A
política e a religião, em muitos momentos da história, caminham de mãos dadas,
frequentemente manipulando as massas para beneficiar poucos em detrimento de
muitos.
Essa
parceria, seja intencional ou oportunista, explora a fé, o medo e a esperança
das pessoas, criando narrativas que justificam interesses econômicos ou de
poder.
Ao
longo do tempo, inúmeros exemplos demonstram como essas forças moldam
comportamentos e enriquecem pequenos grupos, enquanto a maioria permanece à
mercê de promessas vazias ou imposições disfarçadas de benevolência.
A Religião e a Criação de "Necessidades
"Um
caso emblemático ocorreu em Juazeiro do Norte, no Ceará, nos tempos em que
Padre Cícero Romão Batista, uma figura central no imaginário religioso
nordestino, ainda era vivo.
Conta-se
que um flandeiro, devoto fervoroso e amigo do padre, enfrentava graves
dificuldades financeiras. Desesperado, ele buscou conselhos com o religioso,
que, astuto, enxergou uma oportunidade.
Padre
Cícero sugeriu: “O dia de Nossa Senhora das Candeias está se aproximando.
Fabrique o maior número de lamparinas – ou candeeiros – que puder e encha os
quartos de sua casa com esse produto.”
O
flandeiro, perplexo, respondeu: “Mas, padre, não tenho dinheiro para comprar os
materiais.”
O
religioso, com um tom confiante, orientou: “Peça emprestado a quem puder e
prometa pagar em pouco tempo.”
No
domingo seguinte, durante a missa, Padre Cícero subiu ao púlpito e, em seu
sermão, proclamou aos fiéis: “No dia de Nossa Senhora das Candeias, em vez de
velas, tragam candeeiros sobre a cabeça durante a procissão, para honrar a
Virgem com luz e devoção.”
O
resultado foi imediato. A demanda por candeeiros explodiu, e o flandeiro não
apenas quitou suas dívidas, mas também prosperou. A “moda” pegou, e a prática
se repetiu nos anos seguintes, transformando uma sugestão religiosa em um
lucrativo empreendimento.
Esse
episódio, embora local, ilustra como a fé pode ser instrumentalizada para criar
necessidades artificiais, beneficiando poucos sob o pretexto de devoção.
A Política e as Leis de Conveniência
Na
esfera política, a manipulação segue caminhos semelhantes, muitas vezes
travestida de preocupação com o bem-estar coletivo. Um exemplo clássico no
Brasil foi a obrigatoriedade de kits de primeiros socorros e extintores de
incêndio em veículos particulares, implementada em diferentes momentos.
Essas
medidas, apresentadas como essenciais para a segurança, geraram lucros
astronômicos para fabricantes e distribuidores, enquanto motoristas arcavam com
os custos de aquisição e, em alguns casos, multas por descumprimento.
Curiosamente,
após intensos debates e críticas, a obrigatoriedade do extintor foi revogada em
2015, evidenciando que a medida não era tão indispensável quanto se
propagandeava.
Durante
a pandemia de COVID-19, outro exemplo veio à tona com a súbita valorização de
produtos como álcool em gel e máscaras faciais. O que começou como uma
recomendação sanitária rapidamente se transformou em um mercado bilionário.
Fabricantes
e distribuidores desses itens viram seus lucros dispararem, enquanto
consumidores enfrentavam preços exorbitantes e, em alguns casos, produtos de
qualidade duvidosa.
Governos
e políticos, por sua vez, muitas vezes se aproveitaram da crise para justificar
contratos superfaturados ou direcionados a aliados, como foi amplamente
noticiado em casos de compras emergenciais de equipamentos de proteção.
Outros Exemplos e Reflexões
Além
desses casos, a história recente oferece outros exemplos de como política e
religião se entrelaçam para moldar comportamentos e lucros. Durante as cruzadas
medievais, a Igreja Católica incentivava a participação em guerras santas,
prometendo salvação espiritual, enquanto nobres e comerciantes lucravam com
saques e comércio de relíquias.
Mais
recentemente, no Brasil, a ascensão de líderes religiosos com forte influência
política tem levado à criação de verdadeiros impérios econômicos, com dízimos e
doações sustentando estilos de vida luxuosos, muitas vezes em nome da
“prosperidade divina”.
Na
política, a criação de “modas” ou obrigatoriedades também se estende a setores
como o agronegócio e a indústria farmacêutica. Por exemplo, a pressão por
vacinas e medicamentos específicos durante crises sanitárias, embora necessária
em muitos casos, nem sempre é acompanhada de transparência sobre os interesses
econômicos envolvidos.
Durante
a pandemia, a corrida por vacinas contra a COVID-19 gerou contratos bilionários
para grandes laboratórios, enquanto países mais pobres enfrentavam dificuldades
para acessar doses.
Conclusão
A
aliança entre política e religião, quando usada para manipular, transforma
esperanças e temores em ferramentas de controle e enriquecimento. Seja por meio
de procissões com candeeiros, leis de conveniência ou mercados emergenciais, o
padrão se repete: poucos lucram às custas de muitos.
Cabe à sociedade questionar essas práticas, buscar transparência e reconhecer que, por trás de discursos piedosos ou promessas de segurança, muitas vezes há interesses que pouco têm a ver com o bem comum.









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