Alexandre de Moraes é frequentemente descrito por seus
críticos como alguém que não se intimida com manifestações populares. Ao
contrário, muitos acreditam que esse tipo de exposição o alimenta, como se
houvesse certo prazer em observar as multidões reagindo diretamente às suas
decisões.
Essa percepção - ainda que polêmica - atribui ao
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) uma postura quase psicológica de
quem se satisfaz com o impacto que exerce sobre milhões de pessoas.
As
manifestações em verde e amarelo, que tomaram a Avenida Paulista, o Rio de
Janeiro e diversas capitais brasileiras, parecem, paradoxalmente, fortalecer
sua imagem.
Para os que o contestam, Moraes não se sente acuado
diante das ruas tomadas, mas vê nisso uma confirmação de sua centralidade na
política nacional. Como se cada grito de protesto fosse, em certa medida, o
reflexo do alcance de sua autoridade.
Esses
protestos, geralmente impulsionados por decisões polêmicas - como o bloqueio de
perfis em redes sociais, a prisão de figuras públicas e investigações que
atingem comunicadores e lideranças políticas -, são vistos por muitos como
afrontas à liberdade de expressão e instrumentos de um poder concentrado demais
em um único magistrado.
Atos cívicos como os de 7 de setembro, que
historicamente atraem multidões para defender pautas conservadoras e criticar o
STF, acabam intensificando a tensão entre sociedade civil e Judiciário.
Enquanto
os manifestantes interpretam tais medidas como abusos de poder, Moraes e seus
aliados no STF sustentam que suas decisões são necessárias para proteger a
democracia contra desinformação, ataques institucionais e tentativas de
desestabilização - argumento reforçado especialmente após os acontecimentos de
8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes em Brasília foram
invadidas e depredadas.
Esse episódio passou a servir de justificativa
recorrente para ações duras contra movimentos de oposição. No entanto, o
impacto das manifestações até agora não alterou a postura firme do ministro.
Pelo contrário, há quem acredite que ele se fortalece
justamente ao constatar que suas ações mobilizam massas inteiras, ainda que em
oposição. Isso o coloca como uma espécie de protagonista involuntário - ou
talvez deliberado - do embate político.
A
experiência recente do Brasil mostra que protestos de rua só se tornam
realmente eficazes quando combinados a organização, liderança e pressão
institucional.
Foi assim em 2013, com as Jornadas de Junho, que
começaram difusas, mas se transformaram em catalisadoras de mudanças políticas,
e também nos atos pró-impeachment de Dilma Rousseff, em 2015 e 2016, que
ganharam força por meio da articulação com partidos e setores organizados da
sociedade. Sem essa coordenação, manifestações tendem a se dissipar como
catarse coletiva, sem resultados concretos.
Hoje, o
cenário político é de polarização intensa. De um lado, defensores de Moraes e
do STF o veem como guardião da democracia contra movimentos considerados
golpistas.
De outro, seus críticos o acusam de extrapolar limites
constitucionais, acumulando para si um poder desproporcional e exercendo um
controle que ameaça a independência entre os Poderes.
Para
que os atos atuais tenham consequências reais, seria necessário ir além das
ruas: apresentar demandas claras, como a revisão de decisões controversas, a
criação de mecanismos de controle sobre o STF ou mesmo mudanças institucionais
que reduzam a concentração de poder em um único ministro.
Sem isso, as mobilizações continuarão servindo mais
como demonstração de descontentamento do que como ferramenta efetiva de
transformação.
Enquanto isso, Alexandre de Moraes permanece no centro do debate público, odiado por uns, defendido por outros - e, acima de tudo, intocado em sua posição.
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