Lepa Svetozara Radić: A Jovem Heroína da Resistência Iugoslava
Lepa
Svetozara Radić, nascida em 19 de dezembro de 1925, na pequena aldeia de
Gašnica, na Bósnia, tornou-se um símbolo de coragem e resistência durante a
Segunda Guerra Mundial.
Membro
ativo dos Partisans iugoslavos, um dos movimentos de resistência mais eficazes
contra as potências do Eixo, ela foi a mais jovem pessoa condecorada com a
Ordem do Herói do Povo, uma honraria póstuma concedida em 20 de dezembro de
1951, em reconhecimento à sua bravura e sacrifício.
Executada
aos 17 anos, em 8 de fevereiro de 1943, por disparar contra tropas alemãs, Lepa
Radić enfrentou a morte com uma determinação que ecoa até hoje como um exemplo
de resistência inabalável contra a opressão.
Infância e Formação
Lepa
cresceu em uma família humilde na aldeia de Gašnica, na região de Bosanska
Gradiška, na atual Bósnia e Herzegovina. Desde cedo, demonstrou um caráter
sério, dedicado e uma paixão por aprender.
Após
completar a escola primária na vizinha Bistrica, ingressou na Escola de
Artesanato Feminina em Bosanska Krupa, onde frequentou o primeiro ano, antes de
continuar seus estudos em Bosanska Gradiška.
Durante
sua formação, destacou-se pelo empenho nos estudos e pelo interesse em
literatura avançada, que a ajudou a desenvolver um senso crítico e uma visão
progressista do mundo.
A
influência de seu tio, Vladeta Radić, um ativista do movimento trabalhista, foi
decisiva na formação de suas ideias políticas. Ainda adolescente, Lepa abraçou
os ideais de igualdade e justiça social, filiando-se à Liga da Juventude
Comunista da Iugoslávia (SKOJ) em 1940, aos 15 anos.
No ano
seguinte, em 1941, ela se tornou membra do Partido Comunista da Iugoslávia,
comprometendo-se com a luta contra as desigualdades sociais e, posteriormente,
contra a ocupação nazifascista.
O Contexto da Segunda Guerra Mundial na Iugoslávia
A
Iugoslávia foi invadida pelas potências do Eixo em 6 de abril de 1941, em uma
operação relâmpago que desmantelou o Reino da Iugoslávia em poucos dias.
Após a
ocupação, o território iugoslavo foi fragmentado, e as potências do Eixo
estabeleceram o Estado Independente da Croácia (NDH), um estado fantoche
controlado pelos fascistas croatas, conhecidos como Ustaše, aliados dos
nazistas.
O NDH,
que incluía Bosanska Gradiška e arredores, foi marcado por uma brutal repressão
contra sérvios, judeus, ciganos e opositores políticos, com massacres e
políticas de limpeza étnica.
Nesse
cenário de violência e opressão, os Partisans, liderados por Josip Broz Tito,
emergiram como uma força de resistência multifacetada, composta por pessoas de
diversas etnias, religiões e classes sociais.
Diferentemente
de outros movimentos, como os Chetniks, que muitas vezes colaboraram com os
ocupantes, os Partisans mantiveram uma luta consistente contra os nazistas, os
Ustaše e seus aliados, promovendo um ideal de unidade iugoslava e justiça
social.
A Atuação de Lepa Radić na Resistência
Em
novembro de 1941, Lepa e outros membros de sua família foram presos pelos
Ustaše devido às suas ligações com o movimento comunista. A repressão do NDH
contra dissidentes era implacável, mas, com a ajuda de membros da resistência
disfarçados, Lepa e sua irmã, Dara, conseguiram escapar da prisão em 23 de
dezembro de 1941.
Esse
episódio marcou um ponto de virada em sua vida: decidida a combater a ocupação,
ela se juntou formalmente aos Partisans, servindo como combatente na 7ª
Companhia do 2º Destacamento de Krajiški, uma unidade ativa na região da
Krajina.
Como
soldada, Lepa demonstrou coragem e dedicação, participando de operações
arriscadas contra as forças do Eixo. Em fevereiro de 1943, durante a Batalha do
Neretva, um dos confrontos mais significativos da resistência iugoslava, ela
foi encarregada de transportar feridos para um abrigo seguro na região de
Grmeč.
A
batalha, parte da chamada Quarta Ofensiva Antipartisan, envolveu intensos
combates contra a 7ª Divisão de Montanha Voluntária da SS, uma unidade de elite
nazista. Durante essa operação, Lepa foi capturada pelas forças alemãs e levada
para Bosanska Krupa.
Captura, Tortura e Execução
Após
sua captura, Lepa foi submetida à dias de tortura, enquanto os nazistas
tentavam extrair informações sobre os líderes e membros do Partido Comunista e
da resistência. Apesar da brutalidade, ela se manteve firme, recusando-se a
trair seus companheiros.
Condenada
à morte por enforcamento, Lepa enfrentou seus últimos momentos com uma coragem
extraordinária. No cadafalso, em 8 de fevereiro de 1943, com o laço ao redor do
pescoço, os alemães ofereceram clemência em troca da delação de seus camaradas.
Sua resposta foi clara e desafiadora:
"Eu
não sou uma traidora do meu povo. Aqueles por quem vocês perguntam se revelarão
quando tiverem eliminado todos os malfeitores, até o último homem!"
Momentos
antes de sua execução, ela gritou para a multidão reunida:
"Viva
o Partido Comunista e a resistência! Lutem pela vossa liberdade! Não se rendam
aos malfeitores! Eu serei morta, mas há aqueles que me vingarão!"
Lepa
Radić foi executada publicamente aos 17 anos, em um ato que buscava intimidar a
população local e desmoralizar a resistência. No entanto, sua morte teve o
efeito oposto: sua coragem inspirou os Partisans e a população a intensificar a
luta contra os ocupantes.
Legado e Significado
A
história de Lepa Radić transcende sua curta vida, tornando-se um símbolo da
resistência iugoslava e da luta pela liberdade. Sua recusa em ceder, mesmo
diante da morte, exemplifica o espírito indomável dos Partisans, que
desempenharam um papel crucial na libertação da Iugoslávia em 1945.
A
condecoração como Herói do Povo, aos 26 anos de sua morte, reconheceu
oficialmente sua bravura, mas seu impacto vai além de honrarias formais. Lepa
representa a força da juventude na resistência, especialmente das mulheres, que
desempenharam papéis fundamentais nos Partisans, seja como combatentes,
enfermeiras ou mensageiras.
Sua
história também destaca o papel da resistência iugoslava como um dos poucos
movimentos na Europa ocupada que conseguiu libertar territórios significativos
sem depender diretamente da ajuda dos Aliados.
Hoje,
Lepa Radić é lembrada como uma mártir e heroína, com sua história contada em
livros, memoriais e narrativas populares na ex-Iugoslávia. Sua vida curta, mas
intensa, serve como um lembrete do custo da liberdade e da coragem necessária
para enfrentar a tirania.
Em um contexto mais amplo, sua luta ecoa em movimentos de resistência ao redor do mundo, inspirando gerações a defenderem seus ideais, mesmo nas circunstâncias mais adversas.
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