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sábado, agosto 02, 2025

O Egoísmo


"O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade e as pequenas covardias do cotidiano contribuem para uma perniciosa forma de cegueira mental. Essa cegueira consiste em estar imerso no mundo sem verdadeiramente enxergá-lo, ou em perceber apenas aquilo que, em cada momento, atende aos nossos interesses imediatos."

- José Saramago

Essa reflexão de Saramago, extraída de sua obra Ensaio sobre a Cegueira, continua a ressoar profundamente em nossa realidade contemporânea. A "cegueira mental" descrita pelo autor não é apenas uma falha individual, mas um fenômeno coletivo que molda sociedades inteiras.

Em um mundo marcado por crises globais - como as mudanças climáticas, a polarização política e as desigualdades sociais -, o egoísmo e a indiferença descritos por Saramago manifestam-se de forma ainda mais evidente.

Por exemplo, diante de desastres ambientais, como as enchentes devastadoras que atingiram diversas regiões do Brasil em 2024, ou os incêndios florestais que consomem ecossistemas inteiros, muitos preferem ignorar as causas estruturais desses problemas, optando por soluções paliativas que protejam apenas seus próprios interesses.

Essa atitude reflete o que Saramago chama de "pequenas covardias do cotidiano": a recusa em enfrentar verdades incômodas, a hesitação em abrir mão de privilégios ou a omissão diante de injustiças.

Além disso, a era digital intensificou essa cegueira mental. As redes sociais, com seus algoritmos que reforçam vieses, criam bolhas onde as pessoas enxergam apenas o que confirma suas visões de mundo.

A falta de generosidade, nesse contexto, não se limita à ausência de empatia pelos outros, mas também à recusa em ouvir perspectivas divergentes.

Assim, o comodismo de consumir informações pré-selecionadas contribui para uma sociedade fragmentada, incapaz de construir soluções coletivas para desafios comuns.

No entanto, Saramago não nos deixa sem esperança. Sua obra sugere que, ao reconhecer essa cegueira, podemos começar a superá-la. Atos de coragem, generosidade e solidariedade - mesmo que pequenos - têm o poder de romper o véu da indiferença.

Em 2025, exemplos como movimentos comunitários que se organizam para reconstruir áreas afetadas por desastres naturais ou iniciativas globais para promover a justiça climática mostram que é possível enxergar o mundo com clareza e agir em prol do bem comum.

Portanto, a mensagem de Saramago permanece um convite à reflexão e à ação. Combater a cegueira mental exige que enfrentemos nossas próprias limitações, que nos disponhamos a ver além dos nossos interesses e que assumamos a responsabilidade de construir um mundo mais justo e consciente.

Somente assim poderemos transformar a advertência do autor em um chamado para a mudança.

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