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domingo, agosto 25, 2024

O último homem


 

O Último Homem e as Baratas: Uma Fábula do Fim

A humanidade sonhava com descobertas, ciência e progresso, mas seus sonhos se desviaram. Queríamos explorar o cosmos, curar doenças e construir um mundo melhor - talvez não místico, mas ao menos mais sábio, mais filosófico.

No entanto, nossas criações foram outras: montanhas de plástico, bombas devastadoras e uma incessante luta por dominação entre nós mesmos. Enquanto isso, as baratas, movidas apenas pela fome primal, multiplicavam-se silenciosamente nos desvãos dos prédios carcomidos, nos esgotos e nas ruínas do que chamávamos de civilização.

Eu me lembro daquele dia, o dia em que o mundo se despedaçou. Estava no olho do furacão, um ponto de silêncio enquanto a história ruía ao meu redor. Uma guerra de nêutrons e vírus, planejada como uma solução "controlada" para a superpopulação e o excesso de lixo, escapou ao controle.

Os antídotos falharam. Em apenas três dias, os vírus consumiram quase toda a população da Terra, deixando para trás um silêncio ensurdecedor, quebrado apenas pelo vento e pelo zumbido das baratas.

Não havia mais pássaros para devorá-las, nem vozes humanas, nem imagens de esperança. Apenas eu, o último homem, ou talvez um eco preso em um mundo que já não existe.

A Sobrevivência em um Mundo sem Vida

Agora, vivo entre latas de enlatados, os últimos vestígios de um tempo em que a terra produzia carne e vegetais. Recuso-me a comer "las cucarachas", embora seus olhos minúsculos pareçam me observar, como se me avaliassem como eu as avalio.

Elas, com suas carapaças aparentemente frágeis, mas resistentes ao apocalipse, herdaram a Terra. Sobrevivem onde nós falhamos, alimentando-se dos restos do nosso excesso.

Às vezes, sinto que elas me perguntam, com um sarcasmo biológico: "Cadê o lixo que vocês prometeram?" Escrevo estas palavras em pedaços de papel, restos de celulose que escondo da avidez das baratas marrons.

Não sei se sobrevivi de fato ou se a vida se transportou para outro plano, deixando-me aqui, um náufrago em um planeta deserto. Releio meus pensamentos como um desabafo, sabendo que ninguém os lerá.

Reflito sobre o amor, aquele sentimento que alguém, em algum lugar, guardava para outro. Será que ele sobreviveu entre as ruínas, ou também foi consumido pelo caos?

O Progresso que se Tornou Atraso

A ciência, que prometia emancipação, tornou-se o atraso da humanidade. Transformamos o progresso em uma máquina cega de produção: plástico, lixo, poluição.

As abelhas desapareceram, as flores murcharam, e as fontes de água potável foram envenenadas. Aqueles que alertavam para o colapso - os que falavam com bom senso, com apreensões ecológicas - eram ridicularizados como "fantasistas" por homens ambiciosos, obcecados pelo lucro imediato.

A produção em série, movida pela ganância, ignorou os sinais de um planeta em colapso. Um orador excêntrico, cuja voz foi abafada pelo sarcasmo, certa vez disse: "Os dinossauros habitaram a Terra por milhões de anos e sumiram.

Talvez a função do homem seja desenterrar petróleo, produzir plástico e lixo, e depois desaparecer." Ele quase acertou. O homem tornou-se um subproduto de sua própria ganância, um mero catalisador da destruição. As baratas, com sua simplicidade instintiva, provaram-se mais aptas à sobrevivência.

Contexto Histórico e Crítica Social

A narrativa reflete um futuro distópico, mas suas raízes estão no presente. Desde a Revolução Industrial, a humanidade intensificou a exploração dos recursos naturais, produzindo quantidades insustentáveis de resíduos.

No século XX, a ascensão do plástico - um material revolucionário, mas praticamente indestrutível - transformou o planeta em um depósito de lixo. Estima-se que, até 2025, mais de 8 bilhões de toneladas de plástico tenham sido produzidas, grande parte descartada em oceanos e aterros, sufocando ecossistemas.

A superpopulação, um tema recorrente em debates científicos e políticos, foi abordada em teorias controversas, como as de Thomas Malthus no século XVIII, que alertava para o crescimento populacional insustentável.

No século XXI, a crise climática e a poluição intensificaram essas discussões, com alguns defendendo soluções radicais, como o controle populacional. A "guerra controlada" mencionada no texto evoca experimentos hipotéticos de bioengenharia que, na ficção, escapam ao controle, como em romances distópicos como Admirável Mundo Novo ou 1984.

A metáfora das baratas é poderosa. Esses insetos, conhecidos por sua resiliência, sobrevivem a condições extremas, incluindo radiação. Estudos indicam que baratas podem resistir a doses de radiação até 10 vezes maiores que humanos, o que as torna candidatas a "herdar a Terra" em cenários apocalípticos.

Elas simbolizam a ironia de nossa queda: enquanto sonhávamos com utopias, fomos superados por criaturas movidas apenas pela sobrevivência.

Ampliação da Narrativa: Um Olhar para o Passado e o Futuro

Para enriquecer a história, podemos imaginar o último homem como um cientista ou escritor que, antes do colapso, tentou alertar o mundo. Talvez ele fosse um ecologista que publicava artigos ignorados, ou um poeta cujas palavras sobre a natureza eram vistas como romantismo inútil.

Ele poderia ter guardado um caderno com memórias de um tempo em que as florestas ainda cantavam com pássaros e os rios corriam limpos. Agora, suas anotações são um testemunho solitário, um grito preso em papéis que as baratas ameaçam consumir.

O texto também pode ser expandido com um evento específico que desencadeou a catástrofe. Talvez a "guerra de nêutrons e vírus" tenha sido um experimento secreto de uma coalizão de nações, visando reduzir a população para salvar recursos.

Os antídotos, testados em laboratórios de alta tecnologia, falharam devido a um erro humano ou a uma mutação imprevista do vírus. Em três dias, a civilização colapsou, deixando cidades vazias e mares de plástico como monumentos de nossa arrogância.

Reflexões para o Presente

Este texto não é uma utopia, nem uma súbita revelação científica. É um alerta, uma antecipação dos frutos da apatia. Vivemos em um mundo onde a produção e o consumo desenfreados seguem sem pausa, enquanto os sinais de colapso - aquecimento global, extinção de espécies, poluição - são ignorados em nome do lucro.

Como as baratas tontas, corremos em círculos, obcecados por acumular, sem refletir sobre as consequências. A mensagem do texto é um convite à ação. Ainda estamos na "boa e velha Terra", mas o caos se aproxima se não mudarmos.

Precisamos ouvir os "oradores excêntricos" - cientistas, ativistas, artistas - que nos pedem para proteger as abelhas, as florestas e os oceanos. A gratidão pela natureza, pelo equilíbrio do planeta, deve substituir a ganância. O amor, que o narrador questiona, pode ser nossa salvação: amor pelo mundo, pelos outros, pelo futuro.

Conclusão

A fábula do último homem e das baratas é um espelho de nossas escolhas. Enquanto sonhávamos com conquistas grandiosas, esquecemos de cuidar do que nos sustenta.

As baratas, com sua resiliência humilde, zombam de nossa arrogância, sobrevivendo onde falhamos. Mas ainda há tempo. Que este texto nos inspire a refletir, a agir e a redescobrir o amor pela Terra, antes que nos tornemos apenas uma nota de rodapé na história de um planeta que, sem nós, seguirá girando.

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