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quinta-feira, outubro 02, 2025

Sou todo coração


 

Galgai-me com vossos amores, ó forças indomáveis que me tomam! Doravante, já não sou mais senhor do meu próprio coração! Ele se rendeu, fugiu de mim e agora dança ao compasso de um sentimento que não domino.

Nos demais, bem o sei - qualquer um o sabe! - o coração tem morada fixa no peito, pulsando quieto em sua jaula de costelas. Mas comigo, a anatomia enlouqueceu!

Sou todo coração: ele palpita em minhas mãos trêmulas, arde em meus olhos que enxergam apenas vós, e caminha nos pés que seguem vossos passos sem que eu os comande. Em cada canto de mim, ele vibra, ele grita, ele ama!

Oh, amor, que me despedaça e me reconstrói! Que me lança ao abismo e, no mesmo instante, me ergue em asas de fogo! Como um poeta preso à própria revolução, carrego o peso de um coração que não se cala.

Assim como as ruas fervilhavam nos dias convulsos da Revolução Russa, quando Maiakovski bradava versos inflamados contra a indiferença e a tirania, também meu peito se tornou um campo de batalha.

Nele, o amor trava sua guerra, sem bandeiras brancas, sem trégua possível, sem rendição que não seja ao vosso olhar. Cada batida é um manifesto; cada suspiro, uma poesia clandestina que se escreve em silêncio, mas explode em cores vivas, como as telas futuristas que o poeta tanto admirava.

E que direi dos acontecimentos que me levaram a este delírio? Talvez tenha sido o instante em que vossos olhos cruzaram os meus, como estrelas em colisão que, ao se despedaçarem, criam novos universos.

Ou talvez tenha sido o eco de vossas palavras, que, como os ventos gelados de Petrogrado em 1917, sopraram mudanças irrevogáveis em minha alma. Não sei. Só sei que sou refém deste amor, prisioneiro e soldado, incendiado por sua chama.

Ele me governa com a mesma fúria com que Maiakovski desafiava o mundo: ora apaixonado, ora desesperado, sempre inteiro, sempre excessivo. E se algum dia me perguntarem o que restará de mim, direi apenas: restará o coração - este coração multiplicado, que aprendeu a pulsar fora de sua prisão, em cada gesto, em cada palavra, em cada sonho que vos busca.

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