Cheguei
ao fim do caminho, as mãos cheias de nada, os pés feridos por espinhos, a pele
enrugada pelo tempo. O peso dos anos curvou-me os ombros, e cada passo ecoa a
memória de um corpo que já não responde como outrora.
As
forças, outrora vibrantes, escaparam-me como areia entre os dedos, e, no vazio
que deixaram, encontro apenas saudades - de quem fui, de quem amei, dos sonhos
que se desfizeram como névoa ao amanhecer.
Neste
mundo de cão, onde a dureza do chão machuca os pés e o coração, invento pedaços
de terra firme para não sucumbir. Crio verdades frágeis, costuradas com
retalhos de esperança, para dar sentido a dias que se arrastam.
Olho
para dentro de mim e vejo um homem triste, moribundo, preso entre o que foi e o
que resta. Sinto-me tão perto do fim, tão próximo do fundo, onde a luz mal
alcança e o silêncio é rei.
Meu
olhar, faminto por conexão, busca outro olhar que me enxergue, que me
reconheça. Mas as pessoas passam, apressadas, cegas para o velho que carrego em
mim.
Não há
mais com quem dividir as palavras, os risos, as dores. Os dias, lentos como um
rio que mal corre, arrastam-me em sua correnteza monótona. Por vezes, sinto que
já morri antes de morrer, que a vida se esvaiu enquanto eu tentava segurá-la.
Sou
velho, estou velho. Meu corpo fraqueja, minhas mãos tremem ao erguer a colher,
e a comida, por vezes, escapa-me, como se até ela soubesse que já não pertenço
ao ritmo dos vivos.
Mas meu
coração, teimoso, ainda pulsa no peito, um tambor insistente que se recusa a
silenciar. A vida passou como um vento fugaz, levando consigo os anos de luta,
as noites de sonhos, os dias de trabalho sob o sol inclemente.
Vivi
para sustentar os meus, para erguer paredes que hoje estão rachadas, para
plantar sementes que nem sempre floresceram. Perdi amores, vi amigos partirem,
carreguei lutos que pesam mais que meus próprios ossos.
E, no
entanto, aqui estou. Não sou pedra, não sou muro, não sou apenas um eco do
passado. Sou o futuro que envelhece, sou o espelho que reflete o que todos, um
dia, serão.
Meus
olhos guardam histórias que ninguém mais lê, mas minha voz, ainda que fraca,
sussurra verdades que o tempo não apaga. Sou velho, estou velho, mas sou prova
viva de que o coração, mesmo cansado, nunca desiste de bater.
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