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sábado, julho 12, 2025

Anton Tchékhov – Sociedades Decadentes


 

Quando perguntado sobre a essência das sociedades fracassadas, o escritor russo Anton Tchékhov teria dito:

“Em sociedades decadentes, para cada mente lúcida, há mil vozes tolas a gritar. Para cada palavra pensada, mil frases vazias ecoam sem propósito. O banal toma o centro do palco, e o senso comum se afoga num mar de trivialidades.

Quando debates se reduzem a futilidades e os medíocres ocupam o protagonismo, não há dúvida: estás diante de uma sociedade em ruínas. Milhões dançam e celebram ao som de palavras ocas, e o autor dessas banalidades é elevado a ídolo - amado, ovacionado, intocável.

Enquanto isso, os pensadores, aqueles que ousam questionar, refletir e despertar, são ignorados, silenciados ou relegados às margens, como vozes incômodas que perturbam o silêncio confortável da multidão.

As massas preferem o riso fácil à reflexão árdua, o entorpecimento à lucidez, o ilusionista ao mensageiro. Quem diverte é exaltado; quem alerta, rejeitado. Assim, numa sociedade que idolatra o vazio e foge da verdade, a democracia torna-se uma arma perigosa - pois o destino é entregue a uma maioria que teme pensar.”

Essa visão, atribuída a Tchékhov, ressoa com uma atualidade inquietante. Em um mundo saturado por redes sociais, a superficialidade muitas vezes prevalece.

Discussões políticas e sociais, que deveriam ser arenas de ideias robustas, frequentemente se dissolvem em slogans, memes e frases de efeito. Líderes carismáticos, que dominam a arte do espetáculo, conquistam multidões com promessas simplistas, enquanto vozes que propõem reflexões complexas ou alertam para crises iminentes - sejam climáticas, econômicas ou culturais - lutam para serem ouvidas.

Considere, por exemplo, o fenômeno das “fake news” e da desinformação, que se espalham como fogo em palha seca. Em 2020, durante a pandemia de Covid-19, teorias conspiratórias sobre vacinas ou tratamentos ineficazes ganharam tração global, muitas vezes amplificadas por figuras públicas que priorizavam atenção midiática sobre fatos científicos.

Enquanto isso, cientistas e especialistas enfrentavam ataques ou descrédito, suas vozes abafadas pelo clamor de narrativas sensacionalistas. Outro exemplo é a polarização política, que transforma debates em espetáculos de torcida.

Em muitos países, eleitores se dividem em bolhas ideológicas, guiados menos por argumentos racionais e mais por lealdades emocionais a líderes ou causas.

Nesse cenário, a democracia, que depende do discernimento coletivo, é fragilizada quando a maioria prefere a validação instantânea à análise crítica. Tchékhov, com sua pena afiada, talvez visse nesses acontecimentos a confirmação de sua análise.

A sociedade moderna, obcecada por distrações e avessa ao desconforto do pensamento profundo, arrisca sua própria ruína ao celebrar o efêmero e ignorar o essencial.

Contudo, há esperança: a lucidez, ainda que minoritária, persiste. Cabe às mentes críticas resistir ao vazio, insistir na reflexão e reacender o debate com ideias que iluminem, em vez de ofuscar.

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