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quinta-feira, dezembro 26, 2024

Contraste



Cada instante que passa é uma gota de vida que nunca mais voltará. É a nossa lenta caminhada rumo ao único destino certo que temos na existência, mas cuja ideia nunca conseguimos aceitar plenamente: a morte.

A morte é um processo que se inicia no momento do nascimento e nos acompanha como uma sombra ao longo da vida, até finalmente nos vencer, sem apelação ou adiamento. Apesar disso, vivemos sob a expectativa angustiante de quando e como ela chegará.

E quando a morte abraça alguém próximo, sempre há surpresa. Ela desnuda nossa fragilidade e expõe a impotência diante dessa inimiga invisível e abstrata.

O que mais me surpreende, porém, é como há tão pouco cuidado, tão pouco respeito ao que precede a morte: a vida.

Viver.
Quão digno e belo é viver, sentir, querer, amar, sonhar e ser feliz! Isso é o que significa verdadeiramente viver e conviver.

Abraçar a mulher amada, admirar o sorriso de uma criança, sentir o calor da amizade, participar do mundo e fazer algo bom. Esses são os pequenos milagres da vida.

Infelizmente, muitos morrem antes mesmo de viver, carregando consigo a saudade de algo que nunca experimentaram: a vida sob o calor do sol. Para nós, que temos o privilégio de estar vivos e em paz com a consciência, não há nada mais valioso do que viver.

Existem muitos tipos de vida: aquelas que desfrutam os prazeres do mundo e aquelas que enfrentam apenas dores. Mas, mesmo nas vidas mais sofridas, raramente alguém deseja morrer.

Trabalhar arduamente, derramar lágrimas por amor, enfrentar injustiças, ser mal remunerado ou enganado por legisladores são partes da experiência humana. Paradoxalmente, isso também faz parte do que chamamos de viver. E, ainda assim, viver é melhor.

Morrer.
Há muitos tipos de morte. Nem todos os mortos estão sepultados. Alguns caminham entre nós, mas estão mortos por dentro.

Se no peito não bate um coração amoroso, se na mente não habita uma consciência lúcida que guia pelos caminhos da retidão, a morte já se instalou. Esse tipo de morte é ainda mais cruel, pois não hesita em ferir a si mesma ou aos outros, seja física ou moralmente.

Por outro lado, os mortos sepultados nos deixam apenas saudades. Saudades que, ironicamente, muito mais eles levaram consigo: dos familiares, dos amigos, do mundo.

Lautrec, cansado de humilhações, decepções e desamor, certa vez disse: "É tão imbecil morrer!"

Sei que um dia ela chegará para mim. Mas, enquanto isso, desejo manter o coração de uma criança e uma vontade indomável de viver como um adulto.

Francisco Silva Sousa

Foto: Pixabay

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