Entre as muitas inquietações
que atormentam a alma humana, poucas são tão universais e inescapáveis quanto a
consciência da brevidade da vida. Desde a Antiguidade, muitos foram os
pensadores que se debruçaram sobre essa condição inexorável, mas poucos o fizeram
com a clareza, a acidez e a profundidade de Sêneca.
Em sua obra De Brevitate
Vitae, o filósofo estoico desmonta a ilusão de que o tempo nos é escasso
por natureza. Para ele, a vida não é curta em si mesma, mas sim desperdiçada
pelos homens, que a dissipam em futilidades, ambições vãs e preocupações
insignificantes.
O problema, pois, não reside
na duração da existência, mas no mau uso que dela fazemos. Sêneca argumenta que
muitos se queixam da brevidade da vida apenas quando percebem que a
desperdiçaram.
Essa constatação tardia
evidencia uma ilusão perigosa: a crença na eternidade ou, pelo menos, na
infinita disponibilidade de tempo. O homem comum vive como se o tempo lhe
pertencesse, postergando suas prioridades e se entregando a distrações
efêmeras, apenas para, ao final, lamentar-se da rápida passagem dos anos.
O estoicismo de Sêneca
convida a um outro olhar: viver plenamente significa aproveitar conscientemente
cada instante, conduzindo a existência de forma deliberada e significativa.
A grande ironia é que,
enquanto somos avarentos com bens materiais, tratamos o tempo com negligência.
Sêneca observa que ninguém entrega sua riqueza sem relutância, mas todos
distribuem suas horas com displicência, como se estas fossem inesgotáveis.
Esse paradoxo denuncia uma
profunda falta de compreensão do valor do tempo e da efemeridade da vida. Diante
dessa realidade, a filosofia estoica propõe um remédio: a atenção plena ao
presente e a reflexão sobre a mortalidade como forma de viver melhor.
Longe de ser um pensamento
pessimista, essa perspectiva convida à ação e à sabedoria na administração da
própria existência. Se, ao invés de temer a morte, nos dedicarmos a fazer bom
uso da vida, o problema da brevidade se dissolve.
Portanto, a grande lição de Sêneca não é simplesmente a constatação da fugacidade da vida, mas a exigência de que a vivamos de forma consciente e significativa. A eternidade é uma ilusão, mas uma vida bem vivida, ainda que breve, carrega em si a plenitude da imortalidade.
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