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domingo, julho 13, 2025

Nos dias de hoje


 

De Mãos Dadas com o Tempo

Nos dias de hoje, tudo é pressa. Vivemos conectados a telas que nos prometem o mundo, mas mal enxergamos quem está ao nosso lado. Corremos de um compromisso ao outro, sufocados por notificações, metas e ruídos que nos afastam do essencial.

Com tanta correria, tanta disputa por espaço, por poder, por dinheiro, por um lugar que nunca se fixa, às vezes me pego encantado com cenas simples - quase invisíveis aos olhos modernos.

Outro dia, numa manhã qualquer, vi um casal de velhinhos atravessando a rua com passos lentos e entrelaçados. A mão dela, fina e enrugada, repousava sobre a dele.

A outra mão segurava uma bengala, não com força, mas com uma aceitação tranquila de que o corpo já não era o mesmo. Falta equilíbrio, pensei. Mas sobra amor. Falta vigor, mas transborda história. Faltam músculos firmes, mas há ali uma firmeza de alma que o tempo só aprimora.

Em suas feições marcadas pelo tempo, não havia maquiagem, filtros ou disfarces. Apenas linhas - linhas que contavam silêncios, alegrias, despedidas, esperas.

Linhas que talvez tenham surgido depois de noites mal dormidas com filhos pequenos, ou após perdas que exigiram uma força que só quem ama conhece. Ali, naquela travessia lenta, havia mais beleza do que em qualquer desfile de juventudes ansiosas por curtidas.

Envelhecer não é um fardo. É uma conquista. Mas em tempos de Botox, de juventudes plastificadas e afetos descartáveis, esquecemos que o verdadeiro amor não se mede por intensidade passageira, mas por presença contínua.

Olhamos para fora - para os espelhos, para os outros, para os padrões - e esquecemos de olhar para dentro. De nós. Do outro. Do amor.

Aquela cena ficou comigo o dia inteiro. E ainda volta, de vez em quando, como um lembrete delicado: amar também é envelhecer junto. É seguir caminhando, mesmo quando o corpo cansa, mesmo quando os dias parecem repetidos. É dar as mãos não apenas por afeto, mas por apoio, por gratidão, por memória.

No fundo, penso que todo mundo, no íntimo, sonha com isso. Um amor que resista ao tempo, às rugas, às tempestades. Um amor que, mesmo sem juventude, conserve ternura. Que mesmo sem palavras, fale. Que mesmo sem pressa, chegue.

Porque o tempo passa. E quando ele passa, tudo muda - menos o gesto simples e sagrado de estar ao lado. De mãos dadas com o tempo. De mãos dadas com alguém.

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