Chorei porque te amo - mas não sei amar. Porque o amor
em mim é desajeitado, quase selvagem, feito de susto e silêncio, de presença
intensa e fuga repentina.
Chorei porque sempre me canso. Tudo, cedo ou tarde, se
torna peso. E tudo também parece se cansar de mim, como se minha alma tivesse
uma data de validade invisível.
Chorei de um cansaço antigo, quase ancestral - uma
exaustão de existir nesse ciclo onde tudo começa cheio de promessas e termina
esvaziado de sentido.
Chorei
porque me apego ao cheiro do novo, como quem respira esperança pela primeira
vez.
Mas também chorei de melancolia - aquela que se
esconde nos cheiros antigos, nos objetos gastos, nas vozes que não se ouvem
mais. Porque tudo envelhece, e até os cheiros mudam com o tempo. E a vida, essa
tecelã impiedosa, nunca volta.
Chorei
de pavor da rotina, dessa prisão lenta que se disfarça de estabilidade. Mas também chorei de medo do fim, do vazio que sucede cada recomeço. Tenho medo da rotina, mas também temo abandoná-la.
Há um terror escondido em cada transição: o de começar
de novo, sabendo que todo início já carrega em si a semente do fim.
Eu
chorei porque o mundo gira e eu fico – parado, confuso, dividido entre
permanecer ou fugir, entre desejar e desistir.
Chorei porque viver, às vezes, dói mais do que deveria. E porque o amor, esse amor que não sei oferecer do jeito certo, me escapa pelas mãos sempre que penso que o segurei.
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