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sábado, agosto 10, 2024

Monte Roraima




O Monte Roraima, localizado na América do Sul, na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana, é um dos tepuis mais emblemáticos do Planalto das Guianas.

Um tepui é um tipo de formação geológica em formato de mesa, caracterizado por seus platôs elevados e falésias abruptas, que no caso do Roraima atingem cerca de 1.000 metros de altura.

Esse isolamento geográfico criou um ecossistema único, distinto tanto da floresta tropical quanto da savana que se estende ao seu redor. O planalto do Monte Roraima, com cerca de 34 km², apresenta condições climáticas e geológicas peculiares.

O alto índice pluviométrico, combinado com a composição rochosa do tepui, favoreceu a formação de pseudocarstes, numerosas cavernas e sistemas de drenagem subterrânea, como o sistema de cavernas de Roraima Sul, uma das maiores redes de cavernas de quartzito do mundo.

A lixiviação intensa do solo, causada pelas chuvas constantes, torna o terreno pobre em nutrientes, o que levou a flora a desenvolver adaptações notáveis. Um exemplo marcante é o elevado grau de endemismo, com cerca de 30% das espécies vegetais sendo exclusivas do tepui.

Entre elas, destacam-se as plantas carnívoras, como as do gênero Drosera e Heliamphora, que suplementam a falta de nutrientes no solo capturando insetos.

A fauna também reflete o isolamento do Monte Roraima, com alto endemismo, especialmente entre répteis e anfíbios. Espécies como o sapo de Roraima (Oreophrynella quelchii), pequeno e adaptado às rochas do platô, são exclusivas da região.

Aves e insetos também apresentam adaptações únicas, muitas ainda pouco estudadas devido à dificuldade de acesso e à preservação do ambiente. No território venezuelano, o Monte Roraima é protegido pelo Parque Nacional Canaima, declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO, enquanto no Brasil está inserido no Parque Nacional do Monte Roraima, criado para preservar sua biodiversidade singular.

O ponto culminante do Monte Roraima, conhecido como Maverick Stone, eleva-se a 2.810 metros no extremo sul, no estado de Bolívar, Venezuela. O segundo ponto mais alto, com 2.772 metros, está localizado ao norte, em território guianense, próximo ao marco que delimita a fronteira entre os três países.

A formação geológica do tepui remonta a cerca de 2 bilhões de anos, sendo uma das rochas mais antigas do planeta, composta principalmente por arenito quartzítico.

Embora conhecido pelos povos indígenas da região, como os Pemón, que consideram o Monte Roraima um lugar sagrado e associam-no a mitos de criação, ele só foi documentado pelos ocidentais no século XIX.

Em 1838, o explorador alemão Robert Schomburgk descreveu o tepui em seus relatos, mas a primeira escalada confirmada ocorreu em 1884, liderada pelo botânico britânico Everard Ferdinand Thurn.

Essa expedição abriu caminho para o interesse científico e aventureiro pela região, embora o acesso ao cume permanecesse um desafio devido às falésias íngremes.

A história do Monte Roraima ganhou notoriedade cultural com a obra O Mundo Perdido (1912), de Sir Arthur Conan Doyle, inspirada em relatos de expedições ao tepui.

No romance, o autor imaginou o platô como um refúgio de criaturas pré-históricas, uma ideia que reflete o fascínio pela biodiversidade isolada do local. Até hoje, o Monte Roraima inspira obras de ficção e documentários, alimentando a imaginação popular sobre um "mundo perdido".

A partir da década de 1980, o turismo de aventura transformou o Monte Roraima em um dos destinos mais procurados para trekking na América do Sul.

A rota mais comum, pelo lado sul da montanha, em território venezuelano, utiliza uma passagem natural chamada "La Rampa", que facilita o acesso ao platô sem a necessidade de equipamentos avançados de escalada.

Essa trilha, que geralmente leva de 5 a 7 dias para ser completada, atravessa rios, savanas e florestas antes de alcançar o cume. No entanto, escaladas por outras faces do tepui exigem técnicas avançadas de alpinismo, atraindo montanhistas experientes em busca de novos desafios.

Essas expedições têm resultado na abertura de novas vias, embora o impacto ambiental dessas atividades seja monitorado para preservar o ecossistema frágil.

Além do turismo, o Monte Roraima também é palco de pesquisas científicas. Estudos recentes, como os conduzidos por equipes internacionais de biólogos e geólogos, revelaram novas espécies de plantas e animais, além de formações geológicas únicas, como cristais de quartzo expostos e lagos temporários no platô.

A interação entre cientistas e as comunidades indígenas, como os Pemón, tem sido essencial para equilibrar a conservação com a exploração científica e turística. Contudo, desafios como o impacto do turismo desregulado, mudanças climáticas e conflitos de fronteira na região continuam a ameaçar a preservação do Monte Roraima.

Culturalmente, o tepui permanece um símbolo de mistério e espiritualidade. Para os Pemón, ele é a "casa dos espíritos" e o tronco de uma árvore mítica que conecta o céu e a terra.

Eventos recentes, como a inclusão do Monte Roraima em roteiros de ecoturismo sustentável e documentários sobre sua biodiversidade, têm reforçado seu status como um tesouro natural e cultural.

Em 2023, uma expedição científica descobriu uma nova espécie de planta carnívora no platô, destacando que, mesmo após mais de um século de exploração, o Monte Roraima ainda guarda segredos a serem desvendados.

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