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sábado, setembro 20, 2025

O Medo do Juízo Final


 

Eu não acredito em vida pós-morte. Na minha visão, a existência humana é estritamente terrena, e conceitos como paraíso ou inferno são construções culturais que não encontram respaldo na realidade.

Essa ideia de uma vida eterna reflete, na verdade, o medo ancestral que a morte desperta no ser humano. Diante da finitude inevitável, a humanidade criou narrativas reconfortantes, como o céu para os virtuosos e o inferno para os pecadores, na tentativa de dar sentido à brevidade da vida e aplacar a angústia da mortalidade.

Essas narrativas, no entanto, não são apenas produtos de uma busca existencial. Ao longo da história, elas foram instrumentalizadas por instituições religiosas para exercer controle social, moral e até econômico.

Não é raro vermos líderes religiosos, como pastores que acumulam fortunas, explorando a fé de seus seguidores, enquanto muitos destes vivem em condições de penúria, presos ao medo do "juízo final" ou à esperança de uma recompensa celestial.

Esse contraste revela como a crença na vida após a morte pode ser usada para perpetuar desigualdades, manipulando a vulnerabilidade emocional das pessoas.

Certa vez, um crente, sabendo das minhas convicções, me perguntou com um tom de espanto: “Será que viemos ao mundo só para viver essa vida?”

Essa pergunta carrega uma inquietação profunda e, ao mesmo tempo, uma presunção típica do ser humano: a ideia de que somos superiores aos outros seres vivos, como se nossa existência devesse, por direito, transcender a deles.

A crença de que a vida humana deve ter um propósito maior, que vá além do ciclo natural de nascimento, vida e morte, muitas vezes nos impede de aceitar a simplicidade da nossa condição.

Os animais, que chamamos de irracionais, vivem sem a necessidade de inventar paraísos ou infernos. Eles existem, cumprem seu ciclo e se vão. Por que seria diferente conosco?

Afinal, toda vida é uma vida, independentemente de quem a viva. O fim, acredito, é realmente o fim. Não há continuidade em um paraíso idílico ou em um inferno em chamas.

Essa visão, embora possa parecer austera, não é desprovida de significado. Pelo contrário, ela nos convida a valorizar o presente, a encontrar propósito no agora e a viver com autenticidade, sem a necessidade de promessas de recompensas ou castigos eternos.

Para além disso, é importante refletir sobre como essas crenças moldam o comportamento humano e a sociedade. Historicamente, a ideia de uma vida após a morte foi usada tanto para inspirar atos de bondade quanto para justificar violências, como cruzadas, inquisições ou conflitos religiosos.

Mesmo hoje, em um mundo mais secularizado, o medo do "fim" ou a esperança de um "além" continuam a influenciar decisões políticas, éticas e pessoais.

Por exemplo, em muitas comunidades, a promessa de um paraíso ainda é usada para consolar os oprimidos, enquanto o temor do inferno serve como ferramenta de coerção moral.

Em última análise, rejeitar a ideia de uma vida pós-morte não significa negar o valor da existência. Pelo contrário, é um convite para abraçar a vida em sua totalidade, com todas as suas imperfeições, alegrias e incertezas.

Se esta é a única vida que temos, cabe a nós torná-la significativa, não por medo ou esperança de algo além, mas pelo impacto que podemos causar no mundo ao nosso redor, nas relações que construímos e nas marcas que deixamos.

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