Os
problemas do mundo começaram a ganhar forma quando as zebras de listras pretas
passaram a nutrir rancor pelas zebras de listras brancas. O que antes era
apenas uma diferença natural, uma variação de padrões na savana da convivência,
transformou-se em um abismo de desconfiança e hostilidade.
As
zebras, outrora unidas pela necessidade de sobreviverem aos predadores comuns,
começaram a se dividir, apontando suas diferenças como defeitos, como se as
listras de uma fossem superiores às da outra.
Essa
divisão inicial, aparentemente simples, desencadeou uma onda de
desentendimentos que se espalhou para além das zebras. Outros animais da
savana, inspirados por esse conflito, começaram a enxergar diferenças onde
antes viam apenas diversidade.
Os
leões passaram a julgar os guepardos por sua velocidade, os elefantes acusavam
os rinocerontes de serem rudes, e até os pássaros, que voavam livres acima de
tudo, começaram a se agrupar por cores e cantos, evitando aqueles que não se
encaixavam em seus bandos.
Com o
tempo, o mundo se transformou em um lugar onde cada palavra, cada gesto, cada
olhar era interpretado como uma ofensa. Tudo passou a ser rotulado: injúria,
racismo, homofobia, intolerância.
O que
antes era diálogo virou acusação; o que era curiosidade tornou-se julgamento.
As zebras, que outrora corriam juntas sob o mesmo sol, agora se isolavam em
grupos fechados, cada um convencido de que suas listras eram a única verdade.
A
savana, antes vibrante com a coexistência de tantas espécies, perdeu sua
harmonia. Os rios, que refletiam o céu e uniam todos os animais em sua busca
por água, secaram sob o peso das disputas.
Reuniões
para resolver conflitos se tornavam campos de batalha verbal, onde ninguém
ouvia, apenas gritava. A confiança mútua, que sustentava a vida na savana, foi
substituída por uma vigilância constante, onde todos temiam ser mal
interpretados ou cancelados.
No
entanto, nem tudo estava perdido. Em meio ao caos, algumas zebras, tanto de
listras pretas quanto brancas, começaram a questionar o ciclo de ódio.
Elas se
reuniram em segredo, longe dos olhos julgadores, e decidiram relembrar o que as
unia: a savana era de todos, e os predadores de verdade não se importavam com a
cor das listras.
Essas
zebras, movidas por um desejo de restaurar a harmonia, iniciaram pequenos
gestos de reconciliação. Compartilharam pastagens, caminharam juntas, e, aos
poucos, mostraram que as diferenças não precisavam ser barreiras.
O
caminho para a cura ainda é longo. A savana continua marcada pelas cicatrizes
da divisão, e muitos animais ainda carregam o peso do orgulho e do medo.
Mas, em algum lugar, o som das zebras correndo juntas, com listras pretas e brancas entrelaçadas sob o sol, começa a ecoar novamente, como um lembrete de que a diversidade, quando abraçada, é a força que mantém a savana viva.
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