De Mãos Dadas com o Tempo
Nos dias de hoje, tudo é
pressa. Vivemos conectados a telas que nos prometem o mundo, mas mal enxergamos
quem está ao nosso lado. Corremos de um compromisso ao outro, sufocados por
notificações, metas e ruídos que nos afastam do essencial.
Com tanta correria, tanta
disputa por espaço, por poder, por dinheiro, por um lugar que nunca se fixa, às
vezes me pego encantado com cenas simples - quase invisíveis aos olhos
modernos.
Outro dia, numa manhã
qualquer, vi um casal de velhinhos atravessando a rua com passos lentos e
entrelaçados. A mão dela, fina e enrugada, repousava sobre a dele.
A outra mão segurava uma
bengala, não com força, mas com uma aceitação tranquila de que o corpo já não
era o mesmo. Falta equilíbrio, pensei. Mas sobra amor. Falta vigor, mas
transborda história. Faltam músculos firmes, mas há ali uma firmeza de alma que
o tempo só aprimora.
Em suas feições marcadas
pelo tempo, não havia maquiagem, filtros ou disfarces. Apenas linhas - linhas
que contavam silêncios, alegrias, despedidas, esperas.
Linhas que talvez tenham
surgido depois de noites mal dormidas com filhos pequenos, ou após perdas que
exigiram uma força que só quem ama conhece. Ali, naquela travessia lenta, havia
mais beleza do que em qualquer desfile de juventudes ansiosas por curtidas.
Envelhecer não é um fardo.
É uma conquista. Mas em tempos de Botox, de juventudes plastificadas e afetos
descartáveis, esquecemos que o verdadeiro amor não se mede por intensidade
passageira, mas por presença contínua.
Olhamos para fora - para os
espelhos, para os outros, para os padrões - e esquecemos de olhar para dentro.
De nós. Do outro. Do amor.
Aquela cena ficou comigo o
dia inteiro. E ainda volta, de vez em quando, como um lembrete delicado: amar
também é envelhecer junto. É seguir caminhando, mesmo quando o corpo cansa,
mesmo quando os dias parecem repetidos. É dar as mãos não apenas por afeto, mas
por apoio, por gratidão, por memória.
No fundo, penso que todo
mundo, no íntimo, sonha com isso. Um amor que resista ao tempo, às rugas, às
tempestades. Um amor que, mesmo sem juventude, conserve ternura. Que mesmo sem
palavras, fale. Que mesmo sem pressa, chegue.
Porque o tempo passa. E
quando ele passa, tudo muda - menos o gesto simples e sagrado de estar ao lado.
De mãos dadas com o tempo. De mãos dadas com alguém.
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