Propaganda

quinta-feira, agosto 14, 2025

Uma Tragédia


"Não Digam Nunca: Isso é Natural" – Uma Advertência de Bertolt Brecht.”

Nós vos pedimos com insistência: não digam nunca: ‘Isso é natural.’ Diante dos acontecimentos de cada dia, numa época em que reina a confusão, em que corre sangue, em que o arbitrário tem força de lei, em que a humanidade se desumaniza, não digam nunca: ‘Isso é natural.’

Para que nada passe a ser imutável. Essa poderosa advertência do dramaturgo, poeta e pensador alemão Bertolt Brecht (1898-1956) é um chamado à reflexão crítica e à resistência contra a aceitação passiva das injustiças e atrocidades do mundo.

Escrita em um contexto de turbulência política e social, a citação reflete a essência do pensamento de Brecht, que usava o teatro e a escrita como ferramentas para desafiar as estruturas de poder e despertar a consciência coletiva.

Ele nos alerta: normalizar o inaceitável é abrir as portas para que a opressão e a desumanização se tornem permanentes.

Contexto Histórico e a Origem do Apelo

Brecht escreveu essas palavras em meio ao caos do século XX, uma era marcada por guerras, totalitarismos e desigualdades extremas. Nascido em Augsburg, na Alemanha, ele viveu a ascensão do nazismo, testemunhou a devastação da Segunda Guerra Mundial e enfrentou o exílio por sua oposição ao regime de Hitler.

Seus textos, muitas vezes impregnados de crítica social, buscavam desmascarar as injustiças disfarçadas de “ordem natural” pelas elites e pelos sistemas opressivos.

A citação reflete o período em que Brecht, como marxista e humanista, observava a manipulação das massas e a naturalização de horrores como a violência estatal, a propaganda fascista e a exploração econômica.

Durante os anos 1930 e 1940, ele via o mundo mergulhado em “confusão” - a ascensão de regimes autoritários, o sofrimento das vítimas de guerra e a cumplicidade silenciosa de muitos que aceitavam tais eventos como inevitáveis.

Para Brecht, dizer “isso é natural” era ceder à apatia, legitimando a brutalidade e permitindo que ela se perpetuasse como algo imutável.

Uma Mensagem Atemporal

A força do apelo de Brecht transcende seu tempo. Ele nos convida a questionar as normas e acontecimentos que moldam nossa realidade, sejam eles políticos, sociais ou econômicos.

No contexto histórico, sua mensagem ecoava contra o nazismo e o capitalismo desenfreado, mas hoje ressoa em desafios contemporâneos: crises climáticas ignoradas como “parte da natureza”, desigualdades sociais justificadas como “inevitáveis”, ou violações de direitos humanos aceitas como “o jeito que as coisas são”.

Brecht nos lembra que nada é inerentemente “natural” - tudo é construído por ações humanas e, portanto, pode ser transformado por elas. Por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, a propaganda nazista tentou normalizar a exclusão e o extermínio de grupos inteiros, apresentando-os como uma necessidade “natural” para a ordem social.

Brecht, com sua dramaturgia épica, desafiava essa lógica, usando peças como Mãe Coragem e Seus Filhos (1939) e O Círculo de Giz Caucasiano (1944) para expor como a guerra e a exploração eram produtos de decisões humanas, não de forças inevitáveis.

Ele queria que o público saísse do teatro não apenas emocionado, mas questionando: “Por que aceitamos isso? Como podemos mudar?”

Relevância nos Dias Atuais

Hoje, as palavras de Brecht continuam urgentes. Vivemos em uma era de polarização, desinformação e crises globais, onde a indiferença pode ser tão perigosa quanto a ação direta.

Quando populações são deslocadas por conflitos, quando a violência policial é justificada como “ordem”, ou quando a destruição ambiental é tratada como um “custo do progresso”, a tentação de dizer “isso é natural” permanece.

Brecht nos exorta a rejeitar essa passividade, a reconhecer que tais condições são resultados de escolhas humanas - e, portanto, passíveis de mudança. Por exemplo, os movimentos sociais contemporâneos, como os que lutam por justiça racial, igualdade de gênero ou ação climática, ecoam o espírito de Brecht.

Eles desafiam narrativas que tentam naturalizar a opressão ou a destruição, exigindo responsabilidade e transformação. A citação também ressoa em tempos de “fake news” e manipulação midiática, onde a confusão - que Brecht mencionava - é alimentada por desinformação deliberada, dificultando a distinção entre verdade e manipulação.

Um Chamado à Ação

Brecht não queria apenas que seus leitores ou espectadores refletissem; ele queria que agissem. Seu teatro, conhecido como “épico” ou “dialético”, buscava romper a ilusão de que o público era apenas um observador passivo.

Ele usava técnicas como o “efeito de distanciamento” para fazer as pessoas pensarem criticamente sobre o que viam, questionando as estruturas de poder que moldam o mundo.

Essa citação é, em si, um convite à ação: não aceite o inaceitável, não normalize o injusto, não permita que o arbitrário se torne lei. Ao dizer “para que nada passe a ser imutável”, Brecht aponta para a esperança.

Ele acreditava no poder da humanidade para transformar sua realidade, desde que se recusasse a tratar o sofrimento como inevitável. Seja na luta contra regimes opressivos, na resistência à desigualdade ou no combate à desumanização, sua mensagem é um lembrete de que o futuro está nas mãos de quem ousa questionar e agir.

0 Comentários: