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domingo, julho 14, 2024

Eduard Wirths


 

Eduard Wirths: O Médico da SS e o Papel em Auschwitz

Eduard Wirths nasceu em 4 de setembro de 1909, em Geroldshausen, na Baviera, Alemanha, em uma família com inclinações democráticas-socialistas.

Seu pai, um médico que serviu como oficial de saúde durante a Primeira Guerra Mundial, exerceu forte influência sobre Eduard, que desde jovem demonstrou traços de meticulosidade, obediência e confiabilidade - características que marcaram sua vida adulta.

Segundo o historiador Robert Jay Lifton, Wirths era descrito como compassivo, reservado e "suave" em suas interações, abstendo-se de fumar ou beber. A família Wirths não tinha histórico de antissemitismo ou simpatia pelo nacionalismo radical, o que torna a trajetória de Eduard ainda mais paradoxal.

Apesar de seu ambiente familiar, Wirths abraçou fervorosamente a ideologia nazista durante seus estudos de medicina na Universidade de Würzburg (1930-1935). Em junho de 1933, ingressou no Partido Nazista e na SA (Sturmabteilung), e, em 1934, foi admitido na SS (Schutzstaffel).

Sua adesão ao nazismo foi reforçada por uma visão biomédica que via a "purificação racial" como um meio de revitalizar a nação alemã. Para Wirths, os judeus representavam uma ameaça direta à "saúde" da raça germânica, uma crença que o alinhava aos ideais genocidas do regime.

Carreira Militar e Ascensão em Auschwitz

Em 1939, Wirths integrou a Waffen-SS e participou de combates nas frentes da Noruega e da Rússia. Após sofrer um ataque cardíaco na primavera de 1942, foi considerado inapto para o combate e redirecionado para o sistema de campos de concentração.

Após treinamento no campo de Dachau, atuou brevemente como diretor médico no campo de Neuengamme em julho de 1942. Sua nomeação como Chefe dos Médicos da SS (SS-Standortarzt) em Auschwitz, em setembro de 1942, marcou o início de sua atuação central no campo, onde permaneceu até janeiro de 1945.

Como chefe médico, Wirths era responsável por supervisionar cerca de 20 médicos da SS, incluindo figuras infames como Josef Mengele, Horst Schumann, Carl Clauberg. Esses médicos conduziram experimentos médicos desumanos em prisioneiros, frequentemente resultando em sofrimento extremo ou morte.

Wirths tinha a responsabilidade formal pelos crimes cometidos por esses subordinados, embora ele próprio raramente participasse diretamente dos experimentos.

Papel em Auschwitz: Contradições e Crimes

Wirths foi encarregado de combater as epidemias de tifo que assolavam tanto prisioneiros quanto membros da SS em Auschwitz, uma tarefa na qual obteve pouco sucesso devido às condições insalubres do campo.

Ele também organizava as seleções de prisioneiros para experimentos médicos, especialmente em áreas como ginecologia e combate ao tifo. Seu principal interesse de pesquisa era o estudo de crescimentos pré-cancerosos no colo do útero, e ele supervisionava experimentos de esterilização em mulheres, realizados por meio de cirurgias ou radiação, delegando a execução a subordinados como Clauberg e Schumann.

Apesar de seu papel na máquina de extermínio, Wirths era visto por alguns prisioneiros, especialmente médicos detidos, como relativamente "protetor". Ele ocasionalmente intercedia para melhorar as condições de trabalho de prisioneiros médicos, o que gerou lembranças ambivalentes.

No entanto, essa percepção não atenua sua responsabilidade. Wirths via as mortes em Auschwitz, incluindo as execuções nas câmaras de gás, como "naturais", uma racionalização que refletia sua imersão na ideologia nazista.

O comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, elogiou Wirths por sua eficiência burocrática, afirmando: "Durante meus dez anos de serviço em campos de concentração, nunca encontrei alguém melhor" (Lifton, p. 386).

Em agosto de 1944, Wirths recomendou a promoção de um colega, descrevendo-o como "aberto, honesto, firme, absolutamente confiável" e destacando sua "firmeza ideológica" e contribuições para a "ciência antropológica" - um eufemismo para os experimentos realizados com prisioneiros.

Contexto dos Experimentos Médicos

Os experimentos supervisionados por Wirths incluíam testes brutais, como injeções de substâncias químicas para induzir esterilidade, exposições a radiação e infecções deliberadas com tifo para testar vacinas.

Esses procedimentos, realizados sem consentimento e em condições desumanas, causaram sofrimento indizível. Por exemplo, Carl Clauberg focava em métodos de esterilização em massa, enquanto Horst Schumann usava raios X para experimentos de esterilização, frequentemente levando à morte das vítimas.

Josef Mengele, sob a supervisão de Wirths, conduzia experimentos em gêmeos, buscando avançar a pseudociência racial nazista. O irmão de Wirths, Helmut Wirths, um ginecologista respeitado, visitou Auschwitz e participou brevemente de experimentos relacionados ao câncer.

Horrorizado com a natureza desumana das práticas, Helmut abandonou o campo após poucos dias, evidenciando o contraste entre os valores familiares e as ações de Eduard.

Fim da Guerra e Suicídio

Em setembro de 1944, Wirths foi promovido a SS-Sturmbannführer (major), consolidando seu status dentro da hierarquia nazista. Com a aproximação do fim da guerra e a evacuação de Auschwitz em janeiro de 1945, ele fugiu com outros oficiais da SS.

Capturado pelos Aliados, foi detido sob custódia do Exército Britânico. Consciente de que enfrentaria julgamento por crimes de guerra, Wirths cometeu suicídio por enforcamento em 20 de setembro de 1945.

Legado e Reflexão

Eduard Wirths personifica a contradição de um médico que, apesar de sua formação humanitária, abraçou uma ideologia que justificava atrocidades. Sua trajetória ilustra como a burocracia e a ideologia nazista corromperam profissionais de saúde, transformando-os em agentes de genocídio.

Embora nunca tenha participado diretamente dos experimentos, sua supervisão e organização foram fundamentais para a realização dos crimes médicos em Auschwitz.

O caso de Wirths também levanta questões éticas sobre a responsabilidade individual em sistemas opressivos. Sua reputação como administrador eficiente e sua ocasional "benevolência" com prisioneiros não mitigam o impacto de suas ações.

Ele permanece uma figura controversa, lembrada tanto por sua eficiência burocrática quanto por sua cumplicidade nos horrores do Holocausto.

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