Perguntei
ao meu velho professor o que era amor, por causa do verbo amar. Aquele sábio ancião me ouviu, fitou-me com um sorriso sereno e respondeu, após
uma pausa: “Amor, meu jovem, conheci só um: substantivo comum, às vezes comum
de dois.”
Com um
brilho de desgosto nos olhos, ele prosseguiu, como quem carrega um segredo
antigo: “Amar, como verbo, não é sempre regular. É triste dizer “amei”, pois
carrega o peso do passado.”
É
incerto dizer “amarei”, pois o futuro é um véu de promessas frágeis. E nunca se diz “hei de amar”, pois o amor não se conjuga em vontades certas.
O verbo
amar, continuou ele, não é igual para todos. Seus tempos e modos se torcem, por
vezes, num defeito sutil:
Há
orações que se perdem, sem predicado claro, sem sujeito definido, Como se o amor, em sua essência, fugisse às regras da gramática da vida. Só
hoje, com o passar dos anos, dou valor à lição que o professor me ofertou.
Há quem
adore esse verbo, conjugando-o com fervor, em risos e juras. Mas há também quem chore, com o coração em farrapos. Por ter conjugado o amor
em tempos que não voltam mais.
Reflexão sobre a lição
O poema
de Frederico de Brito, com sua simplicidade profunda, tece uma metáfora entre o
amor e a gramática, revelando a complexidade de um sentimento que, embora
universal, é experimentado de formas tão distintas.
O velho
professor, com sua sabedoria tingida de melancolia, ensina que o amor não se
deixa domar por regras fixas. Ele é, ao mesmo tempo, um substantivo - algo
concreto, palpável, que pode unir dois corações - e um verbo, cheio de nuances,
que se conjuga de maneira imprevisível.
Os
acontecimentos que envolvem o amor, como o poema sugere, são marcados por
dualidades: alegria e dor, certeza e dúvida, passado e futuro. Cada pessoa que
conjuga o verbo amar carrega uma história única.
Há
aqueles que, ao dizer “amo”, vivem o êxtase do presente, como se o mundo
inteiro se resumisse a um instante. Outros, ao murmurar “amei”, enfrentam o
vazio de um amor que se desfez, como uma frase interrompida.
E há
ainda os que temem dizer “amarei”, pois sabem que o futuro pode ser tão esquivo
quanto as promessas que o acompanham. O poema também evoca os acontecimentos da
vida que moldam nossa relação com o amor.
Um
coração jovem, como o do narrador ao perguntar ao professor, pode buscar
definições claras, mas a maturidade revela que o amor é mais que um conceito -
é uma experiência que se vive, se sofre e se celebra.
É o
primeiro encontro que acelera o peito, a despedida que corta a alma, ou até
mesmo os silêncios compartilhados que dizem mais que palavras.
Frederico
de Brito, ao construir essa “Lição de Amor”, nos convida a refletir sobre como
o amor, em suas muitas conjugações, é o fio que costura a existência humana.
Seja na
euforia de um novo romance, na saudade de um amor perdido ou na esperança
cautelosa de um amor por vir, o verbo amar permanece, eternamente, um desafio à
lógica e uma lição que nunca termina de ser aprendida.
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