Crença sem evidência - O que faz isso
tão estranho é que nós, seres humanos, sobrevivemos, nos multiplicamos e viemos
a dominar a Terra em virtude de nossa inata tendência de resolver problemas
percebendo relações de causa-e-efeito e fazendo uso delas – observando e usando
informação empírica vinda desde a aerodinâmica superior de uma flecha quando
emplumada até a extraordinária expansão de nossos poderes cognitivos alcançada
com computadores.
Todavia, ao mesmo tempo em que isso indica que a
mente humana é basicamente pragmática, praticamente todo ser humano durante a
história documentada (e julgando a partir da evidência arqueológica de muito da
pré-história) cultivou crenças religiosas sem qualquer base empírica.
Certamente, nossos ancestrais da era Homérica e
Mosaica frequentemente pensavam que haviam ouvido deuses falando com eles em
suas mentes e às vezes pensavam tê-los visto, e mesmo hoje alguns indivíduos
mentalmente doentes e outros que, apesar de tecnicamente saudáveis, são
excessivamente devotos, pensam ouvir Deus falando com eles ou veem alguma fugaz
aparição divina.
Mas a grande maioria dos crentes não ouve ou vê
tais coisas. Apesar de que muitos às vezes experimentam a manifestação de um
sentimento de contato com o divino, os crentes do mundo não veem seus deuses,
mas ídolos, símbolos e documentos que representam ou relatam sobre seus deuses.
Que outro tipo de evidência pode existir? Muitos
tipos – mas todos altamente dúbios; eventos naturais interpretados como o
trabalho de deus podem quase sempre ser explicados pelo senso comum ou por
termos científicos.
Ademais, a ocorrência de eventos miraculosos quase
nunca é pesada contra a não-ocorrência comparável de eventos miraculosos.
Frequentemente lemos nos jornais sobre alguma
criança adorável morrendo de câncer inoperável que foi maravilhosamente curada
quando a cidade toda rezou – mas nunca lemos sobre os casos em que rezas
igualmente fervorosas não salvaram as vidas de crianças igualmente adoráveis.
Ninguém se lembra delas, pois seres humanos possuem
uma tendência à “parcialidade confirmativa”, como a denominam os psicólogos –
lembramo-nos de eventos que confirmam nossas crenças, mas esquecemos aqueles
que não; esta é provavelmente a razão pela qual 69% dos adultos numa pesquisa
recente disseram que acreditam em milagres.
Apesar do conhecimento realístico das relações de
causa-e-efeito vir sendo acumulado ao longo dos três séculos da era da ciência,
ele não eliminou a religião.
Alguns crentes modificam suas crenças para acomodar
a evidência, enquanto outros a reinterpretam de modo mais extraordinário (os
fundamentalistas dizem que os traços fósseis e geológicos da história da Terra
e da evolução foram feitos por Deus e plantados no chão durante os seis dias da
Criação).
A religião tem sobrevivido à vasta expansão
do conhecimento científico através da adaptação; exceto no caso do
fundamentalismo, ela minimizou a explicação em termos sobrenaturais de eventos
que podem ser mais bem explicados em termos naturais e, em lugar disso, enfocou
os fenômenos que não podem ser testados ou refutados, como a piedade de Deus, a
existência da alma e a vida após a morte.
Em conformidade, mais de 90% dos adultos americanos
ainda acreditam em Deus ou alguma forma de Ser Superior, uma grande minoria
vivenciou a sensação do renascer e apenas 10% possuem uma visão da evolução na
qual Deus não possui qualquer função.
Por que, repetindo minha questão central, as
pessoas precisão de religião? (Norton Hunt)
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