Propaganda

quinta-feira, fevereiro 27, 2025

Fumaça Tóxica


Uma das fumaças mais venenosas que enfrentamos diariamente é aquela que sai dos escapamentos dos milhões de veículos que congestionam as ruas das grandes metrópoles.

Carros, ônibus, caminhões e motos liberam uma mistura nociva de gases, como monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e partículas finas de fuligem, que pairam no ar e penetram profundamente nos pulmões de quem respira essa atmosfera poluída.

No entanto, curiosamente, essa fonte de poluição massiva não parece receber a mesma perseguição implacável que foi destinada ao cigarro ao longo das últimas décadas.

Há quem suspeite que as grandes companhias produtoras de cigarros, como a Philip Morris ou a British American Tobacco, possam estar envolvidas em algum tipo de acordo velado com governos.

Talvez, em troca de aceitarem a “descriminação” imposta ao tabaco, elas recebam benefícios financeiros ou incentivos fiscais nos bastidores. Isso explicaria por que essas empresas não apenas toleram, mas até colaboram com as campanhas antitabagismo, estampando imagens chocantes de pulmões enegrecidos e alertas gráficos nos maços de cigarros.

Seria uma troca conveniente: carregar o estigma público enquanto outras fontes de poluição, bem mais abrangentes, passam despercebidas ou convenientemente ignoradas.

A realidade é que, todos os dias, toneladas de fuligem tóxica e gases nocivos são despejados na atmosfera por uma infinidade de fontes: indústrias soltam emissões de enxofre e metais pesados, queimadas florestais liberam compostos cancerígenos, e usinas termoelétricas a carvão expelem dióxido de carbono em quantidades colossais.

Só para ilustrar, um estudo da Organização Mundial da Saúde estima que a poluição do ar, em grande parte causada por combustíveis fósseis, seja responsável por cerca de 7 milhões de mortes prematuras por ano no mundo.

Enquanto isso, o cigarro, que certamente não é inofensivo - sendo ligado a mais de 8 milhões de mortes anuais, segundo a mesma OMS, incluindo fumantes passivos - acaba carregando sozinho o título de vilão supremo da saúde pública.

Não se trata aqui de defender o tabagismo, porque os malefícios do cigarro são inegáveis: desde o câncer de pulmão até doenças cardiovasculares, ele é um hábito que cobra um preço alto de quem o pratica.

Mas há, sim, uma hipocrisia evidente nessa narrativa que aponta o dedo para o indivíduo fumante enquanto fecha os olhos para os escapamentos vomitando fumaça preta nas avenidas ou para as chaminés das fábricas que envenenam o ar de comunidades inteiras.

Por que o cidadão comum é bombardeado com campanhas para largar o vício, enquanto as grandes corporações poluidoras - muitas vezes protegidas por interesses econômicos ou lobby poderoso - continuam operando sem o mesmo escrutínio?

Talvez o problema esteja na facilidade de culpar o visível e o individual, como o fumante na esquina, em vez de enfrentar os sistemas complexos e lucrativos que sustentam a poluição em larga escala.

O cigarro virou o bode expiatório perfeito: algo tangível para demonizar, enquanto a fumaça tóxica dos veículos e das indústrias segue sufocando o planeta com uma impunidade silenciosa.

É uma reflexão que não absolve o tabaco, mas questiona por que a responsabilidade pela saúde pública parece recair tão desproporcionalmente sobre os ombros de quem acende um cigarro, e não sobre aqueles que mantêm o ar irrespirável para todos nós.

0 Comentários: