"Não Digam Nunca: Isso é Natural" – Uma Advertência de Bertolt Brecht.”
Nós vos
pedimos com insistência: não digam nunca: ‘Isso é natural.’ Diante dos
acontecimentos de cada dia, numa época em que reina a confusão, em que corre
sangue, em que o arbitrário tem força de lei, em que a humanidade se
desumaniza, não digam nunca: ‘Isso é natural.’
Para
que nada passe a ser imutável. Essa poderosa advertência do dramaturgo, poeta e
pensador alemão Bertolt Brecht (1898-1956) é um chamado à reflexão crítica e à
resistência contra a aceitação passiva das injustiças e atrocidades do mundo.
Escrita
em um contexto de turbulência política e social, a citação reflete a essência
do pensamento de Brecht, que usava o teatro e a escrita como ferramentas para
desafiar as estruturas de poder e despertar a consciência coletiva.
Ele nos
alerta: normalizar o inaceitável é abrir as portas para que a opressão e a
desumanização se tornem permanentes.
Contexto Histórico e a Origem do Apelo
Brecht
escreveu essas palavras em meio ao caos do século XX, uma era marcada por
guerras, totalitarismos e desigualdades extremas. Nascido em Augsburg, na
Alemanha, ele viveu a ascensão do nazismo, testemunhou a devastação da Segunda
Guerra Mundial e enfrentou o exílio por sua oposição ao regime de Hitler.
Seus
textos, muitas vezes impregnados de crítica social, buscavam desmascarar as
injustiças disfarçadas de “ordem natural” pelas elites e pelos sistemas opressivos.
A
citação reflete o período em que Brecht, como marxista e humanista, observava a
manipulação das massas e a naturalização de horrores como a violência estatal,
a propaganda fascista e a exploração econômica.
Durante
os anos 1930 e 1940, ele via o mundo mergulhado em “confusão” - a ascensão de
regimes autoritários, o sofrimento das vítimas de guerra e a cumplicidade
silenciosa de muitos que aceitavam tais eventos como inevitáveis.
Para
Brecht, dizer “isso é natural” era ceder à apatia, legitimando a brutalidade e
permitindo que ela se perpetuasse como algo imutável.
Uma Mensagem Atemporal
A força
do apelo de Brecht transcende seu tempo. Ele nos convida a questionar as normas
e acontecimentos que moldam nossa realidade, sejam eles políticos, sociais ou
econômicos.
No
contexto histórico, sua mensagem ecoava contra o nazismo e o capitalismo
desenfreado, mas hoje ressoa em desafios contemporâneos: crises climáticas
ignoradas como “parte da natureza”, desigualdades sociais justificadas como
“inevitáveis”, ou violações de direitos humanos aceitas como “o jeito que as
coisas são”.
Brecht
nos lembra que nada é inerentemente “natural” - tudo é construído por ações
humanas e, portanto, pode ser transformado por elas. Por exemplo, durante a
Segunda Guerra Mundial, a propaganda nazista tentou normalizar a exclusão e o
extermínio de grupos inteiros, apresentando-os como uma necessidade “natural”
para a ordem social.
Brecht,
com sua dramaturgia épica, desafiava essa lógica, usando peças como Mãe Coragem
e Seus Filhos (1939) e O Círculo de Giz Caucasiano (1944) para expor como a
guerra e a exploração eram produtos de decisões humanas, não de forças
inevitáveis.
Ele
queria que o público saísse do teatro não apenas emocionado, mas questionando:
“Por que aceitamos isso? Como podemos mudar?”
Relevância nos Dias Atuais
Hoje,
as palavras de Brecht continuam urgentes. Vivemos em uma era de polarização,
desinformação e crises globais, onde a indiferença pode ser tão perigosa quanto
a ação direta.
Quando
populações são deslocadas por conflitos, quando a violência policial é
justificada como “ordem”, ou quando a destruição ambiental é tratada como um
“custo do progresso”, a tentação de dizer “isso é natural” permanece.
Brecht
nos exorta a rejeitar essa passividade, a reconhecer que tais condições são
resultados de escolhas humanas - e, portanto, passíveis de mudança. Por
exemplo, os movimentos sociais contemporâneos, como os que lutam por justiça
racial, igualdade de gênero ou ação climática, ecoam o espírito de Brecht.
Eles
desafiam narrativas que tentam naturalizar a opressão ou a destruição, exigindo
responsabilidade e transformação. A citação também ressoa em tempos de “fake
news” e manipulação midiática, onde a confusão - que Brecht mencionava - é
alimentada por desinformação deliberada, dificultando a distinção entre verdade
e manipulação.
Um Chamado à Ação
Brecht
não queria apenas que seus leitores ou espectadores refletissem; ele queria que
agissem. Seu teatro, conhecido como “épico” ou “dialético”, buscava romper a
ilusão de que o público era apenas um observador passivo.
Ele
usava técnicas como o “efeito de distanciamento” para fazer as pessoas pensarem
criticamente sobre o que viam, questionando as estruturas de poder que moldam o
mundo.
Essa
citação é, em si, um convite à ação: não aceite o inaceitável, não normalize o
injusto, não permita que o arbitrário se torne lei. Ao dizer “para que nada
passe a ser imutável”, Brecht aponta para a esperança.
Ele
acreditava no poder da humanidade para transformar sua realidade, desde que se
recusasse a tratar o sofrimento como inevitável. Seja na luta contra regimes
opressivos, na resistência à desigualdade ou no combate à desumanização, sua
mensagem é um lembrete de que o futuro está nas mãos de quem ousa questionar e
agir.
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