Fui
subjugado, reduzido à condição de um pedinte errante. Um andarilho sem chão
firme sob os pés, um sem-teto vagando por caminhos sem destino, um caminhante
perdido em rumos incertos, guiado apenas pelo eco de sonhos despedaçados.
A vida,
com sua crueza, feriu-me com os espinhos afiados do mundo, e eu, pacientemente,
carrego as chagas que me foram impostas, marcas visíveis e invisíveis de uma
luta que não escolhi.
Cortaram
meus pensamentos com lâminas precisas, afiadas pela indiferença. Sufocaram
minhas ideias nas águas profundas do desencanto, onde a esperança luta para
respirar.
Meu
pranto, outrora livre, foi extraviado nos abismos da inconsciência, engolido
por um vazio que não explica, apenas consome. Atormentaram-me com promessas
frágeis, palavras ocas que se desfaziam ao toque, e profanaram meu corpo com
delírios selvagens, brutais, impostos por mãos que não conheciam compaixão.
Ao meu
redor, combatentes exaustos, companheiros de uma guerra invisível, lançavam-se
às sombras do fim, abraçando as trevas de sua própria existência, como se a
rendição fosse o único refúgio.
Taxaram-me
de alienado por ousar proteger embriões puros, frágeis sementes de vida
arrancadas do ventre por mãos impiedosas, movidas pelo desespero de mães
frustradas, derrotadas por um sistema que as abandonou.
Acusaram-me
de sonhador, de louco, por enxergar neles o potencial de um futuro que o mundo
nega. Bombardeado fui pela força destrutiva de vozes intoxicadas, alimentadas
por ultrajes e acusações sem fundamento, vindas de rostos conhecidos, outrora
próximos, agora distorcidos por fantasias ilusórias.
Viviam
imersos em um sono artificial, induzido pela modernidade cega, um torpor
fabricado pelo desejo insaciável de poder, que consome tudo em seu caminho.
Fui
golpeado por marginais entorpecidos, castigado por ousar ter vontade própria,
por erguer a voz em defesa de um ideal que não era quimera, mas uma verdade
inabalável, forjada no fogo da convicção.
Proclamaram-me
amaldiçoado, feras humanas em trajes extravagantes, quando, no limite da minha
resistência, curvei-me ao chão corrompido. Ali, prostrado diante da terra
manchada por promessas quebradas e esperanças traídas, enxerguei meus erros
refletidos no solo árido.
Com
esforço, tentei reformar meus pensamentos, rearranjar os fragmentos do que
restava de mim, buscando um sentido que ainda valesse a pena. E, no entanto, a
jornada não terminou ali.
Caminhei
por cidades cinzentas, onde o peso da opressão se misturava ao cheiro de fumaça
e desespero. Vi homens e mulheres, como eu, marcados pela luta, carregando nos
olhos a mesma chama que se recusava a apagar.
Encontrei,
nas esquinas esquecidas, histórias de resistência: uma mãe que, mesmo exausta,
cantava para seus filhos sob um teto improvisado; um velho que, com mãos
calejadas, plantava sementes em terrenos estéreis, acreditando que um dia
floresceriam.
Esses
pequenos atos de coragem reacenderam em mim a certeza de que a dignidade não se
rende, mesmo sob o peso do caos. Ainda assim, não desistirei.
Lutarei
pela dignidade que nos foi negada, pela paciência que nos sustenta, pelo
sossego que acalma a alma e pela felicidade que, apesar de tudo, ainda
merecemos.
E me
alegro, pois, mesmo nas noites mais escuras, vejo lampejos de luz. Enquanto
houver homens e mulheres dispostos a resistir, haverá sempre um raio de
esperança, uma centelha capaz de reacender a confiança e iluminar o caminho. E
é por essa luz que sigo, com o coração ferido, mas jamais vencido.
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