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sexta-feira, julho 19, 2024

O Homem Jovem


 

O homem, em sua juventude, vive envolto em uma solidão essencial, ainda que suas experiências sejam muitas e variadas. Nessa fase, ele se lança ao mundo com a ilusão de moldá-lo às suas mãos, como se pudesse, ao dominar a realidade, conquistar a si mesmo.

Acredita que, ao acumular vitórias, posses ou feitos, encontrará um reflexo fiel de sua própria existência, um sentido que o complete. É um tempo de ousadia, mas também de engano, pois o mundo, com sua vastidão, resiste a ser apenas um espelho de nossas vontades.

No entanto, a verdade que aos poucos se revela é que não nascemos para dominar, mas para o encontro. O outro - seja ele um semelhante, um amor, uma ideia ou até mesmo o mistério da própria existência - não se submete ao nosso controle.

Encontrá-lo é, paradoxalmente, perdê-lo: é aceitar que o outro existe em sua liberdade absoluta, em sua gratuidade, sem serventia imediata para nossos propósitos.

É contemplá-lo com reverência, respeitando sua essência intocada, amando-o não pelo que pode nos oferecer, mas por aquilo que ele é, em sua total e desinteressada inutilidade.

A sabedoria começa quando percebemos que nossas mãos, por mais que se esforcem, permanecem vazias. Ganhar o mundo, ou pretender ganhá-lo, é uma busca que nos devolve ao vazio, pois o que buscamos não está nas coisas que acumulamos, mas no que nos escapa.

É nesse instante de lucidez que a solidão nos atravessa como um dardo afiado. Chega o meio-dia da vida - não apenas a meia-idade, mas o momento em que a existência se impõe com sua clareza implacável.

A face do outro, então, surge diante de nós como um enigma, um espelho que reflete tanto nossa finitude quanto nossa possibilidade de transcendência.

Feliz é aquele que, nesse meio-dia, se reconhece em plena treva, despojado de ilusões, pobre de certezas e nu de pretensões. Esse é o preço do verdadeiro encontro, da possibilidade de se abrir ao outro sem defesas ou condições.

É um instante de vulnerabilidade sagrada, em que o homem aceita sua fragilidade e, ao fazê-lo, se torna capaz de amar e de ser amado na gratuidade do ser.

A partir desse momento, a construção dessa possibilidade de encontro torna-se o trabalho maior do homem que deseja merecer seu nome. Não se trata mais de conquistar, mas de acolher; não de possuir, mas de compartilhar.

É um labor paciente, feito de silêncios, de escuta, de renúncias e de pequenos gestos que constroem pontes onde antes havia abismos. É um caminho que exige coragem, pois implica abandonar as armaduras do ego e caminhar desprotegido ao encontro do outro, sabendo que o sentido da vida não está em dominar o mundo, mas em habitá-lo com verdade e humildade.

Esse encontro, quando acontece, não é um fim, mas um começo. Ele nos transforma, pois nos ensina que a solidão, embora inevitável, não é o destino final.

Pelo contrário, ela é a porta que nos conduz ao outro, ao mundo, a nós mesmos. E assim, o homem que aprende a encontrar, em vez de dominar, descobre que a verdadeira conquista é a de sua própria humanidade.

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