Ernest
Miller Hemingway nasceu em 21 de julho de 1899, em Oak Park, uma pacata cidade
do estado de Illinois, nos Estados Unidos. Escritor norte-americano de renome,
sua vida foi tão intensa quanto suas obras, marcadas por aventuras, guerras,
amores tumultuosos e uma busca incessante por significado em um mundo muitas
vezes caótico.
Hemingway
não apenas escreveu sobre a condição humana, mas a viveu com uma paixão
visceral, deixando um legado literário que ainda ressoa no estilo
contemporâneo.
Aos 18
anos, com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) assolando a Europa, o jovem
Hemingway, recém-formado no ensino médio em Oak Park e com experiência como
repórter no jornal The Kansas City Star, sentiu o chamado da aventura.
Incapaz
de se alistar no exército devido a um problema de visão, encontrou uma
alternativa: tornou-se motorista de ambulância na Cruz Vermelha, na Itália. Lá,
em meio aos horrores da guerra, foi gravemente ferido por uma explosão de
morteiro, experiência que marcou sua visão de mundo e inspirou o romance Adeus
às Armas (1929).
Na
Itália, também se apaixonou pela enfermeira Agnes von Kurowsky, cuja figura
daria vida à personagem Catherine Barkley, a heroína trágica de sua obra.
Ao
retornar a Oak Park, a monotonia da cidade natal já não o satisfazia; o jovem
que voltava da guerra era outro, inquieto e sedento por novas experiências. Em
1921, Hemingway partiu para Paris, acompanhado de sua primeira esposa,
Elizabeth Hadley Richardson, com quem teve um filho, John.
Na
capital francesa, trabalhando como correspondente do Toronto Star Weekly, ele
mergulhou na vibrante cena cultural da "Geração Perdida" - termo
cunhado por Gertrude Stein para descrever a comunidade de escritores e artistas
expatriados que buscavam sentido após a devastação da guerra.
Lá,
Hemingway formou laços com figuras como Ezra Pound, F. Scott Fitzgerald e a
própria Stein, que se tornaram influências e amigos em seus primeiros passos
como escritor.
Foi nesse
ambiente que ele publicou O Sol Também Se Levanta (1926), inspirado por sua
fascinação pela cultura espanhola e pelas touradas de Pamplona, onde, em meados
do século XX, chegou a se aventurar como toureiro amador.
A
Espanha, onde viveu por quatro anos, tornou-se uma paixão duradoura, marcada
por uma conexão emocional e ideológica com o povo e suas tradições.
Em
1927, Hemingway casou-se pela segunda vez, com a jornalista de moda Pauline
Pfeiffer, com quem teve dois filhos, Patrick e Gregory. O casal se estabeleceu
em Key West, na Flórida, em 1928, mas a vida doméstica não aplacava o espírito
inquieto do escritor.
Sentindo
falta da adrenalina do jornalismo e das viagens, ele encontrou em Joe Russell,
dono do bar Sloppy Joe’s, um companheiro de aventuras. Juntos, partiram para
uma pescaria em alto-mar que os levou a Havana, Cuba, em 1930.
A ilha
se tornaria um refúgio constante para Hemingway, que se hospedava no Hotel
Ambos Mundos, no coração de Habana Vieja. Por mais de duas décadas, Cuba foi
palco de sua vida e inspiração, com o iate Pilar como testemunha de suas
jornadas de pesca ao marlim e de suas reflexões sobre a vida.
A
década de 1930 trouxe novos amores e conflitos. Hemingway envolveu-se
romanticamente com Jane Mason, esposa de um executivo da Pan American Airways,
enquanto seu casamento com Pauline se desmoronava.
Em
1936, conheceu a jornalista Martha Gellhorn, uma mulher destemida que cobria a
Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Atraído por sua coragem e espírito
independente, Hemingway seguiu-a para a Espanha, onde atuou como correspondente
do North American Newspaper Alliance.
Sua
simpatia pelas forças republicanas, que lutavam contra o fascismo de Franco,
impregnou-se em Por Quem os Sinos Dobram (1940), considerada sua obra-prima.
O
romance, ambientado no conflito espanhol, reflete não apenas a brutalidade da
guerra, mas também a complexidade das escolhas humanas.
Nesse
período, ele e Martha se casaram, marcando seu terceiro matrimônio. Com o
início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Hemingway retornou a Cuba com
Martha.
Durante
o conflito, ele organizou uma rede de informantes para monitorar simpatizantes
fascistas na ilha e patrulhava o litoral cubano a bordo do Pilar, em busca de
submarinos alemães - uma iniciativa que, embora patriótica, despertou suspeitas
do FBI, que o via como potencial simpatizante do comunismo devido às suas
posições políticas.
Após a
guerra, em 1946, Hemingway casou-se pela quarta e última vez, com a jornalista
Mary Welsh, uma mulher reservada que o acompanhou em seus anos mais
turbulentos, marcados por instabilidade emocional e problemas de saúde.
A saúde
de Hemingway, já fragilizada por anos de excessos, acidentes e o peso de suas
experiências, começou a declinar. Portador de hemocromatose, uma condição que
contribuiu para sua depressão, hipertensão e diabetes, ele enfrentava também
perdas de memória e crises de paranoia.
O
suicídio, um tema recorrente em sua vida e obra, era uma sombra constante. Seu
pai, Clarence, havia se matado em 1929, e a mãe, Grace, uma figura dominadora,
enviou ao escritor a pistola usada no ato - um gesto que o deixou profundamente
abalado.
Em
1952, Hemingway publicou O Velho e o Mar, uma história de luta e resiliência
que lhe rendeu o Prêmio Pulitzer de Ficção em 1953 e o Prêmio Nobel de
Literatura em 1954, reconhecendo sua "mestria na arte da narrativa" e
sua influência no estilo literário moderno.
Apesar
dos triunfos, Hemingway não conseguiu escapar de seus demônios. A
"evidência trágica" do fim, presente em suas personagens, também o
perseguia.
Em 2 de
julho de 1961, em sua casa em Ketchum, Idaho, aos 61 anos, ele pegou um fuzil
de caça e pôs fim à própria vida. Foi sepultado no Cemitério de Ketchum,
deixando um vazio no mundo literário e um legado de obras que continuam a
inspirar gerações.
Sua vida,
marcada por guerras, amores, aventuras e tragédias, foi um reflexo de suas
histórias: intensa, contraditória e profundamente humana.