Jorge Luis Borges, com
sua habitual genialidade, condensou em poucas palavras uma ideia profundamente
filosófica e emocional: “Não falo de perdão nem de vingança. A minha escolha é
mais radical: aqueles que me ferem simplesmente deixam de existir para mim. Nunca
mais dedico um pensamento a eles. O esquecimento é a única vingança e, ao mesmo
tempo, o único perdão.”
Esse trecho reflete a
visão de Borges sobre o poder do controle mental e emocional, uma postura que
transcende as reações instintivas de raiva ou mágoa.
Para ele, a indiferença
não é apenas um estado passivo, mas uma decisão ativa, um ato de soberania
sobre o próprio espírito. Complementando essa reflexão, pode-se dizer que
poucas coisas são tão poderosas quanto a indiferença absoluta.
Afinal, não há castigo
maior do que ser apagado da memória de quem um dia importou. É como se, ao
retirar alguém do nosso universo interior, negássemos a essa pessoa o direito
de influenciar nossa paz ou nossa história.
Mas há um outro lado
nessa moeda: o esquecimento, enquanto arma de autodefesa, exige uma disciplina
quase sobre-humana. Esquecer não é apenas ignorar, é apagar as marcas deixadas
no tecido da alma, um processo que, paradoxalmente, pode demandar mais energia
do que perdoar ou buscar revanche.
Borges, com sua escrita
labiríntica e cheia de espelhos, talvez quisesse nos provocar a pensar: será o
esquecimento uma forma de liberdade ou uma ilusão que carregamos para nos
proteger?
Seja como for, sua escolha radical nos convida a refletir sobre o peso que damos ao outro - e o quanto podemos nos aliviar ao decidir que esse peso simplesmente não existe mais.
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