O Monte
Roraima, localizado na América do Sul, na tríplice fronteira entre Brasil,
Venezuela e Guiana, é um dos tepuis mais emblemáticos do Planalto das Guianas.
Um
tepui é um tipo de formação geológica em formato de mesa, caracterizado por
seus platôs elevados e falésias abruptas, que no caso do Roraima atingem cerca
de 1.000 metros de altura.
Esse
isolamento geográfico criou um ecossistema único, distinto tanto da floresta
tropical quanto da savana que se estende ao seu redor. O planalto do Monte
Roraima, com cerca de 34 km², apresenta condições climáticas e geológicas
peculiares.
O alto
índice pluviométrico, combinado com a composição rochosa do tepui, favoreceu a
formação de pseudocarstes, numerosas cavernas e sistemas de drenagem
subterrânea, como o sistema de cavernas de Roraima Sul, uma das maiores redes
de cavernas de quartzito do mundo.
A
lixiviação intensa do solo, causada pelas chuvas constantes, torna o terreno
pobre em nutrientes, o que levou a flora a desenvolver adaptações notáveis. Um
exemplo marcante é o elevado grau de endemismo, com cerca de 30% das espécies
vegetais sendo exclusivas do tepui.
Entre
elas, destacam-se as plantas carnívoras, como as do gênero Drosera e
Heliamphora, que suplementam a falta de nutrientes no solo capturando insetos.
A fauna
também reflete o isolamento do Monte Roraima, com alto endemismo, especialmente
entre répteis e anfíbios. Espécies como o sapo de Roraima (Oreophrynella
quelchii), pequeno e adaptado às rochas do platô, são exclusivas da região.
Aves e
insetos também apresentam adaptações únicas, muitas ainda pouco estudadas
devido à dificuldade de acesso e à preservação do ambiente. No território
venezuelano, o Monte Roraima é protegido pelo Parque Nacional Canaima,
declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO, enquanto no Brasil está inserido no
Parque Nacional do Monte Roraima, criado para preservar sua biodiversidade
singular.
O ponto
culminante do Monte Roraima, conhecido como Maverick Stone, eleva-se a 2.810
metros no extremo sul, no estado de Bolívar, Venezuela. O segundo ponto mais
alto, com 2.772 metros, está localizado ao norte, em território guianense,
próximo ao marco que delimita a fronteira entre os três países.
A
formação geológica do tepui remonta a cerca de 2 bilhões de anos, sendo uma das
rochas mais antigas do planeta, composta principalmente por arenito
quartzítico.
Embora
conhecido pelos povos indígenas da região, como os Pemón, que consideram o Monte
Roraima um lugar sagrado e associam-no a mitos de criação, ele só foi
documentado pelos ocidentais no século XIX.
Em
1838, o explorador alemão Robert Schomburgk descreveu o tepui em seus relatos,
mas a primeira escalada confirmada ocorreu em 1884, liderada pelo botânico
britânico Everard Ferdinand Thurn.
Essa
expedição abriu caminho para o interesse científico e aventureiro pela região,
embora o acesso ao cume permanecesse um desafio devido às falésias íngremes.
A
história do Monte Roraima ganhou notoriedade cultural com a obra O Mundo
Perdido (1912), de Sir Arthur Conan Doyle, inspirada em relatos de expedições
ao tepui.
No
romance, o autor imaginou o platô como um refúgio de criaturas pré-históricas,
uma ideia que reflete o fascínio pela biodiversidade isolada do local. Até
hoje, o Monte Roraima inspira obras de ficção e documentários, alimentando a
imaginação popular sobre um "mundo perdido".
A
partir da década de 1980, o turismo de aventura transformou o Monte Roraima em
um dos destinos mais procurados para trekking na América do Sul.
A rota
mais comum, pelo lado sul da montanha, em território venezuelano, utiliza uma
passagem natural chamada "La Rampa", que facilita o acesso ao platô
sem a necessidade de equipamentos avançados de escalada.
Essa
trilha, que geralmente leva de 5 a 7 dias para ser completada, atravessa rios,
savanas e florestas antes de alcançar o cume. No entanto, escaladas por outras
faces do tepui exigem técnicas avançadas de alpinismo, atraindo montanhistas
experientes em busca de novos desafios.
Essas
expedições têm resultado na abertura de novas vias, embora o impacto ambiental
dessas atividades seja monitorado para preservar o ecossistema frágil.
Além do
turismo, o Monte Roraima também é palco de pesquisas científicas. Estudos
recentes, como os conduzidos por equipes internacionais de biólogos e geólogos,
revelaram novas espécies de plantas e animais, além de formações geológicas
únicas, como cristais de quartzo expostos e lagos temporários no platô.
A
interação entre cientistas e as comunidades indígenas, como os Pemón, tem sido
essencial para equilibrar a conservação com a exploração científica e
turística. Contudo, desafios como o impacto do turismo desregulado, mudanças
climáticas e conflitos de fronteira na região continuam a ameaçar a preservação
do Monte Roraima.
Culturalmente,
o tepui permanece um símbolo de mistério e espiritualidade. Para os Pemón, ele
é a "casa dos espíritos" e o tronco de uma árvore mítica que conecta
o céu e a terra.
Eventos
recentes, como a inclusão do Monte Roraima em roteiros de ecoturismo
sustentável e documentários sobre sua biodiversidade, têm reforçado seu status
como um tesouro natural e cultural.
Em 2023, uma expedição científica descobriu uma nova espécie de planta carnívora no platô, destacando que, mesmo após mais de um século de exploração, o Monte Roraima ainda guarda segredos a serem desvendados.
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