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sexta-feira, novembro 14, 2025

Entre a Gratidão e o Remorso


 

“Os mortos recebem mais flores do que os vivos, pois o remorso pesa mais que a gratidão”.

Essa frase, carregada de verdade, traduz uma tendência humana de valorizar mais o que se perdeu do que o que ainda está presente. Quando alguém parte, as flores depositadas em túmulos ou memoriais simbolizam não apenas saudade, mas também arrependimento: palavras que não foram ditas, abraços que não foram dados, momentos que deixamos escapar.

Em vida, porém, raramente expressamos gratidão com a mesma intensidade, como se o tempo fosse um crédito infinito e houvesse sempre uma nova chance de demonstrar o que sentimos.

Essa realidade se manifesta de forma silenciosa, mas constante. Quantas vezes negligenciamos um amigo, um familiar ou um colega, deixando para depois um elogio, um telefonema ou uma conversa sincera?

Só quando o depois já não existe é que nos damos conta do valor daquilo que perdemos. A ausência, por sua natureza definitiva, tem o poder de revelar a profundidade das presenças que muitas vezes passamos por alto.

Um exemplo marcante ocorreu em 2020, durante a pandemia de COVID-19. Milhares de pessoas não puderam se despedir de seus entes queridos, e as redes sociais se encheram de mensagens de amor e pesar.

Muitos lamentaram não ter dito "eu te amo", não ter compartilhado mais momentos, não ter valorizado a presença de quem partiu. Foi um retrato coletivo do quanto o remorso pode pesar quando a gratidão é adiada.

Por outro lado, a gratidão, quando cultivada em vida, transforma relações e fortalece laços. Ela não precisa de grandes gestos: um sorriso sincero, uma palavra de reconhecimento, um agradecimento inesperado ou até mesmo um simples "estou feliz por você existir" podem marcar uma vida inteira.

Imagine o impacto de presentear alguém com flores hoje - sejam flores reais ou simbólicas - em vez de deixá-las para o silêncio de uma despedida.

Portanto, talvez seja hora de inverter a lógica: que as flores cheguem primeiro aos vivos, que a gratidão supere o peso do remorso e que não precisemos de perdas para aprender o valor da presença.

O maior presente que podemos oferecer a alguém não é apenas a lembrança póstuma, mas o reconhecimento em vida, quando o coração ainda pode sentir o calor de um gesto sincero.

Que cada palavra dita, cada abraço oferecido e cada demonstração de afeto seja uma semente plantada hoje, para que floresçam memórias vivas, não arrependimentos tardios.

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