Não é
verdade que a saudade se limita ao que foi vivido. Há uma saudade mais sutil,
mais cortante, que brota do que quase foi. Do que se desenhou em sonhos
vívidos, mas nunca ganhou forma.
Do que
se perdeu nas encruzilhadas da vida, por hesitação, por medo ou por falta de
insistência. Essa saudade tem um peso diferente, um sabor indefinido, que
mistura arrependimento, nostalgia e um vazio que não explica.
Ela
surge quando pensamos naquele amor que esteve tão perto, mas escapou por um
instante de desatenção. Naquele projeto que prometia mudar tudo, mas ficou
guardado em anotações esquecidas.
Naquela
viagem que planejamos com detalhes, imaginando cada pôr do sol, mas que nunca
saiu do papel. É a saudade das conversas que não tivemos, das palavras que
engolimos, dos abraços que não demos.
Das
oportunidades que enxergamos, mas deixamos passar, como se o tempo fosse
infinito. Essa saudade não vem só de um momento perdido, mas de uma versão de
nós mesmos que nunca chegou a existir.
É o luto por um "e se" que carrega o peso de mil possibilidades. Lembramos do dia em que quase tomamos coragem para mudar de cidade, de carreira, de vida. Do instante em que sentimos o impulso de dizer a verdade, mas escolhemos o silêncio. E essas memórias, que nunca foram memórias, doem com uma intensidade que surpreende.
Às
vezes, ela se mistura à acontecimentos reais, como aquela noite em que o olhar
cruzado prometia um futuro, mas a timidez venceu. Ou o reencontro com um amigo
de infância, que trouxe à tona planos antigos, sonhos compartilhados que o
tempo dissolveu.
É a
saudade do que poderia ter sido dito na despedida, do que poderia ter sido
construído se a vida não tivesse nos levados por caminhos opostos. Essa saudade
não é apenas dolorida; ela é também um convite.
Um
lembrete de que, enquanto houver tempo, ainda é possível correr atrás do que
quase foi. De transformar o "quase" em realidade. Porque, no fundo, o
que mais pesa não é o que não aconteceu, mas a chance que ainda temos de fazer
acontecer.
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