Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.
(William Shakespeare)
O sonho,
em seu sentido estrito, é uma experiência mental que ocorre durante o
período de sono, geralmente na fase conhecida como sono REN, e possui significados
distintos se for ampliado em um debate que envolva religião, ciência e cultura.
Para a
ciência, é um período de imaginação do inconsciente. Para Freud (psicólogo
e neurologista austríaco), os sonhos noturnos são gerados, na busca pela
realização de um desejo reprimido.
Recentemente,
descobriu-se que até os bebês no útero têm sono REM e sonham, mas não
se sabe com o quê. Em diversas tradições culturais e religiosas, o sonho
aparece revestido de poderes premonitórios ou até mesmo de uma expansão da
consciência.
O psiquiatra
e pesquisador americano John Allan Hobson considerou os sonhos como "um
mero subproduto da atividade cerebral noturna". Existem duas fases do
sono: a primeira é o sono de ondas lentas, em que a atividade do cérebro é
baixa e, por isso, não se formam filmes em nossa mente.
Já a
segunda fase é de alta atividade e nomeada REM - sigla em inglês para
"movimentação rápida dos olhos" (Rapid Eyes Movement); é durante a
fase de REM que os sonhos ocorrem, pelo menos nos adultos.
Freud e o Sonho
Foi em
1900, com a publicação de A Interpretação dos Sonhos, que Sigmund Freud deu um
caráter psicanalítico à matéria. Em seu livro, Freud aproveita o que já
havia sido publicado anteriormente e faz investidas completamente novas,
definindo o conteúdo do sonho, geralmente como a “realização de um desejo”.
Para o
pai da psicanalise, no enredo onírico há o sentido manifesto (a fachada) e o
sentido latente (o significado), este último realmente importante. A fachada
seria um despiste do superego (o censor da psique, que escolhe o que se
torna consciente ou não dos conteúdos inconscientes), enquanto o sentido
latente, por meio da interpretação simbólica, revelaria o desejo do sonhador
por trás dos aparentes absurdos da narrativa.
Carl Gustav Jung e o Sonho
O
psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, baseado na observação dos seus pacientes e
em experiências próprias, tornou mais abrangente o papel dos sonhos, que não
seriam apenas reveladores de desejos ocultos, mas sim, uma ferramenta da psique que
busca o equilíbrio por meio da compensação.
Ou
seja, alguém masculinizado pode sonhar com figuras femininas que tentam
demonstrar ao sonhador a necessidade de uma mudança de atitude.
Na
busca pelo equilíbrio, personagens arquetípicas interagem nos sonhos em um
conflito que buscam levar ao consciente conteúdo do inconsciente. Entre essas
personagens, estão a anima (força feminina na psique dos homens), o animus (força
masculina na psique das mulheres) e a sombra (força que se alimenta dos
aspectos não aceitos de nossa personalidade).
Esta
última, nos sonhos, são os vilões. Um aspecto muito importante em se atentar
nos sonhos, segundo a linha junguiana, é saber como o sonhador, o protagonista
no sonho (que representa o ego) lida com as forças malignas (a sombra), para se
averiguar como, na vida desperta, a pessoa lida com as adversidades, a
autoridade e a oposição de ideias.
Jung
aponta os sonhos como forças naturais que auxiliam o ser humano no processo de
individualização.
Ao
contrário de Freud, as situações absurdas dos sonhos para Jung não seriam uma
fachada, mas a forma própria do inconsciente de se expressar. Para o mestre
suíço, há os sonhos comuns e os arquetípicos, revestidos de grande poder
revelador para quem sonha. A interpretação de sonhos é uma ferramenta crucial
para a psicologia analítica, desenvolvida por Jung.
Abordagem Psicanalítica
Os
sonhos são cargas emocionais armazenadas no inconsciente, que projetam imagens
e sons, e de acordo com Freud como sabemos que os objetos nos sonhos são
derivados de cargas emocionais, podemos através deles chegar à raiz, ou seja,
as emoções que geraram essa imagem ou som.
Sendo
estudados corretamente podem se descrever, ou melhor, conhecer o momento
psicológico do indivíduo. Fazendo uma analogia, poderíamos pensar numa espécie
de "fotografia" do inconsciente naquele momento. Por isso, o sonho
sempre demonstra aspectos da vida emocional.
Nos
sonhos sua linguagem são o que Freud denomina símbolos. Para entender seus
variados conteúdos, temos que reconhecer o que os símbolos representam nesse
sonho. semelhante ao que foi estudado por Stanislavsk.
A simbologia dos sonhos não só está dada pelo contato que o criador do sonho teve com o objeto mas também com o caráter, ou seja, a forma que ele lida relaciona sentimentalmente esse objeto a coisas de sua vida, um exemplo prático o mar pode apresentar distintas simbologias (que são importantes para a interpretação dos sonhos se trata de descobrir a raiz) variando de pessoa a pessoa (inclusive a época) para alguns o mar pode significar destruição (o mar destruindo estruturas deixadas na praia).
Mas,
para outros invasão (a água avançando e invadindo território) de acordo com
Freud o que a pessoa sente quanto a esse objeto ou essa situação é fundamental
para a interpretação de sonho.
"Os
sonhos são a estrada real para o conhecimento da mente". Portanto as
terapias psicanalíticas usam interpretação dos sonhos como um recurso para
"elaborar". Carl Gustav Jung passou a se dedicar profundamente aos
meios pelos quais se expressa o inconsciente.
Em sua
teoria, enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de
material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto
fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou
melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os
arquétipos.
Sonho e Sono REN
Existem
outras correntes, que veem o sonho de modo diverso. Os neurocientistas, de modo
geral, afirmam que o sonho é apenas uma espécie de tráfego de informação sem
sentido que tem por função manter o cérebro em ordem.
Essa
teoria só não explica como esses enredos supostamente desconexos são
responsáveis por grandes insights, como em Thomas Edison, por exemplo.
Existem muitos outros casos de sonhos reveladores em várias áreas da ciência e
da arte, que todavia não impedem que os sonhos sirvam também para recuperar a
saúde do organismo e do cérebro.
Sonhos e Revelações
A
oniromancia, previsão do futuro pela interpretação dos sonhos, tem grande
credibilidade nas religiões judaico-cristãs: consta na Torá e na bíblia que
Jacó, José e Daniel receberam de Deus a habilidade de interpretar os sonhos.
No Novo
Testamento, São José é avisado em sonho pelo anjo Gabriel de que sua
esposa traz no ventre uma criança divina, e depois da visita dos Reis Magos um
anjo em sonho o avisa para fugir para o Egito e quando seria seguro retornar a
Israel.
Na
história de São Patrício, na Irlanda, também figura o sonho. Quando
escravizado, Patrício em sonho é avisado de que um barco o espera para que
retorne à sua terra natal. No islamismo, os sonhos bons são inspirados por Alah
e podem trazer mensagens divinatórias, enquanto os pesadelos são considerados
armadilhas de Satã.
Filósofos
ocidentais eram céticos quanto ao tema religião e sonhos, por alegarem que não
haveria controle consciente durante os sonhos, mas estudos recentes analisando
movimentos dos olhos (REM) durante o sono mostram resultados cientificamente
comprovados com sonhos lúcidos, que se contrapõem às teorias anteriores.
Pensadores,
cientistas e matemáticos como René Descartes e Friedrich August Kekulé von
Stradonitz também tiveram em sonhos visões reveladoras. Descartes, em
viagem à Alemanha, teve uma visão em sonho de um novo sistema matemático e
científico.
Kekulé
propôs a fórmula hexagonal do benzeno após sonhar com uma cobra que mordia
sua própria cauda. O grande pai da tabela periódica, Dmitri Mendeleiev, afirmou
ter tido um sonho no qual era mostrado o modelo da tabela periódica atual.
Sonho em Preto e Branco
Uma
parte minoritária da população, cerca de 12%, sonha em preto e branco. Em 2008,
um estudo da Universidade de Dundee descobriu que pessoas que foram expostas
apenas a televisão e filmes em preto e branco quando crianças reportam ter
sonhos monocromáticos 25% das vezes em que sonham.
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