"O
egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade e as pequenas covardias
do cotidiano contribuem para uma perniciosa forma de cegueira mental. Essa
cegueira consiste em estar imerso no mundo sem verdadeiramente enxergá-lo, ou
em perceber apenas aquilo que, em cada momento, atende aos nossos interesses
imediatos."
- José Saramago
Essa
reflexão de Saramago, extraída de sua obra Ensaio sobre a Cegueira, continua a
ressoar profundamente em nossa realidade contemporânea. A "cegueira
mental" descrita pelo autor não é apenas uma falha individual, mas um
fenômeno coletivo que molda sociedades inteiras.
Em um
mundo marcado por crises globais - como as mudanças climáticas, a polarização
política e as desigualdades sociais -, o egoísmo e a indiferença descritos por
Saramago manifestam-se de forma ainda mais evidente.
Por
exemplo, diante de desastres ambientais, como as enchentes devastadoras que
atingiram diversas regiões do Brasil em 2024, ou os incêndios florestais que
consomem ecossistemas inteiros, muitos preferem ignorar as causas estruturais
desses problemas, optando por soluções paliativas que protejam apenas seus
próprios interesses.
Essa
atitude reflete o que Saramago chama de "pequenas covardias do
cotidiano": a recusa em enfrentar verdades incômodas, a hesitação em abrir
mão de privilégios ou a omissão diante de injustiças.
Além
disso, a era digital intensificou essa cegueira mental. As redes sociais, com
seus algoritmos que reforçam vieses, criam bolhas onde as pessoas enxergam
apenas o que confirma suas visões de mundo.
A falta
de generosidade, nesse contexto, não se limita à ausência de empatia pelos
outros, mas também à recusa em ouvir perspectivas divergentes.
Assim,
o comodismo de consumir informações pré-selecionadas contribui para uma
sociedade fragmentada, incapaz de construir soluções coletivas para desafios
comuns.
No
entanto, Saramago não nos deixa sem esperança. Sua obra sugere que, ao
reconhecer essa cegueira, podemos começar a superá-la. Atos de coragem,
generosidade e solidariedade - mesmo que pequenos - têm o poder de romper o véu
da indiferença.
Em
2025, exemplos como movimentos comunitários que se organizam para reconstruir
áreas afetadas por desastres naturais ou iniciativas globais para promover a
justiça climática mostram que é possível enxergar o mundo com clareza e agir em
prol do bem comum.
Portanto,
a mensagem de Saramago permanece um convite à reflexão e à ação. Combater a
cegueira mental exige que enfrentemos nossas próprias limitações, que nos
disponhamos a ver além dos nossos interesses e que assumamos a responsabilidade
de construir um mundo mais justo e consciente.
Somente
assim poderemos transformar a advertência do autor em um chamado para a
mudança.
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