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segunda-feira, julho 07, 2025

Visão


 

Meu coração saltou aos olhos e te encontrou. Depois, voltou ao peito, onde começou a te amar, como se já soubesse, desde sempre, que eras tu o destino que ele aguardava.

Foi tão fugaz - e, ainda assim, tão eterno - o instante em que teus olhos cruzaram os meus. O mundo, em sua pressa caótica, pareceu dissolver-se em silêncio, como se o próprio tempo, reverente, prendesse a respiração para nos contemplar existindo, um diante do outro, num instante sagrado.

As vozes ao redor se apagaram, o vento parou de sussurrar, e até as folhas das árvores, suspensas, pareceram esperar o desfecho daquele encontro. Teu rosto, banhado por uma luz que eu juro nunca ter visto antes, tornou-se o centro do universo.

Era como se todas as cores do mundo, em segredo, conspirassem para desenhar tua figura com traços de sonho e eternidade. Cada detalhe teu - o arco suave dos teus lábios, o brilho tímido nos teus olhos, o modo como teu cabelo dançava com a brisa que ousava voltar - gravou-se em mim como um quadro que nenhuma memória poderia apagar.

Naquele instante, meu coração, inquieto e atrevido, escapou do peito e correu aos meus olhos, ansioso por te conhecer primeiro. Bastou aquele breve encontro para que ele compreendesse seu propósito: amar-te, como quem encontra, enfim, o motivo de sua própria existência.

E desde então, carrego em mim um fogo manso, que aquece sem consumir, que ilumina sem cegar. O simples som do teu nome faz brotar primaveras em meu peito, e cada lembrança tua é um verso escrito na língua secreta do desejo, que só meu coração sabe recitar.

Naquele dia, o mundo não era mais o mesmo. Lembro-me do cenário que nos envolveu: uma praça qualquer, banhada pelo sol tímido de uma tarde de outono. As folhas douradas caíam lentas, como se quisessem testemunhar o milagre daquele encontro.

Havia o murmúrio distante de uma fonte, o riso leve de crianças brincando ao longe, e o aroma de café que pairava no ar, vindo de algum canto da cidade. Mas nada disso importava. Tudo se tornou pano de fundo, mera moldura para a tua presença, que preenchia cada espaço do meu ser.

Desde então, tudo em mim te procura: meus pensamentos, que desenham teu rosto em cada esquina da mente; minhas mãos, que anseiam pelo toque que ainda não ousaram buscar; meus passos, que parecem sempre caminhar em tua direção, mesmo sem saber para onde vais.

A vida ganhou o sabor das madrugadas estreladas, quando o silêncio do mundo me permite ouvir o eco do teu nome em meu coração. Cada manhã desperta com a promessa de um novo olhar teu, e cada noite adormece com a esperança de que, em sonhos, possamos nos encontrar novamente.

Ah, se soubesses o quanto teu olhar transformou meu mundo! Se ao menos percebesses que, naquele único segundo o tempo se curvou, e a eternidade se fez presente. Talvez sorrisses, com aquele sorriso que carrega o segredo de quem sabe, no fundo da alma, que o amor pode nascer num piscar de olhos e viver para sempre.

E eu, que agora carrego esse amor como um tesouro, sigo acreditando que o universo, em sua infinita bondade, conspirou para que nossos caminhos se cruzassem - e para que, a partir daquele dia, eu nunca mais fosse o mesmo.

(Francisco Silva Sousa) 

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