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domingo, julho 14, 2024

MS World Discoverer



 

O MS World Discoverer: Uma História de Exploração e Naufrágio

O MS World Discoverer foi um navio de cruzeiro especializado em expedições, projetado para navegar em algumas das regiões mais remotas e desafiadoras do planeta.

Construído em 1974 pelo estaleiro Schichau Unterweser, na Alemanha, o navio foi concebido para enfrentar condições extremas, como as águas geladas da Antártica e as rotas árticas do Alasca.

Sua história, marcada por aventuras polares e cruzeiros exóticos, terminou tragicamente em 2000, quando colidiu com um obstáculo subaquático nas Ilhas Salomão, sendo abandonado na Baía de Roderick, onde permanece como um símbolo enferrujado de sua glória passada.

Origens e Transformações do Navio

O navio foi originalmente batizado como BEWA Discoverer em 1974, operado pela BEWA Cruises, sediada na Dinamarca. Dois anos depois, em julho de 1976, foi adquirido pela Adventure Cruises, Inc., que o renomeou World Discoverer.

A partir de então, o navio passou a ser fretado pela Society Expeditions, uma empresa especializada em cruzeiros de aventura, com foco em destinos remotos e experiências educacionais.

Em 1976, o World Discoverer foi registrado em Cingapura, mas, em 1990, passou a ser registrado na Libéria, sob a propriedade da Discoverer Reederei, que também operava outros navios de expedição, como o MV Explorer.

O World Discoverer foi projetado com um casco duplo reforçado, classificado como classe de gelo sueco/finlandês 1A, o que o tornava apto para navegar em águas polares com segurança, resistindo a impactos leves de gelo flutuante.

Com um alcance de cruzeiro de 13.000 km (8.100 milhas), o navio era capaz de realizar travessias longas, como a Passagem do Noroeste, uma rota histórica que conecta os oceanos Atlântico e Pacífico através do Ártico canadense.

Sua frota de botes infláveis permitia aos passageiros desembarcar em locais remotos, aproximando-se de icebergs, geleiras e vida selvagem.

Rotas e Experiências a Bordo

O World Discoverer operava sazonalmente, adaptando suas rotas ao clima das regiões visitadas. De novembro a fevereiro, durante o verão austral, o navio explorava o hemisfério sul, visitando a Antártica, as Ilhas Malvinas, o Chile e a Argentina.

Entre março e maio, e de agosto a outubro, cruzava as ilhas do Pacífico Sul, incluindo destinos como Vanuatu, Fiji e Papua-Nova Guiné. Nos meses de junho a agosto, navegava pelas águas do Alasca e pela fronteira russa no Mar de Bering, oferecendo aos passageiros vistas deslumbrantes de fiordes, geleiras e vida selvagem, como ursos polares e baleias.

A bordo, o navio combinava conforto e funcionalidade. Equipado com uma sala de observação, biblioteca, solário com piscina, pequeno centro de fitness, centro médico com médico residente e sala de palestras, o World Discoverer proporcionava uma experiência imersiva.

Uma equipe de especialistas, incluindo geólogos, historiadores, naturalistas e biólogos marinhos, liderava expedições costeiras e palestras, enriquecendo a viagem com informações sobre a fauna, flora e história das regiões visitadas. Diariamente, os passageiros participavam de duas a três excursões, explorando a vida selvagem e os ecossistemas únicos dos destinos.

O Naufrágio nas Ilhas Salomão

Em 30 de abril de 2000, às 16h, horário local (05:00 GMT), o World Discoverer enfrentou seu destino final na Passagem Sandfly, nas Ilhas Salomão.

Durante a navegação, o navio colidiu com um recife ou rocha subaquática não mapeada, sofrendo danos graves no casco. O capitão Oliver Kruess, que já havia servido como imediato, agiu rapidamente, emitindo um sinal de socorro recebido em Honiara, capital das Ilhas Salomão.

Com o navio começando a adernar 20 graus, Kruess decidiu encalhá-lo deliberadamente na Baía de Roderick, nas Ilhas Nggela, para evitar um naufrágio completo. Graças à eficiência da tripulação, todos os passageiros foram evacuados em segurança por uma balsa enviada de Honiara, sem registro de feridos.

Após a evacuação, Kruess e a tripulação permaneceram a bordo para estabilizar o navio, que foi encalhado com uma inclinação de 46 graus. Michael Lomax, presidente da Society Expeditions, elogiou publicamente o capitão e a tripulação por sua conduta "exemplar" durante a crise, destacando seu profissionalismo e coragem.

Consequências e Abandono

Após uma inspeção subaquática, o World Discoverer foi declarado uma perda construtiva, ou seja, o custo de reparo excedia seu valor. A localização remota do naufrágio, combinada com a instabilidade política nas Ilhas Salomão, dificultou qualquer tentativa de salvamento.

Na época, o país estava imerso em uma guerra civil (1998-2003), marcada por conflitos étnicos e violência, o que tornava operações logísticas complexas e perigosas.

Uma tentativa de resgate em 2000 foi abortada após relatos de troca de tiros entre equipes de salvamento e moradores locais, possivelmente devido a tensões relacionadas ao conflito ou à proteção de itens saqueados do navio.

Com o tempo, o World Discoverer foi saqueado por moradores e visitantes, com janelas quebradas, equipamentos removidos e a estrutura danificada pela ação das marés e da corrosão.

Hoje, o navio permanece na Baía de Roderick, com sua superestrutura enferrujada e parcialmente submersa, servindo como uma atração turística improvisada.

Cruzeiros que passam pela região, como o MV Princess II, frequentemente incluem o naufrágio em seus roteiros, permitindo que passageiros observem o esqueleto do outrora majestoso navio de expedição.

O Legado do World Discoverer

O naufrágio marcou o fim de uma era para a Society Expeditions, que enfrentou dificuldades financeiras agravadas pelo incidente. Em 2002, a empresa tentou recuperar sua reputação ao remodelar um novo navio de classe de gelo, também chamado World Discoverer, mas as operações foram interrompidas em 2004, quando o novo navio foi apreendido por credores em Nome, Alasca.

Duas semanas depois, a Society Expeditions declarou falência. O navio substituto, após várias mudanças de nome, opera atualmente como Silver Explorer, sob nova administração.

O World Discoverer original, abandonado nas Ilhas Salomão, tornou-se um símbolo da fragilidade humana diante da natureza e dos conflitos. Sua história reflete a ambição de explorar os confins do planeta, mas também os riscos inerentes a essas aventuras.

Para os moradores das Ilhas Nggela, o navio é uma lembrança tangível de um evento que, por um breve momento, colocou sua região remota no centro das atenções globais.

Para os entusiastas de naufrágios e viajantes, o World Discoverer permanece como um monumento à era dourada dos cruzeiros de expedição, eternamente ancorado na Baía de Roderick.

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