O MS World Discoverer: Uma História de Exploração e Naufrágio
O MS
World Discoverer foi um navio de cruzeiro especializado em expedições,
projetado para navegar em algumas das regiões mais remotas e desafiadoras do
planeta.
Construído
em 1974 pelo estaleiro Schichau Unterweser, na Alemanha, o navio foi concebido
para enfrentar condições extremas, como as águas geladas da Antártica e as rotas
árticas do Alasca.
Sua
história, marcada por aventuras polares e cruzeiros exóticos, terminou
tragicamente em 2000, quando colidiu com um obstáculo subaquático nas Ilhas
Salomão, sendo abandonado na Baía de Roderick, onde permanece como um símbolo
enferrujado de sua glória passada.
Origens e Transformações do Navio
O navio
foi originalmente batizado como BEWA Discoverer em 1974, operado pela BEWA
Cruises, sediada na Dinamarca. Dois anos depois, em julho de 1976, foi
adquirido pela Adventure Cruises, Inc., que o renomeou World Discoverer.
A
partir de então, o navio passou a ser fretado pela Society Expeditions, uma
empresa especializada em cruzeiros de aventura, com foco em destinos remotos e
experiências educacionais.
Em
1976, o World Discoverer foi registrado em Cingapura, mas, em 1990, passou a
ser registrado na Libéria, sob a propriedade da Discoverer Reederei, que também
operava outros navios de expedição, como o MV Explorer.
O World
Discoverer foi projetado com um casco duplo reforçado, classificado como classe
de gelo sueco/finlandês 1A, o que o tornava apto para navegar em águas polares
com segurança, resistindo a impactos leves de gelo flutuante.
Com um
alcance de cruzeiro de 13.000 km (8.100 milhas), o navio era capaz de realizar
travessias longas, como a Passagem do Noroeste, uma rota histórica que conecta
os oceanos Atlântico e Pacífico através do Ártico canadense.
Sua
frota de botes infláveis permitia aos passageiros desembarcar em locais
remotos, aproximando-se de icebergs, geleiras e vida selvagem.
Rotas e Experiências a Bordo
O World
Discoverer operava sazonalmente, adaptando suas rotas ao clima das regiões
visitadas. De novembro a fevereiro, durante o verão austral, o navio explorava
o hemisfério sul, visitando a Antártica, as Ilhas Malvinas, o Chile e a
Argentina.
Entre
março e maio, e de agosto a outubro, cruzava as ilhas do Pacífico Sul,
incluindo destinos como Vanuatu, Fiji e Papua-Nova Guiné. Nos meses de junho a
agosto, navegava pelas águas do Alasca e pela fronteira russa no Mar de Bering,
oferecendo aos passageiros vistas deslumbrantes de fiordes, geleiras e vida
selvagem, como ursos polares e baleias.
A
bordo, o navio combinava conforto e funcionalidade. Equipado com uma sala de
observação, biblioteca, solário com piscina, pequeno centro de fitness, centro
médico com médico residente e sala de palestras, o World Discoverer
proporcionava uma experiência imersiva.
Uma
equipe de especialistas, incluindo geólogos, historiadores, naturalistas e
biólogos marinhos, liderava expedições costeiras e palestras, enriquecendo a
viagem com informações sobre a fauna, flora e história das regiões visitadas.
Diariamente, os passageiros participavam de duas a três excursões, explorando a
vida selvagem e os ecossistemas únicos dos destinos.
O Naufrágio nas Ilhas Salomão
Em 30
de abril de 2000, às 16h, horário local (05:00 GMT), o World Discoverer
enfrentou seu destino final na Passagem Sandfly, nas Ilhas Salomão.
Durante
a navegação, o navio colidiu com um recife ou rocha subaquática não mapeada,
sofrendo danos graves no casco. O capitão Oliver Kruess, que já havia servido
como imediato, agiu rapidamente, emitindo um sinal de socorro recebido em
Honiara, capital das Ilhas Salomão.
Com o
navio começando a adernar 20 graus, Kruess decidiu encalhá-lo deliberadamente
na Baía de Roderick, nas Ilhas Nggela, para evitar um naufrágio completo. Graças
à eficiência da tripulação, todos os passageiros foram evacuados em segurança
por uma balsa enviada de Honiara, sem registro de feridos.
Após a
evacuação, Kruess e a tripulação permaneceram a bordo para estabilizar o navio,
que foi encalhado com uma inclinação de 46 graus. Michael Lomax, presidente da
Society Expeditions, elogiou publicamente o capitão e a tripulação por sua
conduta "exemplar" durante a crise, destacando seu profissionalismo e
coragem.
Consequências e Abandono
Após
uma inspeção subaquática, o World Discoverer foi declarado uma perda
construtiva, ou seja, o custo de reparo excedia seu valor. A localização remota
do naufrágio, combinada com a instabilidade política nas Ilhas Salomão,
dificultou qualquer tentativa de salvamento.
Na
época, o país estava imerso em uma guerra civil (1998-2003), marcada por
conflitos étnicos e violência, o que tornava operações logísticas complexas e
perigosas.
Uma
tentativa de resgate em 2000 foi abortada após relatos de troca de tiros entre
equipes de salvamento e moradores locais, possivelmente devido a tensões
relacionadas ao conflito ou à proteção de itens saqueados do navio.
Com o
tempo, o World Discoverer foi saqueado por moradores e visitantes, com janelas
quebradas, equipamentos removidos e a estrutura danificada pela ação das marés
e da corrosão.
Hoje, o
navio permanece na Baía de Roderick, com sua superestrutura enferrujada e
parcialmente submersa, servindo como uma atração turística improvisada.
Cruzeiros
que passam pela região, como o MV Princess II, frequentemente incluem o
naufrágio em seus roteiros, permitindo que passageiros observem o esqueleto do
outrora majestoso navio de expedição.
O Legado do World Discoverer
O naufrágio
marcou o fim de uma era para a Society Expeditions, que enfrentou dificuldades
financeiras agravadas pelo incidente. Em 2002, a empresa tentou recuperar sua
reputação ao remodelar um novo navio de classe de gelo, também chamado World
Discoverer, mas as operações foram interrompidas em 2004, quando o novo navio
foi apreendido por credores em Nome, Alasca.
Duas
semanas depois, a Society Expeditions declarou falência. O navio substituto,
após várias mudanças de nome, opera atualmente como Silver Explorer, sob nova
administração.
O World
Discoverer original, abandonado nas Ilhas Salomão, tornou-se um símbolo da
fragilidade humana diante da natureza e dos conflitos. Sua história reflete a
ambição de explorar os confins do planeta, mas também os riscos inerentes a
essas aventuras.
Para os
moradores das Ilhas Nggela, o navio é uma lembrança tangível de um evento que,
por um breve momento, colocou sua região remota no centro das atenções globais.
Para os
entusiastas de naufrágios e viajantes, o World Discoverer permanece como um
monumento à era dourada dos cruzeiros de expedição, eternamente ancorado na
Baía de Roderick.
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