O
homem, em sua juventude, vive envolto em uma solidão essencial, ainda que suas
experiências sejam muitas e variadas. Nessa fase, ele se lança ao mundo com a
ilusão de moldá-lo às suas mãos, como se pudesse, ao dominar a realidade,
conquistar a si mesmo.
Acredita
que, ao acumular vitórias, posses ou feitos, encontrará um reflexo fiel de sua
própria existência, um sentido que o complete. É um tempo de ousadia, mas
também de engano, pois o mundo, com sua vastidão, resiste a ser apenas um
espelho de nossas vontades.
No
entanto, a verdade que aos poucos se revela é que não nascemos para dominar,
mas para o encontro. O outro - seja ele um semelhante, um amor, uma ideia ou
até mesmo o mistério da própria existência - não se submete ao nosso controle.
Encontrá-lo
é, paradoxalmente, perdê-lo: é aceitar que o outro existe em sua liberdade
absoluta, em sua gratuidade, sem serventia imediata para nossos propósitos.
É
contemplá-lo com reverência, respeitando sua essência intocada, amando-o não
pelo que pode nos oferecer, mas por aquilo que ele é, em sua total e desinteressada
inutilidade.
A
sabedoria começa quando percebemos que nossas mãos, por mais que se esforcem,
permanecem vazias. Ganhar o mundo, ou pretender ganhá-lo, é uma busca que nos
devolve ao vazio, pois o que buscamos não está nas coisas que acumulamos, mas
no que nos escapa.
É nesse
instante de lucidez que a solidão nos atravessa como um dardo afiado. Chega o
meio-dia da vida - não apenas a meia-idade, mas o momento em que a existência
se impõe com sua clareza implacável.
A face
do outro, então, surge diante de nós como um enigma, um espelho que reflete
tanto nossa finitude quanto nossa possibilidade de transcendência.
Feliz é
aquele que, nesse meio-dia, se reconhece em plena treva, despojado de ilusões,
pobre de certezas e nu de pretensões. Esse é o preço do verdadeiro encontro, da
possibilidade de se abrir ao outro sem defesas ou condições.
É um
instante de vulnerabilidade sagrada, em que o homem aceita sua fragilidade e,
ao fazê-lo, se torna capaz de amar e de ser amado na gratuidade do ser.
A
partir desse momento, a construção dessa possibilidade de encontro torna-se o
trabalho maior do homem que deseja merecer seu nome. Não se trata mais de
conquistar, mas de acolher; não de possuir, mas de compartilhar.
É um
labor paciente, feito de silêncios, de escuta, de renúncias e de pequenos
gestos que constroem pontes onde antes havia abismos. É um caminho que exige
coragem, pois implica abandonar as armaduras do ego e caminhar desprotegido ao
encontro do outro, sabendo que o sentido da vida não está em dominar o mundo,
mas em habitá-lo com verdade e humildade.
Esse
encontro, quando acontece, não é um fim, mas um começo. Ele nos transforma,
pois nos ensina que a solidão, embora inevitável, não é o destino final.
Pelo contrário, ela é a porta que nos conduz ao outro, ao mundo, a nós mesmos. E assim, o homem que aprende a encontrar, em vez de dominar, descobre que a verdadeira conquista é a de sua própria humanidade.
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