Com a
ascensão de Adolf Hitler ao poder em 30 de janeiro de 1933, Roland Freisler emergiu
como uma figura central no sistema jurídico do regime nazista. Como juiz e alto
funcionário do Ministério da Justiça, Freisler tornou-se notório por sua
completa desconsideração pelas leis existentes e pelo devido processo legal.
Em sua
infame corte, conhecida como Volksgerichtshof (Tribunal do Povo), os réus
entravam já cientes de que a condenação era praticamente inevitável, muitas
vezes acompanhada de sentenças brutais, incluindo a pena de morte.
Sua
postura implacável e fanática lhe rendeu os apelidos de “Carrasco em Toga” e
“Juiz de Sangue”, refletindo sua crueldade e lealdade inabalável ao ideário
nazista.
Um
evento crucial que consolidou o poder de Hitler e abriu caminho para a
radicalização do regime ocorreu em 27 de fevereiro de 1933, quando o prédio do
Reichstag, sede do Parlamento Alemão, foi devastado por um incêndio.
O
incidente, cuja autoria permanece controversa até hoje, foi atribuído pelo
regime nazista ao comunista holandês Marinus van der Lubbe, que foi preso e
posteriormente executado.
Hitler
e seus aliados aproveitaram o episódio como pretexto para demonizar opositores
políticos, especialmente comunistas e socialistas, e para justificar medidas
autoritárias.
No dia
seguinte ao incêndio, Hitler convenceu o presidente Paul von Hindenburg a
assinar o Decreto do Incêndio do Reichstag. Este decreto suspendeu liberdades
civis fundamentais, como a liberdade de expressão, imprensa, associação e
inviolabilidade de correspondência, além de permitir prisões sem julgamento e
buscas sem mandado.
A
medida marcou o início da consolidação do poder totalitário nazista, eliminando
garantias constitucionais e dando à polícia e às forças paramilitares, como a
SA e a SS, autoridade para reprimir qualquer forma de dissidência.
O incêndio
do Reichstag e o decreto subsequente também pavimentaram o caminho para a
aprovação da Lei de Concessão de Plenos Poderes, em 23 de março de 1933. Essa
lei permitiu que o governo de Hitler legislasse sem a aprovação do Parlamento,
efetivamente encerrando a democracia na Alemanha e estabelecendo uma ditadura
legalizada.
Nesse
contexto, figuras como Roland Freisler ganharam ainda mais proeminência,
utilizando o sistema jurídico para perseguir opositores do regime, incluindo
judeus, socialistas, comunistas, membros da resistência e qualquer pessoa
considerada uma ameaça ao nazismo.
Freisler
presidiu julgamentos notórios, como os que envolveram os conspiradores do
atentado de 20 de julho de 1944 contra Hitler, conhecido como Operação Valquíria.
Durante
esses processos, ele humilhava os réus com insultos e gritos, transformando os
tribunais em verdadeiros espetáculos de propaganda nazista.
Sua
atuação foi marcada por uma combinação de fanatismo ideológico e sadismo,
garantindo que o sistema judicial servisse como uma ferramenta de terror e
repressão.
O
incêndio do Reichstag, portanto, não foi apenas um evento isolado, mas um ponto
de inflexão que acelerou a transformação da Alemanha em um estado totalitário.
Ele simbolizou o colapso das instituições democráticas e abriu espaço para a brutalidade jurídica representada por figuras como Freisler. Até sua morte, em 3 de fevereiro de 1945, durante um bombardeio aliado em Berlim, Roland Freisler permaneceu como um dos mais temidos instrumentos do regime nazista, personificando a perversão do sistema legal em nome de uma ideologia autoritária.
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