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sexta-feira, julho 19, 2024

Lyudmila Pavlichenko

  


Lyudmila Mikhailovna Pavlichenko nasceu em 12 de julho de 1916, na cidade de Bila Tserkva, localizada na Oblast de Kiev, Ucrânia, então parte da União Soviética.

Conhecida como uma das mais letais franco-atiradoras da história, ela desempenhou um papel crucial durante a Segunda Guerra Mundial, sendo creditada oficialmente com a eliminação de 309 soldados inimigos, incluindo 36 atiradores de elite e pelo menos 100 oficiais nazistas.

Há especulações de que seu número real de baixas pode ter sido ainda maior, possivelmente ultrapassando 500, o que a consagra até hoje como a franco-atiradora mais bem-sucedida da história militar.

Início da Vida e Interesse pelo Tiro

Aos 14 anos, Lyudmila mudou-se com sua família para Kiev, onde começou a demonstrar interesse pelo tiro esportivo. Ela se associou a um clube de tiro local, rapidamente se destacando como uma atiradora excepcional.

Antes de sua carreira militar, trabalhou em uma fábrica de armamentos em Kiev, o que a familiarizou com equipamentos bélicos. Em 1937, ingressou na Universidade de Kiev para estudar história, onde defendeu sua dissertação de mestrado sobre a vida de Bohdan Khmelnytsky, um líder cossaco que desempenhou um papel importante na história ucraniana.

A Segunda Guerra Mundial e a Escolha pelo Combate

Em junho de 1941, com 24 anos e no quarto ano de seus estudos universitários, Lyudmila viu sua vida mudar drasticamente quando a Alemanha Nazista iniciou a Operação Barbarossa, a invasão da União Soviética.

Determinada a contribuir para a defesa de sua pátria, ela foi uma das primeiras a se voluntariar para o serviço militar. Apesar da possibilidade de atuar como enfermeira, Lyudmila recusou categoricamente essa opção, insistindo em participar ativamente dos combates.

Após passar por um rigoroso processo de seleção, foi designada para a 25ª Divisão de Infantaria do Exército Vermelho, onde se tornou uma das cerca de 2.000 mulheres franco-atiradoras recrutadas pelo exército soviético. Dessas, apenas aproximadamente 500 sobreviveriam à guerra.

Lyudmila começou sua trajetória como atiradora de elite nas proximidades de Belyayevka, utilizando um rifle de ferrolho Mosin-Nagant equipado com uma luneta, arma comum entre os atiradores de elite soviéticos, como Roza Shanina e Vasily Zaitsev.

Sua primeira vítima confirmada marcou o início de uma carreira militar lendária. Durante cerca de dois meses e meio em Odessa, Lyudmila eliminou 187 soldados inimigos, demonstrando notável habilidade e coragem.

Combates em Sebastopol e Reconhecimento

Quando as forças alemãs tomaram Odessa, a unidade de Lyudmila foi evacuada pelo Mar Negro para Sebastopol, na Península da Crimeia, onde ela continuou a lutar em condições extremamente adversas.

Em maio de 1942, já promovida a tenente, foi condecorada por sua contagem de 257 mortes confirmadas. Sua precisão e paciência eram notáveis: Lyudmila frequentemente trabalhava com um observador, posicionando-se a 200-300 metros à frente de sua unidade, permanecendo imóvel por até 18 horas em condições extremas, como frio intenso ou calor escaldante, para evitar ser detectada.

Em junho de 1942, durante os intensos combates em Sebastopol, Lyudmila foi gravemente ferida por estilhaços de um morteiro. Após quase um mês de recuperação, sua fama já havia se espalhado, e o comando soviético decidiu retirá-la da linha de frente, temendo que sua morte pudesse ser explorada como propaganda pelos nazistas.

Em vez de retornar ao combate, ela foi enviada em uma missão diplomática para o Canadá e os Estados Unidos, onde se tornou o primeiro cidadão soviético recebido pelo presidente americano Franklin D. Roosevelt na Casa Branca.

Viagem aos Estados Unidos e Impacto Internacional

Durante sua visita aos EUA, Lyudmila foi convidada pela primeira-dama Eleanor Roosevelt para um tour pelo país, compartilhando suas experiências de combate e inspirando apoio à luta contra o nazismo.

Sua presença cativou o público americano, embora ela tenha enfrentado perguntas sexistas da imprensa, como comentários sobre sua aparência ou vestimenta, que ela respondeu com firmeza, enfatizando seu papel como soldado.

Como reconhecimento, recebeu uma pistola Colt semiautomática nos EUA e um rifle Winchester no Canadá, este último hoje exposto no Museu Central das Forças Armadas em Moscou.

Carreira Pós-Combate e Legado

Promovida a major, Lyudmila nunca mais voltou à linha de frente. Em vez disso, tornou-se instrutora de atiradores de elite, treinando dezenas de snipers soviéticos que desempenharam papéis cruciais até o fim da guerra.

Em 1943, sua bravura foi reconhecida com a Estrela de Ouro de Herói da União Soviética, uma das maiores condecorações do país, e sua imagem foi imortalizada em um selo comemorativo.

Seu rifle preferido durante a guerra foi o Tokarev SVT-40 semiautomático, que ela considerava mais versátil que o Mosin-Nagant. Após o término da guerra em 1945, Lyudmila concluiu seus estudos na Universidade de Kiev e iniciou uma carreira como historiadora.

Entre 1945 e 1953, trabalhou como assistente de pesquisas no Quartel-General da Marinha Soviética. Mais tarde, integrou o Comitê Soviético de Veteranos da Guerra, onde continuou a compartilhar sua experiência e a inspirar novas gerações. Em 1976, dois anos após sua morte, sua imagem apareceu novamente em selos comemorativos, reforçando seu status como ícone nacional.

Vida Pessoal e Morte

Lyudmila faleceu em 10 de outubro de 1974, aos 58 anos, em Moscou, vítima de um acidente vascular cerebral. Foi sepultada com honras no Cemitério Novodevichy, um dos mais prestigiosos da Rússia. Dois anos depois, em 1976, um navio cargueiro ucraniano foi batizado em sua homenagem, perpetuando seu legado.

Impacto e Relevância

A história de Lyudmila Pavlichenko transcende suas façanhas militares. Como mulher em um papel predominantemente masculino, ela desafiou estereótipos de gênero e demonstrou que coragem e habilidade não têm sexo.

Sua determinação em combater na linha de frente, sua resiliência sob pressão e sua influência diplomática durante a guerra a tornaram uma figura inspiradora. Além disso, sua trajetória destaca o papel crucial das mulheres no Exército Vermelho, muitas vezes negligenciado em narrativas históricas.

Lyudmila também foi tema de livros, filmes e documentários, como o filme russo Battle for Sevastopol (2015), que retrata sua vida e contribuições. Sua história continua a inspirar não apenas na Ucrânia e na Rússia, mas em todo o mundo, como um símbolo de bravura, sacrifício e resistência frente à adversidade.

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