetência" (pretexto para encobrir suspeitas), Hitler o prendeu após o atentado. Torturado em Flossenbürg, Canaris manteve silêncio heroico.

Em 9 de abril de 1945, dias antes da libertação aliada, foi enforcado nu, em um piano de arame, por ordem de Hitler. Seu último ato: bater mensagens em código Morse na cela para encorajar companheiros.

Legado e Lições

Canaris permanece um enigma: patriota alemão que traiu o regime por humanidade. Sua rede salvou milhares, mas falhou em derrubar Hitler mais cedo devido à desconfiança aliada e à paranoia nazista.

Historiadores como Ian Kershaw (Hitler: A Biography, 2008) o veem como prova de que resistência interna existiu, mesmo no coração da besta. Hoje, sua história inspira debates sobre ética em tempos de tirania - um lembrete de que coragem moral pode surgir nos lugares mais improváveis.

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