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terça-feira, julho 16, 2024

João do Pulo - No Salto Triplo bateu o recorde mundial da modalidade.



João do Pulo: O Ícone Brasileiro do Salto Triplo

João Carlos de Oliveira, eternizado como João do Pulo, é um dos maiores nomes do atletismo brasileiro. Nascido em Pindamonhangaba, São Paulo, em 28 de maio de 1954, ele conquistou o coração dos brasileiros ao elevar o salto triplo a um novo patamar, marcando seu nome na história do esporte mundial.

Recordista mundial, medalhista olímpico, tetracampeão pan-americano no salto triplo e no salto em distância, João também foi militar, político e, acima de tudo, um símbolo de superação.

Sua trajetória, marcada por conquistas brilhantes e tragédias pessoais, reflete a complexidade de um herói humano que transcendeu as pistas.

O Surgimento de um Talento

Órfão de mãe, começou a trabalhar aos sete anos, lavando carros para ajudar a família. Seu talento para o atletismo foi descoberto na adolescência, e, em 1973, sob a orientação do técnico Pedro Henrique de Toledo, o “Pedrão”, João quebrou o recorde mundial júnior de salto triplo no Campeonato Sul-Americano de Atletismo, com a marca de 13,75 m.

Esse foi o primeiro sinal de que o Brasil tinha uma nova estrela no esporte. Em 1975, aos 21 anos, João do Pulo alcançou o ápice mundial nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México.

No dia 15 de outubro, ele saltou 17,89 m no salto triplo, superando o recorde mundial do soviético Viktor Saneyev por impressionantes 45 cm. A marca não apenas lhe rendeu a medalha de ouro, mas também colocou o salto triplo no vocabulário dos brasileiros, transformando-o em herói nacional.

No mesmo evento, ele venceu o salto em distância com 8,19 m, consolidando-se como um dos maiores saltadores do mundo. Essa conquista trouxe à tona a tradição brasileira na modalidade, iniciada nos anos 1950 por Adhemar Ferreira da Silva, bicampeão olímpico no salto triplo.

João do Pulo tornou-se o herdeiro dessa legado, levando o Brasil a novos patamares no atletismo.

As Olimpíadas: Glória e Frustrações

João chegou às Olimpíadas de Montreal, em 1976, como favorito ao ouro no salto triplo e principal estrela da delegação brasileira. Ele também foi honrado com a responsabilidade de ser o porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura.

No entanto, uma inflamação no nervo ciático, agravada por uma recente cirurgia abdominal, comprometeu seu desempenho. Mesmo enfrentando dores intensas, ele conquistou a medalha de bronze com 16,90 m, ficando atrás de Viktor Saneyev (17,29 m) e do norte-americano James Butts (17,18 m).

No salto em distância, terminou em quarto lugar, mostrando sua versatilidade, mas sem subir ao pódio. Nos Jogos Pan-Americanos de San Juan, Porto Rico, em 1979, João reafirmou sua dominância, tornando-se bicampeão no salto triplo e no salto em distância.

Sua vitória no salto em distância contra o jovem Carl Lewis, que mais tarde se tornaria uma lenda olímpica, foi um feito notável, consolidando seu tetracampeonato pan-americano nas duas provas.

As Olimpíadas de Moscou, em 1980, realizadas no auge da Guerra Fria e marcadas pelo boicote dos Estados Unidos e outros países aliados, representavam a maior chance de João conquistar o ouro olímpico.

Como recordista mundial, ele era o principal adversário dos atletas soviéticos Viktor Saneyev, tricampeão olímpico, e Jaak Uudmäe. No entanto, a competição foi marcada por controvérsias que mancharam o evento.

Durante a prova de salto triplo, João teve dois saltos anulados pelos juízes soviéticos, incluindo um que, segundo analistas internacionais, ultrapassava os 18 metros e poderia ter estabelecido um novo recorde mundial.

Observadores consideraram os saltos válidos, acusando os fiscais de manipulação para favorecer os atletas da casa. O objetivo, segundo críticos, era garantir um quarto título olímpico a Saneyev, algo inédito na modalidade.

Apesar disso, Saneyev ficou com a prata (17,24 m), superado por Uudmäe (17,35 m), enquanto João garantiu o bronze com um salto validado de 17,22 m.

Anos depois, o técnico letão de Uudmäe, Harry Seinberg, admitiu em conversas informais que os saltos de João foram injustamente anulados, mas nunca formalizou a denúncia à Federação Internacional de Atletismo (IAAF) ou ao Comitê Olímpico Internacional (COI).

Em 2000, o jornal australiano The Sydney Morning Herald publicou uma extensa reportagem que revelou que as anulações faziam parte de uma operação soviética para manipular os resultados.

Embora o plano de dar o tetracampeonato a Saneyev não tenha se concretizado, a medalha de ouro permaneceu com a URSS, deixando um gosto amargo na carreira de João.

Domínio Mundial e Legado Esportivo

Apesar das frustrações olímpicas, João do Pulo dominou o salto triplo em competições internacionais. Na era anterior aos Campeonatos Mundiais de Atletismo, ele conquistou o título mundial da modalidade três vezes: em 1977 (Düsseldorf), 1979 (Montreal) e 1981 (Roma).

Em 1981, com a marca de 17,37 m, ele derrotou Jaak Uudmäe, seu rival de Moscou, e Willie Banks, futuro recordista mundial, reforçando sua supremacia.

Seu recorde mundial de 17,89 m, estabelecido em 1975, permaneceu intacto por quase uma década, sendo superado apenas em 1985 por Willie Banks, com 17,90 m, em Indianápolis.

No Brasil e na América do Sul, a marca de João resistiu por mais de 21 anos, até ser quebrada por Jardel Gregório, também treinado por Pedrão, com 17,90 m, em Belém, em 2007.

João também deixou sua marca na cultura brasileira. Ele foi homenageado na música “João do Pulo”, composta por Aldir Blanc e João Bosco, que celebra sua garra e talento.

Em 2016, os Correios lançaram um selo postal comemorativo pelos 41 anos de seu recorde no Pan de 1975, reconhecendo sua importância para o esporte nacional.

Tragédia e Vida Após as Pistas

A carreira de João do Pulo foi interrompida tragicamente em 22 de dezembro de 1981, quando ele sofreu um grave acidente automobilístico na Via Anhanguera, no trecho entre Campinas e São Paulo.

Após quase um ano internado na UTI, sua perna direita foi amputada, encerrando sua trajetória como atleta aos 27 anos. Nos anos seguintes, João buscou novos caminhos.

Formou-se em Educação Física e entrou para a política, sendo eleito deputado estadual em São Paulo pelo PFL em 1986 e reeleito em 1990. No entanto, não conseguiu se reeleger em 1994 e 1998, enfrentando dificuldades financeiras e pessoais.

Como segundo tenente reformado do Exército, seu soldo era sua única fonte de renda estável. A vida pós-atletismo foi marcada por desafios. João lutou contra a depressão, o alcoolismo e problemas familiares, incluindo uma prisão por não pagamento de pensão alimentícia a um de seus dois filhos.

Ele faleceu em 29 de maio de 1999, aos 45 anos, vítima de cirrose hepática e infecção generalizada, em uma fase de solidão e dificuldades.

O Legado de João do Pulo

João do Pulo é lembrado não apenas por suas conquistas, mas por sua resiliência e impacto cultural. Eleito pela Federação Mundial de Atletismo como o quarto maior triplista da história, ele inspirou gerações de atletas brasileiros e colocou o salto triplo no mapa do esporte nacional.

Sua história, porém, também reflete as dificuldades enfrentadas por muitos atletas brasileiros, que, após o auge, enfrentam a falta de apoio e estrutura. O contexto histórico de suas conquistas, em meio à ditadura militar no Brasil e à Guerra Fria no cenário global, adiciona camadas à sua narrativa.

João representava um Brasil que buscava afirmação internacional, e suas vitórias eram celebradas como símbolos de orgulho nacional. As controvérsias em Moscou, por outro lado, expuseram as manipulações políticas que muitas vezes influenciavam o esporte.

Hoje, João do Pulo segue como um ícone do atletismo brasileiro, um exemplo de talento nato e determinação, mas também um lembrete da necessidade de valorizar e apoiar os heróis do esporte ao longo de suas vidas.


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