O
sistema Gulag foi um conjunto de campos de trabalhos forçados na União
Soviética, destinado a criminosos comuns, presos políticos e qualquer cidadão
que se opusesse ao regime soviético.
Embora
abrigasse diversos tipos de prisioneiros, a grande maioria era composta por
presos políticos. Um exemplo emblemático é o campo de Kengir, onde, em junho de
1954, havia 650 presos comuns contra 5.200 presos políticos, evidenciando a
predominância de opositores políticos.
Antes
da Revolução Bolchevique de 1917, o sistema de repressão já existia no Império
Russo sob o nome de Katorga, que aplicava penas de privação de liberdade,
trabalhos forçados e, em alguns casos, execução.
Com a
ascensão dos bolcheviques, esse sistema foi ampliado em escala exponencial,
tornando-se ainda mais brutal. As condições nos Gulags eram extremamente
desumanas, marcadas por fome crônica, frio extremo, trabalho exaustivo
semelhante à escravidão e abusos por parte dos guardas.
Relatos
históricos apontam até mesmo casos de canibalismo em momentos de desespero. A
criminalização da dissidência política era uma prática herdada do Império Russo
Czarista, que também reprimia heresias religiosas.
Nos
Gulags, além de presos políticos, havia condenados por crimes como vadiagem,
furto, roubo, agressão, homicídio e estupro. Durante períodos de conflitos,
como guerras internas e externas, o sistema também absorvia prisioneiros de
guerra, incluindo soldados capturados durante a Segunda Guerra Mundial.
O
sistema Gulag operou oficialmente de 25 de abril de 1930 até 1960, embora sua
influência tenha começado a declinar após a morte de Josef Stalin, em 1953.
Milhões
de pessoas foram aprisionadas, muitas delas vítimas das perseguições
stalinistas, rotuladas como "pessoas infames" que deveriam ser
"reeducadas" por meio de trabalhos forçados para merecer um lugar na
chamada "Pátria Mãe" (a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,
URSS).
Na
prática, os Gulags se tornaram um símbolo da repressão brutal do regime
stalinista, com condições de trabalho que incluíam jornadas excessivas,
desnutrição e violência sistemática.
Os
campos se espalhavam por regiões remotas como a Sibéria, o Cazaquistão e a
Ucrânia, destinando-se, em grande parte, a silenciar e torturar opositores do
regime, como anarquistas, trotskistas, outros marxistas dissidentes,
intelectuais, religiosos e qualquer um que questionasse a autoridade do Estado.
A
brutalidade dos Gulags inspirou comparações com sistemas de campos de trabalho
forçado em outros regimes autoritários, como os campos da Coreia do Norte, que
persistem até hoje.
Shin
Dong-hyuk, um norte-coreano nascido em um campo de trabalho forçado e que
conseguiu fugir, denunciou violações graves de direitos humanos, incluindo
torturas, execuções e "reeducação" por meio de sofrimento físico e
psicológico, práticas que ecoam os métodos dos Gulags soviéticos.
Número de Prisioneiros e Mortes
O
número de prisioneiros nos Gulags cresceu significativamente ao longo de sua
existência. Em 1930, havia cerca de 179.000 detentos, número que aumentou para
510.307 em 1934. Durante os expurgos stalinistas, especialmente em 1938, o
total atingiu 1.881.570.
Durante
a Segunda Guerra Mundial, houve uma redução temporária (1.179.819 em 1944)
devido ao recrutamento de prisioneiros para o Exército Vermelho. Após o
conflito, o número voltou a crescer, alcançando um pico de aproximadamente 2,5
milhões em 1950, permanecendo estável até 1953.
Estima-se
que, entre 1929 e 1953, cerca de 18 milhões de pessoas passaram pelos Gulags,
considerando a alta rotatividade de entradas e saídas. Além dos detentos
regulares, o sistema incluía cerca de 4 milhões de prisioneiros de guerra e
pelo menos 6 milhões de "deportados especiais", como camponeses
deslocados durante a coletivização forçada, totalizando cerca de 28 milhões de
pessoas afetadas.
As
mortes no sistema Gulag são difíceis de precisar, mas estimativas apontam para
2.749.163 óbitos, excluindo execuções judiciais (das quais 786.098 foram por
motivos políticos).
Dados
oficiais soviéticos indicam 1.053.829 mortes entre 1934 e 1953, sem contar os
falecimentos em colônias de trabalho.
Prisioneiros Estrangeiros e o Caso dos Americanos
Os
Gulags também abrigavam prisioneiros de outras nacionalidades, incluindo
cidadãos dos Estados Unidos. Durante a Grande Depressão, a Amtorg Trading
Corporation, representação comercial soviética nos EUA, atraiu milhares de
trabalhadores americanos com promessas de melhores condições de vida e trabalho
na URSS.
Muitos
contribuíram para a industrialização soviética, mas, ao se tornarem
dispensáveis, foram presos e enviados aos Gulags. Poucos conseguiram retornar
aos EUA. Um caso notável é o de Victor Herman, um paraquedista americano que
passou 18 anos detido na Sibéria após recusar a cidadania soviética.
Sua
história, narrada no livro Coming Out of the Ice e adaptada para um telefilme
em 1982, destaca as condições desumanas e a repressão enfrentada por
estrangeiros.
Estimativas e Dados Históricos
Segundo
o historiador francês Nicolas Werth, em História da Rússia no Século XX, as
estimativas sobre o número de prisioneiros nos Gulags variam significativamente.
Alguns
pesquisadores, como Timasheff, Bergson e Wheatcroft, sugerem cerca de 3 milhões
de detentos no final dos anos 1930, enquanto outros, como Conquest e
Soljenitsyn, apontam números entre 9 e 10 milhões.
Documentos
oficiais dos arquivos do Gulag, corroborados por censos de 1937 e 1939, indicam
cerca de 2 milhões de prisioneiros em 1940. Considerando a rotatividade, cerca
de 6 milhões de pessoas passaram pelos campos durante os anos 1930.
Após a
Segunda Guerra Mundial, entre 1945 e 1953, o número de detentos cresceu de 1,2
milhão para 2,5 milhões, enquanto os deportados "especiais" passaram
de 1,7 milhão em 1943 para 2,7 milhões em 1953.
Impacto e Legado
O
sistema Gulag não foi apenas um mecanismo de repressão, mas também uma
ferramenta central para a economia soviética, especialmente em projetos de
infraestrutura, como a construção de canais, estradas e minas em regiões
inóspitas.
Contudo,
o custo humano foi devastador. A violência, a fome e as condições desumanas
levaram à morte de milhões e ao sofrimento de muitos outros. O Gulag tornou-se
um símbolo do autoritarismo stalinista e inspirou obras literárias, como
Arquipélago Gulag, de Aleksandr Soljenitsyn, que expôs ao mundo a brutalidade
do sistema.
Após a
morte de Stalin, o sistema Gulag começou a ser desmantelado, com muitos campos
fechados e prisioneiros libertados ou transferidos. No entanto, seu impacto
permanece na memória coletiva como um dos capítulos mais sombrios do século XX.
A
comparação com os campos de trabalho forçado da Coreia do Norte reforça a
atualidade do tema, destacando a persistência de práticas repressivas em
regimes autoritários.
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