Lyudmila Mikhailovna Pavlichenko nasceu em 12 de julho
de 1916, na cidade de Bila Tserkva, localizada na Oblast de Kiev, Ucrânia,
então parte da União Soviética.
Conhecida como uma das mais letais franco-atiradoras
da história, ela desempenhou um papel crucial durante a Segunda Guerra Mundial,
sendo creditada oficialmente com a eliminação de 309 soldados inimigos, incluindo
36 atiradores de elite e pelo menos 100 oficiais nazistas.
Há especulações de que seu número real de baixas pode
ter sido ainda maior, possivelmente ultrapassando 500, o que a consagra até
hoje como a franco-atiradora mais bem-sucedida da história militar.
Início da Vida e Interesse pelo Tiro
Aos 14 anos, Lyudmila mudou-se com sua família para
Kiev, onde começou a demonstrar interesse pelo tiro esportivo. Ela se associou
a um clube de tiro local, rapidamente se destacando como uma atiradora
excepcional.
Antes de sua carreira militar, trabalhou em uma
fábrica de armamentos em Kiev, o que a familiarizou com equipamentos bélicos.
Em 1937, ingressou na Universidade de Kiev para estudar história, onde defendeu
sua dissertação de mestrado sobre a vida de Bohdan Khmelnytsky, um líder
cossaco que desempenhou um papel importante na história ucraniana.
A Segunda Guerra Mundial e a Escolha pelo Combate
Em junho de 1941, com 24 anos e no quarto ano de seus
estudos universitários, Lyudmila viu sua vida mudar drasticamente quando a
Alemanha Nazista iniciou a Operação Barbarossa, a invasão da União Soviética.
Determinada a contribuir para a defesa de sua pátria,
ela foi uma das primeiras a se voluntariar para o serviço militar. Apesar da
possibilidade de atuar como enfermeira, Lyudmila recusou categoricamente essa
opção, insistindo em participar ativamente dos combates.
Após passar por um rigoroso processo de seleção, foi
designada para a 25ª Divisão de Infantaria do Exército Vermelho, onde se tornou
uma das cerca de 2.000 mulheres franco-atiradoras recrutadas pelo exército
soviético. Dessas, apenas aproximadamente 500 sobreviveriam à guerra.
Lyudmila começou sua trajetória como atiradora de
elite nas proximidades de Belyayevka, utilizando um rifle de ferrolho
Mosin-Nagant equipado com uma luneta, arma comum entre os atiradores de elite
soviéticos, como Roza Shanina e Vasily Zaitsev.
Sua primeira vítima confirmada marcou o início de uma
carreira militar lendária. Durante cerca de dois meses e meio em Odessa,
Lyudmila eliminou 187 soldados inimigos, demonstrando notável habilidade e
coragem.
Combates em Sebastopol e Reconhecimento
Quando as forças alemãs tomaram Odessa, a unidade de
Lyudmila foi evacuada pelo Mar Negro para Sebastopol, na Península da Crimeia,
onde ela continuou a lutar em condições extremamente adversas.
Em maio de 1942, já promovida a tenente, foi
condecorada por sua contagem de 257 mortes confirmadas. Sua precisão e
paciência eram notáveis: Lyudmila frequentemente trabalhava com um observador,
posicionando-se a 200-300 metros à frente de sua unidade, permanecendo imóvel
por até 18 horas em condições extremas, como frio intenso ou calor escaldante,
para evitar ser detectada.
Em junho de 1942, durante os intensos combates em
Sebastopol, Lyudmila foi gravemente ferida por estilhaços de um morteiro. Após
quase um mês de recuperação, sua fama já havia se espalhado, e o comando
soviético decidiu retirá-la da linha de frente, temendo que sua morte pudesse
ser explorada como propaganda pelos nazistas.
Em vez de retornar ao combate, ela foi enviada em uma
missão diplomática para o Canadá e os Estados Unidos, onde se tornou o primeiro
cidadão soviético recebido pelo presidente americano Franklin D. Roosevelt na
Casa Branca.
Viagem aos Estados Unidos e Impacto Internacional
Durante sua visita aos EUA, Lyudmila foi convidada
pela primeira-dama Eleanor Roosevelt para um tour pelo país, compartilhando
suas experiências de combate e inspirando apoio à luta contra o nazismo.
Sua presença cativou o público americano, embora ela
tenha enfrentado perguntas sexistas da imprensa, como comentários sobre sua
aparência ou vestimenta, que ela respondeu com firmeza, enfatizando seu papel
como soldado.
Como reconhecimento, recebeu uma pistola Colt
semiautomática nos EUA e um rifle Winchester no Canadá, este último hoje
exposto no Museu Central das Forças Armadas em Moscou.
Carreira Pós-Combate e Legado
Promovida a major, Lyudmila nunca mais voltou à linha
de frente. Em vez disso, tornou-se instrutora de atiradores de elite, treinando
dezenas de snipers soviéticos que desempenharam papéis cruciais até o fim da
guerra.
Em 1943, sua bravura foi reconhecida com a Estrela de
Ouro de Herói da União Soviética, uma das maiores condecorações do país, e sua
imagem foi imortalizada em um selo comemorativo.
Seu rifle preferido durante a guerra foi o Tokarev
SVT-40 semiautomático, que ela considerava mais versátil que o Mosin-Nagant. Após
o término da guerra em 1945, Lyudmila concluiu seus estudos na Universidade de
Kiev e iniciou uma carreira como historiadora.
Entre 1945 e 1953, trabalhou como assistente de
pesquisas no Quartel-General da Marinha Soviética. Mais tarde, integrou o
Comitê Soviético de Veteranos da Guerra, onde continuou a compartilhar sua
experiência e a inspirar novas gerações. Em 1976, dois anos após sua morte, sua
imagem apareceu novamente em selos comemorativos, reforçando seu status como
ícone nacional.
Vida Pessoal e Morte
Lyudmila faleceu em 10 de outubro de 1974, aos 58
anos, em Moscou, vítima de um acidente vascular cerebral. Foi sepultada com
honras no Cemitério Novodevichy, um dos mais prestigiosos da Rússia. Dois anos
depois, em 1976, um navio cargueiro ucraniano foi batizado em sua homenagem,
perpetuando seu legado.
Impacto e Relevância
A história de Lyudmila Pavlichenko transcende suas
façanhas militares. Como mulher em um papel predominantemente masculino, ela
desafiou estereótipos de gênero e demonstrou que coragem e habilidade não têm
sexo.
Sua determinação em combater na linha de frente, sua
resiliência sob pressão e sua influência diplomática durante a guerra a
tornaram uma figura inspiradora. Além disso, sua trajetória destaca o papel
crucial das mulheres no Exército Vermelho, muitas vezes negligenciado em
narrativas históricas.
Lyudmila também foi tema de livros, filmes e
documentários, como o filme russo Battle for Sevastopol (2015), que retrata sua
vida e contribuições. Sua história continua a inspirar não apenas na Ucrânia e
na Rússia, mas em todo o mundo, como um símbolo de bravura, sacrifício e
resistência frente à adversidade.
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