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quarta-feira, julho 09, 2025

Erupção do Vesúvio - A Destruição de Pompeia


 

A Erupção do Vesúvio e a Destruição de Pompeia e Herculano

No século I d.C., a região ao redor do Monte Vesúvio, na Campânia, era um centro florescente do Império Romano. Cidades como Pompeia, Herculano, Estábia e Oplontis prosperavam graças à fertilidade do solo vulcânico, que sustentava uma agricultura rica e um comércio vibrante.

Pompeia, em particular, era uma cidade cosmopolita com uma população estimada entre 10.000 e 20.000 habitantes, conhecida por seus mercados, templos, teatros e casas luxuosas decoradas com afrescos e mosaicos.

No entanto, a proximidade com o Vesúvio, um vulcão ativo, selou o destino trágico dessas comunidades.

A Erupção de 79 d.C.

A erupção do Vesúvio, ocorrida provavelmente em 23 de novembro de 79 d.C. (embora algumas fontes tradicionais citem 24 de agosto), foi um dos desastres naturais mais devastadores da antiguidade.

Estudos recentes, baseados em evidências arqueológicas, como moedas, trajes e produtos agrícolas encontrados em Pompeia, sugerem que o evento ocorreu no outono, e não no verão, como inicialmente proposto.

Por exemplo, as vítimas usavam roupas mais pesadas, típicas de meses mais frios, e as lojas continham frutas de outubro, como romãs frescas, enquanto frutas de verão, como uvas, estavam secas ou em conserva.

Além disso, jarras de vinho seladas, um processo comum no final de outubro, e uma moeda cunhada após meados de setembro reforçam a data de novembro.

A erupção começou com uma explosão colossal que lançou uma coluna de cinzas, pedra-pomes e gases tóxicos a mais de 30 quilômetros de altura. Durante aproximadamente 24 horas, a região foi assolada por uma chuva de material piroclástico, que cobriu Pompeia com até 25 metros de depósitos vulcânicos em camadas sucessivas.

Herculano, mais próxima do vulcão, foi soterrada por fluxos piroclásticos - correntes de gás superaquecido e detritos que viajavam a centenas de quilômetros por hora.

Estudos vulcanológicos e bioantropológicos modernos revelaram que o calor extremo foi a principal causa de morte, e não a asfixia por cinzas, como se acreditava anteriormente.

Temperaturas de pelo menos 250 °C, mesmo a 10 quilômetros do Vesúvio, causaram morte instantânea, vitimando até aqueles que buscavam abrigo em construções.

Em Herculano, esqueletos encontrados em armazéns à beira-mar mostram sinais de vaporização de tecidos moles devido a temperaturas superiores a 500 °C, um fenômeno conhecido como “síndrome de explosão térmica”.

Relatos Contemporâneos e o Testemunho de Plínio, o Jovem

O evento foi documentado por Plínio, o Jovem, que, aos 17 anos, testemunhou a erupção de Miseno, a cerca de 30 quilômetros do Vesúvio, do outro lado do Golfo de Nápoles.

Em cartas escritas 25 anos depois ao historiador Tácito, Plínio descreveu vividamente a nuvem em forma de pinheiro que se ergueu do vulcão, a escuridão que engoliu a região e os tremores que abalaram a terra.

Seu relato, marcado pelo trauma da experiência e pela perda de seu tio, Plínio, o Velho, tornou-se uma fonte inestimável para os estudiosos. Plínio, o Velho, um renomado naturalista e almirante da frota romana em Miseno, tentou organizar uma operação de resgate.

Ele ordenou que navios da Marinha Imperial cruzassem o golfo para evacuar as vítimas, mas morreu durante a missão, provavelmente asfixiado por gases vulcânicos ou vítima de um ataque cardíaco.

Os relatos de Plínio, o Jovem, foram tão detalhados que os vulcanologistas cunharam o termo “erupção pliniana” para descrever eventos vulcânicos explosivos semelhantes, caracterizados por colunas eruptivas massivas e depósitos piroclásticos extensos.

A Redescoberta de Pompeia e Herculano

Após a erupção, as cidades foram completamente soterradas por cinzas e detritos, e seus nomes e localizações caíram no esquecimento. Durante séculos, a região foi abandonada, e a memória das cidades se perdeu.

A redescoberta começou acidentalmente em 1599, quando a escavação de um canal para desviar o rio Sarno revelou muros antigos com pinturas e inscrições.

O arquiteto Domenico Fontana supervisionou a descoberta, mas, influenciado pelo moralismo da Contrarreforma, ordenou que os achados, muitos com conteúdo erótico, fossem novamente cobertos, possivelmente para protegê-los ou censurá-los.

Herculano foi oficialmente redescoberta em 1738, durante escavações para as fundações do pal cuestão de um palácio de verão do rei de Nápoles, Carlos III. Pompeia foi redescoberta em 1748, sob a direção do engenheiro militar espanhol Rocque Joaquin de Alcubierre.

As escavações revelaram um tesouro arqueológico: casas, templos, anfiteatros e objetos do cotidiano, preservados em detalhes impressionantes pelas cinzas vulcânicas.

Carlos III, entusiasmado com as descobertas, viu nelas uma oportunidade de reforçar o prestígio político e cultural de Nápoles, financiando escavações sistemáticas. Escavações e a Técnica de Giuseppe Fiorelli

As escavações profissionais começaram sob a supervisão de Karl Weber, seguidas por Francisco la Vega e, mais tarde, por Giuseppe Fiorelli, a partir de 1860.

Fiorelli revolucionou a arqueologia ao desenvolver a técnica de injetar gesso nos espaços vazios deixados por corpos decompostos nas camadas de cinzas. Esses moldes revelaram formas humanas em posições dramáticas, muitas com expressões de agonia, capturando os momentos finais das vítimas.

Hoje, a técnica usa resina, que é mais durável e permite análises osteológicas detalhadas sem danificar os restos.

Impacto Cultural e o “Gabinete Secreto”

As escavações revelaram não apenas a tragédia, mas também a riqueza cultural de Pompeia e Herculano. Afrescos, mosaicos e esculturas expuseram a sofisticação artística romana, mas também causaram controvérsia devido ao conteúdo explícito de algumas obras.

Em 1819, o rei Francisco I das Duas Sicilias, escandalizado com as representações eróticas, ordenou que fossem confinadas a um “gabinete secreto” no Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, acessível apenas a adultos considerados de “moral respeitável”.

Essa câmara foi fechada e reaberta várias vezes, sendo definitivamente acessível ao público em 2000, com restrições para menores de idade.

Legado e Mistérios

Pompeia e Herculano são hoje Patrimônios Mundiais da UNESCO, atraindo milhões de visitantes e oferecendo uma janela única para a vida romana. A discrepância entre as datas de agosto e novembro para a erupção permanece um mistério.

Algumas teorias sugerem erros de transcrição nos textos de Plínio ou diferenças no calendário romano, mas nenhuma explicação é definitiva. Além disso, as escavações continuam a revelar novos achados, como esqueletos, objetos domésticos e até grafites que mostram o cotidiano e o humor dos habitantes.

A erupção do Vesúvio não foi apenas uma catástrofe, mas um evento que preservou, de forma paradoxal, um momento congelado no tempo. As cidades soterradas oferecem um testemunho incomparável da cultura, da arte e da fragilidade humana diante da força da natureza, continuando a fascinar cientistas, historiadores e visitantes do mundo todo.


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