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terça-feira, julho 08, 2025

Comportamento Humano!


"Você nunca observa animais praticando as absurdas, e por vezes horríveis, enganações associadas à mágica ou à religião. Apenas o ser humano se entrega a tais ilusões com tamanha disposição e, muitas vezes, sem qualquer benefício evidente.

Esse é o preço que ele paga por sua inteligência - uma inteligência que o eleva acima das demais criaturas, mas que, paradoxalmente, não é suficiente para livrá-lo das armadilhas que ele mesmo cria."

Essa reflexão de Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo, aponta para uma característica singular da humanidade: a capacidade de criar narrativas complexas, sejam elas místicas, religiosas ou ilusionistas, que muitas vezes transcendem a realidade objetiva.

Diferentemente dos animais, que agem movidos por instintos e necessidades concretas, o homem utiliza sua inteligência para construir sistemas de crenças que, embora possam inspirar, unir ou consolar, também têm o potencial de manipular, dividir e causar sofrimento.

Huxley sugere que essa tendência à "enganação gratuita" é um subproduto da inteligência humana - uma inteligência que permite ao homem imaginar o impossível, mas que frequentemente falha em discernir entre o que é ilusão e o que é verdade.

A mágica, por exemplo, encanta ao desafiar as leis da física, criando momentos de espanto e deleite. No entanto, sua essência reside na manipulação da percepção, um truque que explora as limitações do cérebro humano.

Da mesma forma, Huxley critica certas manifestações religiosas que, em sua visão, podem se basear em dogmas ou promessas infundadas, levando as pessoas a agirem contra seus próprios interesses ou a perpetuarem conflitos.

Ao longo da história, essa propensão à enganação tem se manifestado de maneira trágica e fascinante. Guerras foram travadas em nome de crenças religiosas, enquanto charlatães e falsos profetas exploraram a fé alheia para enriquecer ou exercer poder.

No século XX, por exemplo, regimes totalitários usaram propaganda – uma forma moderna de "mágica" - para manipular milhões, criando ilusões de superioridade nacional ou utopias inalcançáveis.

Mesmo na era contemporânea, a disseminação de desinformação nas redes sociais reflete essa mesma vulnerabilidade humana: a predisposição a acreditar em narrativas que confirmem nossos desejos ou medos, mesmo que careçam de fundamento.

No entanto, a crítica de Huxley não deve ser lida como uma condenação absoluta da religião ou da imaginação humana. A espiritualidade, em suas formas mais genuínas, pode oferecer sentido e esperança, enquanto a mágica, como arte, celebra a criatividade e a capacidade de surpreender.

O problema reside no excesso, na manipulação e na falta de autocrítica. A inteligência humana, embora poderosa, exige humildade e discernimento para não se perder em suas próprias criações.

Assim, o desafio proposto por Huxley permanece atual: como podemos usar nossa inteligência para transcender as ilusões que nós mesmos criamos?

Talvez a resposta esteja em cultivar uma mente curiosa, que questione sem cinismo e busque a verdade sem arrogância. Somente assim poderemos pagar o preço da nossa inteligência sem sucumbir às enganações que ela nos impõe.

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