Houve
um tempo em que as mensagens não piscavam em telas, mas nasciam nos olhares que
cruzavam silêncios e diziam tudo. Um tempo sem likes, curtidas ou corações
virtuais, mas onde as pessoas se conheciam pelo nome, cumprimentavam-se nas
ruas com sorrisos sinceros e trocavam apertos de mão que carregavam afeto.
As
praças eram palcos de encontros, onde crianças corriam livres, e os bancos de
madeira guardavam conversas longas, cheias de risadas e histórias que não
precisavam de filtros para serem belas.
Houve
um tempo em que o conselho de um pai, dado com paciência à mesa do jantar,
valia mais do que qualquer busca no Google. Suas palavras, temperadas pela
experiência, eram bússolas para a vida, guiando com sabedoria que nenhuma
inteligência artificial poderia replicar.
As
histórias dos avós, contadas ao pé da lareira ou sob a sombra de uma árvore,
eram mais ricas e verdadeiras do que qualquer verbete da Wikipédia.
Eles
narravam com brilho nos olhos os desafios de outras eras, as guerras que
marcaram gerações, as festas de vila que uniam comunidades e os amores que
resistiam ao tempo, sem necessidade de validação online.
Houve
um tempo em que o e-mail era apenas um sonho futurista, mas o carteiro era um
velho amigo que trazia novidades. Havia recados rabiscados à mão, cartões
postais com paisagens desbotadas e cartas de amor dobradas com cuidado, algumas
escondidas em caixinhas de fósforos ou guardadas como tesouros em gavetas
perfumadas.
Escrever
era um ato de entrega, onde cada palavra carregava um pedaço da alma, e o tempo
de espera pela resposta só aumentava o valor de cada linha recebida.
Naquele
tempo, as discussões não se escondiam no anonimato covarde das redes sociais.
Era ao balcão do bar, entre o tilintar de copos e o aroma de café, que as
ideias se encontravam.
Homens
e mulheres debatiam com argumentos, respeito e um brinde partilhado, fosse de
uma cerveja gelada ou de um licor caseiro. As conversas eram francas, os olhos
se encaravam, e as diferenças se resolviam com humanidade, sem teclados para
amplificar rancores.
Houve
um tempo em que as pessoas não precisavam fingir ser o que não eram. Não havia
Photoshop para apagar imperfeições, nem filtros para mascarar a realidade.
As
rugas, desenhadas pelos anos, contavam histórias de risos, choros e vitórias. A
beleza estava na autenticidade, nos cabelos grisalhos que eram troféus da vida,
nas mãos calejadas que contavam jornadas de trabalho e nas cicatrizes que
narravam aventuras.
A vida
era crua, mas verdadeira, e as pessoas se aceitavam como eram, sem a pressão de
uma vitrine digital. Sim, anseio por aqueles momentos em que a simplicidade
reinava, e a verdade não precisava de validação em likes ou compartilhamentos.
Um
tempo em que os corações vibravam com a presença uns dos outros, e não com
notificações de celulares. Era uma era em que as festas de São João reuniam a
vila em torno de uma fogueira, onde o som do rádio embalava as tardes de
domingo, e as crianças brincavam de roda, sem pressa, enquanto o sol se punha.
Um
tempo em que as notícias chegavam pelo jornal ou pelo boca a boca, e as pessoas
confiavam mais no que viam com os próprios olhos do que no que liam em
manchetes sensacionalistas.
Houve
esse tempo... e, embora o mundo tenha girado e a tecnologia tenha trazido suas
maravilhas, há algo naquele passado que ainda sussurra em nossos corações.
Talvez
seja a saudade de uma conexão mais humana, de um mundo onde o tempo corria mais
devagar, e o que importava era o toque, o olhar, a voz.
Quem sabe, ao lembrar desses dias, possamos resgatar um pouco dessa essência e trazer, para o hoje, a verdade simples que fazia tudo valer a pena.
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