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terça-feira, novembro 11, 2025

Controle Social: Poder, Crises e Narrativas


 

A história política da humanidade é, em grande parte, a história do controle - sobre territórios, recursos e, sobretudo, sobre pessoas. Desde os primeiros impérios até os Estados modernos, governar sempre implicou a busca por mecanismos capazes de moldar comportamentos, administrar populações e garantir obediência.

O modo de fazê-lo, porém, evoluiu com o tempo: o que antes se impunha pela força das armas, hoje se sustenta pelo poder das ideias, da economia e da informação.

Durante o século XX, o controle social assumiu diversas faces.
Nos regimes totalitários, como o nazismo e o stalinismo, a dominação era explícita: vigilância, propaganda, censura e eliminação de opositores.

Já nas democracias ocidentais, o controle tornou-se mais sutil, disfarçado em mecanismos institucionais, econômicos e midiáticos. O cidadão, embora livre, passou a ser moldado por sistemas de consumo, padrões culturais e discursos que influenciam sua percepção da realidade.

As guerras - sempre caras e visíveis - revelam esse paradoxo. Elas mobilizam recursos, unem nações em torno de ideais e reconfiguram o mapa político do mundo.

No entanto, seu custo humano e social as torna cada vez menos sustentáveis. Por isso, novas formas de controle emergem em tempos de paz: a manipulação econômica, a gestão do medo e o controle da informação.

Pandemias e crises sanitárias, nesse contexto, também entram no jogo do poder. Elas testam a capacidade de resposta dos governos e expõem desigualdades sociais e políticas.

A forma como se comunica o risco, se administra o pânico e se distribuem recursos define não apenas a eficácia da política pública, mas também quem ganha e quem perde influência. O medo coletivo é um terreno fértil para o fortalecimento de discursos autoritários e o enfraquecimento da confiança pública.

Doenças como a malária, a AIDS e a dengue, por exemplo, mostraram que a vulnerabilidade humana é também uma questão política. Enquanto algumas nações conseguem controlar surtos com investimento em pesquisa e infraestrutura, outras enfrentam abandono e negligência histórica.

Isso revela um tipo de “geopolítica da saúde”, em que a sobrevivência de populações inteiras pode depender de decisões tomadas em gabinetes distantes.

Nos últimos anos, o avanço da tecnologia e das redes sociais trouxe uma nova dimensão ao controle social: a do poder algorítmico. Dados pessoais, preferências e emoções são coletados e utilizados para direcionar comportamentos e decisões, muitas vezes sem que o indivíduo perceba.

Trata-se de um controle silencioso e eficaz - uma forma de poder que não precisa impor, apenas sugerir. Assim, quando surgem debates sobre vacinas, políticas de isolamento ou campanhas de informação, o que está em jogo vai além da saúde pública.

Disputa-se também a narrativa política, a autoridade científica e a confiança institucional. De um lado, governos e corporações tentam manter a ordem e a credibilidade; de outro, cresce a desconfiança popular, alimentada por desinformação e traumas históricos de manipulação.

Em última instância, a questão central permanece: quem controla o discurso, controla a percepção - e quem controla a percepção, governa. O verdadeiro desafio contemporâneo é equilibrar a necessidade de políticas públicas eficazes com a preservação da autonomia e da consciência crítica do cidadão.

O poder sempre buscará novas formas de se manter. Cabe à sociedade aprender a reconhecê-las, questioná-las e, quando necessário, resistir a elas.

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