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domingo, setembro 14, 2025

Lepa Radic



 

Lepa Svetozara Radić: A Jovem Heroína da Resistência Iugoslava

Lepa Svetozara Radić, nascida em 19 de dezembro de 1925, na pequena aldeia de Gašnica, na Bósnia, tornou-se um símbolo de coragem e resistência durante a Segunda Guerra Mundial.

Membro ativo dos Partisans iugoslavos, um dos movimentos de resistência mais eficazes contra as potências do Eixo, ela foi a mais jovem pessoa condecorada com a Ordem do Herói do Povo, uma honraria póstuma concedida em 20 de dezembro de 1951, em reconhecimento à sua bravura e sacrifício.

Executada aos 17 anos, em 8 de fevereiro de 1943, por disparar contra tropas alemãs, Lepa Radić enfrentou a morte com uma determinação que ecoa até hoje como um exemplo de resistência inabalável contra a opressão.

Infância e Formação

Lepa cresceu em uma família humilde na aldeia de Gašnica, na região de Bosanska Gradiška, na atual Bósnia e Herzegovina. Desde cedo, demonstrou um caráter sério, dedicado e uma paixão por aprender.

Após completar a escola primária na vizinha Bistrica, ingressou na Escola de Artesanato Feminina em Bosanska Krupa, onde frequentou o primeiro ano, antes de continuar seus estudos em Bosanska Gradiška.

Durante sua formação, destacou-se pelo empenho nos estudos e pelo interesse em literatura avançada, que a ajudou a desenvolver um senso crítico e uma visão progressista do mundo.

A influência de seu tio, Vladeta Radić, um ativista do movimento trabalhista, foi decisiva na formação de suas ideias políticas. Ainda adolescente, Lepa abraçou os ideais de igualdade e justiça social, filiando-se à Liga da Juventude Comunista da Iugoslávia (SKOJ) em 1940, aos 15 anos.

No ano seguinte, em 1941, ela se tornou membra do Partido Comunista da Iugoslávia, comprometendo-se com a luta contra as desigualdades sociais e, posteriormente, contra a ocupação nazifascista.

O Contexto da Segunda Guerra Mundial na Iugoslávia

A Iugoslávia foi invadida pelas potências do Eixo em 6 de abril de 1941, em uma operação relâmpago que desmantelou o Reino da Iugoslávia em poucos dias.

Após a ocupação, o território iugoslavo foi fragmentado, e as potências do Eixo estabeleceram o Estado Independente da Croácia (NDH), um estado fantoche controlado pelos fascistas croatas, conhecidos como Ustaše, aliados dos nazistas.

O NDH, que incluía Bosanska Gradiška e arredores, foi marcado por uma brutal repressão contra sérvios, judeus, ciganos e opositores políticos, com massacres e políticas de limpeza étnica.

Nesse cenário de violência e opressão, os Partisans, liderados por Josip Broz Tito, emergiram como uma força de resistência multifacetada, composta por pessoas de diversas etnias, religiões e classes sociais.

Diferentemente de outros movimentos, como os Chetniks, que muitas vezes colaboraram com os ocupantes, os Partisans mantiveram uma luta consistente contra os nazistas, os Ustaše e seus aliados, promovendo um ideal de unidade iugoslava e justiça social.

A Atuação de Lepa Radić na Resistência

Em novembro de 1941, Lepa e outros membros de sua família foram presos pelos Ustaše devido às suas ligações com o movimento comunista. A repressão do NDH contra dissidentes era implacável, mas, com a ajuda de membros da resistência disfarçados, Lepa e sua irmã, Dara, conseguiram escapar da prisão em 23 de dezembro de 1941.

Esse episódio marcou um ponto de virada em sua vida: decidida a combater a ocupação, ela se juntou formalmente aos Partisans, servindo como combatente na 7ª Companhia do 2º Destacamento de Krajiški, uma unidade ativa na região da Krajina.

Como soldada, Lepa demonstrou coragem e dedicação, participando de operações arriscadas contra as forças do Eixo. Em fevereiro de 1943, durante a Batalha do Neretva, um dos confrontos mais significativos da resistência iugoslava, ela foi encarregada de transportar feridos para um abrigo seguro na região de Grmeč.

A batalha, parte da chamada Quarta Ofensiva Antipartisan, envolveu intensos combates contra a 7ª Divisão de Montanha Voluntária da SS, uma unidade de elite nazista. Durante essa operação, Lepa foi capturada pelas forças alemãs e levada para Bosanska Krupa.

Captura, Tortura e Execução

Após sua captura, Lepa foi submetida à dias de tortura, enquanto os nazistas tentavam extrair informações sobre os líderes e membros do Partido Comunista e da resistência. Apesar da brutalidade, ela se manteve firme, recusando-se a trair seus companheiros.

Condenada à morte por enforcamento, Lepa enfrentou seus últimos momentos com uma coragem extraordinária. No cadafalso, em 8 de fevereiro de 1943, com o laço ao redor do pescoço, os alemães ofereceram clemência em troca da delação de seus camaradas. Sua resposta foi clara e desafiadora:

"Eu não sou uma traidora do meu povo. Aqueles por quem vocês perguntam se revelarão quando tiverem eliminado todos os malfeitores, até o último homem!"

Momentos antes de sua execução, ela gritou para a multidão reunida:

"Viva o Partido Comunista e a resistência! Lutem pela vossa liberdade! Não se rendam aos malfeitores! Eu serei morta, mas há aqueles que me vingarão!"

Lepa Radić foi executada publicamente aos 17 anos, em um ato que buscava intimidar a população local e desmoralizar a resistência. No entanto, sua morte teve o efeito oposto: sua coragem inspirou os Partisans e a população a intensificar a luta contra os ocupantes.

Legado e Significado

A história de Lepa Radić transcende sua curta vida, tornando-se um símbolo da resistência iugoslava e da luta pela liberdade. Sua recusa em ceder, mesmo diante da morte, exemplifica o espírito indomável dos Partisans, que desempenharam um papel crucial na libertação da Iugoslávia em 1945.

A condecoração como Herói do Povo, aos 26 anos de sua morte, reconheceu oficialmente sua bravura, mas seu impacto vai além de honrarias formais. Lepa representa a força da juventude na resistência, especialmente das mulheres, que desempenharam papéis fundamentais nos Partisans, seja como combatentes, enfermeiras ou mensageiras.

Sua história também destaca o papel da resistência iugoslava como um dos poucos movimentos na Europa ocupada que conseguiu libertar territórios significativos sem depender diretamente da ajuda dos Aliados.

Hoje, Lepa Radić é lembrada como uma mártir e heroína, com sua história contada em livros, memoriais e narrativas populares na ex-Iugoslávia. Sua vida curta, mas intensa, serve como um lembrete do custo da liberdade e da coragem necessária para enfrentar a tirania.

Em um contexto mais amplo, sua luta ecoa em movimentos de resistência ao redor do mundo, inspirando gerações a defenderem seus ideais, mesmo nas circunstâncias mais adversas.

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