Meu
coração saltou aos olhos e te encontrou. Depois, voltou ao peito, onde começou
a te amar, como se já soubesse, desde sempre, que eras tu o destino que ele
aguardava.
Foi
tão fugaz - e, ainda assim, tão eterno - o instante em que teus olhos cruzaram
os meus. O mundo, em sua pressa caótica, pareceu dissolver-se em silêncio, como
se o próprio tempo, reverente, prendesse a respiração para nos contemplar
existindo, um diante do outro, num instante sagrado.
As
vozes ao redor se apagaram, o vento parou de sussurrar, e até as folhas das
árvores, suspensas, pareceram esperar o desfecho daquele encontro. Teu rosto,
banhado por uma luz que eu juro nunca ter visto antes, tornou-se o centro do
universo.
Era
como se todas as cores do mundo, em segredo, conspirassem para desenhar tua
figura com traços de sonho e eternidade. Cada detalhe teu - o arco suave dos
teus lábios, o brilho tímido nos teus olhos, o modo como teu cabelo dançava com
a brisa que ousava voltar - gravou-se em mim como um quadro que nenhuma memória
poderia apagar.
Naquele
instante, meu coração, inquieto e atrevido, escapou do peito e correu aos meus
olhos, ansioso por te conhecer primeiro. Bastou aquele breve encontro para que
ele compreendesse seu propósito: amar-te, como quem encontra, enfim, o motivo
de sua própria existência.
E
desde então, carrego em mim um fogo manso, que aquece sem consumir, que ilumina
sem cegar. O simples som do teu nome faz brotar primaveras em meu peito, e cada
lembrança tua é um verso escrito na língua secreta do desejo, que só meu
coração sabe recitar.
Naquele
dia, o mundo não era mais o mesmo. Lembro-me do cenário que nos envolveu: uma
praça qualquer, banhada pelo sol tímido de uma tarde de outono. As folhas
douradas caíam lentas, como se quisessem testemunhar o milagre daquele
encontro.
Havia
o murmúrio distante de uma fonte, o riso leve de crianças brincando ao longe, e
o aroma de café que pairava no ar, vindo de algum canto da cidade. Mas nada
disso importava. Tudo se tornou pano de fundo, mera moldura para a tua presença,
que preenchia cada espaço do meu ser.
Desde
então, tudo em mim te procura: meus pensamentos, que desenham teu rosto em cada
esquina da mente; minhas mãos, que anseiam pelo toque que ainda não ousaram
buscar; meus passos, que parecem sempre caminhar em tua direção, mesmo sem
saber para onde vais.
A
vida ganhou o sabor das madrugadas estreladas, quando o silêncio do mundo me
permite ouvir o eco do teu nome em meu coração. Cada manhã desperta com a
promessa de um novo olhar teu, e cada noite adormece com a esperança de que, em
sonhos, possamos nos encontrar novamente.
Ah,
se soubesses o quanto teu olhar transformou meu mundo! Se ao menos percebesses
que, naquele único segundo o tempo se curvou, e a eternidade se fez presente.
Talvez sorrisses, com aquele sorriso que carrega o segredo de quem sabe, no
fundo da alma, que o amor pode nascer num piscar de olhos e viver para sempre.
E
eu, que agora carrego esse amor como um tesouro, sigo acreditando que o
universo, em sua infinita bondade, conspirou para que nossos caminhos se
cruzassem - e para que, a partir daquele dia, eu nunca mais fosse o mesmo.
(Francisco Silva Sousa)
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